Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral do PCP, Abertura da 34ª Festa do «Avante!»

Abertura da 34ª edição da Festa do «Avante!»

Abertura da 34ª edição da Festa do «Avante!»

Jerónimo de Sousa, na abertura da 34ª edição da Festa do «Avante!», sublinhou que a Festa reflecte o Partido que temos e somos, «expressando também aqui essa força imensa e criadora do nosso grande colectivo partidário, de um Partido Comunista que se honra de o ser não só em palavras mas na acção, no ideal, no projecto, na sua natureza e identidade».

Há 20 anos atrás, algures neste terreno da Atalaia, quando o camarada Álvaro Cunhal anunciou a abertura da 24ª edição da Festa do «Avante!», ecoou espontaneamente a palavra “É nosso!”. Um sentimento forte e emotivo de quem pisava o chão que mais do que seu era nosso, só possível de adquirir devido à contribuição de militantes e amigos do Partido e de muitos democratas.

Passadas duas décadas - em que, em todos os anos, se deu mais um passo adiante na concepção, na construção, no embelezamento e nas condições de higiene e segurança - são muitos (alguns que aqui estão ainda não tinham nascido) também a senti-la sua, nossa, pelo trabalho, pela pequena ou exigente tarefa que realizam por militância e decisão próprias traduzida de forma impressiva nesta obra colectiva alicerçada e edificada pelos valores da generosidade, do empenhamento militante, da solidariedade e convívio fraterno em que o trabalho e a arte brotam como fonte de realização humana.

A construção da Festa do «Avante!» é também, de certa forma, o exemplo de como queremos construir a vida e os valores do nosso devir colectivo.

Uma saudação a todos os que participaram nas jornadas de trabalho, mas também aos que nas suas organizações se empenharam na sua divulgação, na venda das EPs, na organização dos transportes e na responsabilização de milhares de camaradas e amigos pelo trabalho a fazer nestes três dias. Permitam-me que nesta saudação, sem nenhum critério etário, de juízo valor maior ou menor do trabalho realizado, saúde a juventude e a JCP pela sua participação, pelo seu trabalho, que mais do que garante do futuro da Festa do «Avante!» são já força indispensável para o êxito do presente.

Lembrámos a Festa de há vinte anos, mas percorrendo todo o seu percurso encetado na Festa realizada em 1976 na FIL, há uma fio condutor inquebrantável. Em tempo de avanços ou de recuos, a Festa do «Avante!» sempre renovada e rejuvenescida, fazendo frente a dificuldades e obstáculos é o que é pelo Partido que a concretiza, pelo Partido que temos e que somos, expressando também aqui essa força imensa e criadora do nosso grande colectivo partidário, de um Partido Comunista que se honra de o ser não só em palavras mas na acção, no ideal, no projecto, na sua natureza e identidade.

A nossa Festa não é dissociável da realidade onde nos inserimos, dos problemas e aspirações dos trabalhadores, do povo e do país, nem dos objectivos porque lutamos.

Vivemos num tempo de crise, em que a crise capitalista tem impacto, mas que essencialmente resulta da política de direita que nas últimas décadas vai mudando de actores mas a peça é sempre a mesma. Num tempo em que o Governo actual consegue o prodígio de poupar os responsáveis da crise e penalizar duramente quem não teve qualquer responsabilidade, usa a crise e aproveita a crise como arma de arremesso contra os trabalhadores e as populações, contra os que não têm voz nem capacidade reivindicativa, cortando abruptamente os apoios sociais e levando a que ontem e hoje milhares de pessoas estejam à porta da Segurança Social sem saber o que fazer à vida.

Chegamos a uma situação em que o aumento dos lucros dos poderosos cresce na razão directa do crescimento das injustiças e desigualdades sociais, num país mais endividado e mais dependente. Num país em que são desperdiçadas as suas potencialidades e vê atrofiado e definhado o aparelho produtivo e a produção nacional, com consequências dramáticas para a economia e para centenas de milhar de desempregados, para pequenos agricultores, empresários e comerciantes. Aplicam o “Pacto de Estabilidade e Crescimento”. Aplicam medidas adicionais, rapam nos salários, nos apoios sociais, cortam no investimento e nos serviços públicos. Mas como não resolvem a crise, há que exigir mais sacrifícios aos mesmo do costume.

O PS só não chega? O PSD dá uma ajuda para salvar a política de direita e os interesses e privilégios do capital financeiro e dos grupos económicos. Não vá o povo ganhar consciência do que defendem e quem defendem, fingem guerras verbais, divididos quanto à partilha do poder mas unidos como «unha com carne» na política a realizar. Se PS e PSD não chegam, vem o actual Presidente da República abençoar os entendimentos e acordos entre os dois. Ainda agora, com a questão da revisão constitucional em que o PSD se propõe dar mais uns golpes na Constituição da República, se verifica mais um caso de desdobramento de personalidade. O Secretário-geral do PS, José Sócrates, defende o Serviço Nacional de Saúde, a segurança no emprego, a escola pública, o princípio dos impostos progressivos consagrando na Constituição, indignando-se com o PSD pelas suas propostas destrutivas. Entretanto, José Sócrates – Primeiro Ministro vai fazendo na prática o que o José Sócrates – Secretário-geral do PS critica.

É importante o desmascaramento e a denúncia, mas o que é decisivo é lutar, trazer à luta todos os que se sentem injustiçados, transformar a indignação em acção partindo dos seus problemas concretos, dos seus direitos legítimos, da defesa dos interesses nacionais e da soberania. Na luta, lá encontrarão o PCP na linha da frente, em todos os combates que são justos e necessários, na luta pequena ou na luta grande que convirja numa torrente que arraste a lama das inevitabilidades, do conformismo, do «tenham paciência», que o Governo e os porta-vozes dos grandes interesses lançam todos os dias.

É este o caminho que pode alargar e concretizar a possibilidade da ruptura e da mudança da política nacional.

Lá estaremos com a nossa candidatura às eleições presidenciais assumida pelo camarada Francisco Lopes, candidato qualificado e identificado por uma vida dedicada à defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo, candidatura que sem equívocos se assume como patriótica e de esquerda, defensora dos valores de Abril, sustentada no nosso ideal e projecto, comprometida com a Constituição da República, solidária «sem ses, nem mas» com os trabalhadores e a sua luta, com a juventude, com todos os patriotas e democratas que anseiam por um Portugal de progresso, de justiça social, de afirmação da soberania e independência nacionais.

Lá estaremos - reforçando a nossa intervenção e organização partidária e agindo nas instituições democráticas - com propostas mostrando que é possível uma verdadeira política alternativa para Portugal.

E estaremos na luta pela paz, solidários com os trabalhadores e os povos - que fazem frente à rapina, ao belicismo e à guerra imperialista - que querem justamente construir o seu destino colectivo liberto de ingerências, ameaças e ocupações.

A Festa do «Avante!», nos seus aspectos multifacetados sob o olhar liberto de preconceitos reflectirá o que somos, o que queremos, espaço franqueado a pulsar de esperança e confiança, numa vida melhor para os trabalhadores e o povo português.

Declaramos aberta a 34ª edição da Festa do «Avante!»

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