Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral

100º Aniversário do nascimento de Soeiro Pereira Gomes

 

 

100º Aniversário do nascimento de Soeiro Pereira Gomes,
Alhandra, 7 de Maio de 2009
 

Com este comício, assinalamos o 100º aniversário do nascimento de Joaquim Soeiro Pereira Gomes – grande escritor e destacado militante comunista.

E não podíamos escolher melhor local para o fazer do que Alhandra – terra onde Soeiro iniciou a sua actividade política e literária, em estreito contacto com os trabalhadores e o povo alhandrense e com os problemas por eles vividos. Na verdade, foi aqui que ele encontrou a inspiração para a sua importante obra literária e que adquiriu a consciência política e de classe que o levaria a aderir ao Partido da classe operária e de todos os trabalhadores e de, quando foi necessário, passar a integrar o corpo de funcionários clandestinos do PCP.

Por tudo isso, são muitas e boas as razões da escolha deste local para relembrar e homenagear uma vida, uma actividade revolucionária e uma obra literária que estão indissoluvelmente ligadas à localidade de Alhandra e ao seu povo.

A vida e obra de Soeiro Pereira Gomes constituem um todo no qual está sempre presente o seu ideal de justiça social, de liberdade e de paz, e cuja perspectiva é sempre a do derrubamento do fascismo, da conquista da liberdade e da construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados.

A vivência de Soeiro Pereira Gomes em Alhandra para onde veio em 1931 - é parte impressiva da história desta localidade: a sua acção cultural e social mobilizou o povo de Alhandra e deu lugar, designadamente, a um acontecimento que teve grande repercussão na altura, a construção, pelo povo de Alhandra e para o povo de Alhandra, de uma piscina – a Charca – onde viria a nascer aquele que foi o maior nadador português de sempre, o Gineto dos Esteiros, o nosso saudoso camarada Joaquim Baptista Pereira.

Soeiro, enquanto escritor foi, em vários aspectos, um pioneiro: o seu romance «Esteiros» – uma história que nos fala do trabalho infantil, da miséria, dos dramas e aventuras de meninos explorados e que é dedicado «aos filhos dos homens que nunca foram meninos» - é um dos mais belos romances da literatura portuguesa.

«Engrenagem» é igualmente uma obra iniciadora: inspirado na sua experiência como trabalhador da Cimento Tejo, o romance «Engrenagem» é a primeira obra de ficção na literatura portuguesa a abordar a temática do mundo operário, da fábrica e do trabalho operário - e é, significativamente, dedicado «aos trabalhadores sem trabalho – rodas paradas de uma engrenagem caduca», a engrenagem do sistema capitalista explorador e opressor.

E os «Contos Vermelhos» – dedicados «aos meus companheiros – que, na noite clandestina, ateiam clarões de uma alvorada» - foram os primeiros textos de ficção a abordar a vida clandestina, a acção dos funcionários clandestinos do PCP.

Soeiro Pereira Gomes afirmou-se como construtor de uma obra literária que, não obstante ter sido abruptamente interrompida pela morte que o levou aos 40 anos de idade, ocupa lugar de primeiro plano na literatura portuguesa do século XX.

Disso nos orgulhamos, nós, militantes comunistas, herdeiros e continuadores da luta e do Partido aos quais Soeiro Pereira Gomes dedicou a sua vida. Uma luta que ele iniciou no contacto com a exploração e as brutais condições de trabalho a que eram sujeitos os operários, nomeadamente os da Cimento Tejo, uma luta que ele prossegue no trabalho da organização partidária na região do Baixo Ribatejo, uma luta que o leva a participar na reorganização de 40/41, nesse processo que se revelaria determinante como passo crucial para a construção do PCP como partido marxista-leninista e para o desenvolvimento e alargamento da actividade e da influência do Partido.

Na sequência dessa reorganização, o PCP transforma-se num grande partido nacional, com organizações em praticamente todas as grandes empresas e com uma notável capacidade de mobilização, traduzida na intensificação das lutas dos trabalhadores pelos seus direitos e interesses e contra o regime fascista.

De entre essas lutas, emerge a histórica greve de 8 e 9 de Maio de 1944, na qual o militante comunista Soeiro Pereira Gomes integra o Comité Regional da Greve do Baixo Ribatejo (podemos imaginar, camaradas, o que seria o ambiente vivido aqui na região, nessa noite de 7 de Maio de 1944 – faz hoje precisamente 65 anos - nesses momentos que antecederam a eclosão da greve: a acção corajosa desenvolvida pelos militantes comunistas, organizando, mobilizando, construindo a greve, assumindo frontalmente a sua condição de membros do Partido da classe operária e de todos os trabalhadores, sob a cerrada vigilância e perseguição das forças repressivas do fascismo).

Esta intervenção de Soeiro na preparação da greve torna-o notado pela PVDE que lhe move uma perseguição tentando prendê-lo e que só não alcança os seus intentos porque ele mergulha na clandestinidade. E assim, assumindo-se como «revolucionário profissional» (segundo a designação leninista) inicia um novo ciclo da sua vida. Enquanto funcionário clandestino, Soeiro desenvolve uma intensa actividade, designadamente nos processos de preparação dos III e IV congressos do Partido.

No IV Congresso, realizado na Lousã, em 1946, Soeiro é eleito para o Comité Central do Partido – os dados sobre efectivos do Partido revelados nesse Congresso, são bem demonstrativos dos efeitos, na força e na influência do Partido, da reorganização de 40/41, o PCP conta nessa altura com 5 000 militantes organizados e com 4 000 simpatizantes – ou seja, com 4 000 homens, mulheres e jovens que, não sendo militantes do PCP, com ele travam a luta necessária contra o inimigo comum, o fascismo (tal como hoje, na situação concreta que vivemos, milhares de homens, mulheres e jovens apartidários integram esse espaço democrático, plural, aberto a todos os sectores da esquerda interessados no combate à política de direita que é a CDU).

É já na qualidade de membro do Comité Central que Soeiro desenvolve a sua actividade virada para o reforço da unidade antifascista, com a tarefa de fazer a ligação da direcção do Partido com o MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Antifascista) e de acompanhar a actividade dos militantes comunistas que actuavam no MUD (Movimento de Unidade Democrática) – dando expressão ao esforço constante do Partido em busca da unidade e conjugação de esforços de todos os sectores antifascistas, visando o derrubamento do regime.Tarefa que Soeiro levou a cabo até ao extremo limite das suas forças, atingido pela doença que em pouco tempo lhe roubaria a vida e o roubaria do convívio e da luta com os seus camaradas.

A caminho de Espinho, onde foi sepultado por vontade da família, o carro funerário foi desviado para Alhandra cuja população veio prestar a sua derradeira homenagem ao «querido e inesquecível amigo Joaquim Soeiro Pereira Gomes».

Também hoje, aqui, um século depois do seu nascimento, sessenta anos após a sua morte – e numa altura em que comemoramos o 35º aniversário da Revolução de Abril – homenageamos Soeiro Pereira Gomes, construtor de Abril, resistente antifascista e dirigente do Partido Comunista Português, escritor talentoso, homem cuja vida e obra testemunham um profundo compromisso com a luta pela libertação dos explorados e dos oprimidos, pela liberdade e pelo socialismo.

Em comício aqui realizado por ocasião dos 50 anos da morte de Soeiro Pereira Gomes, o camarada Álvaro Cunhal disse: «Além da dedicação, da coragem, da firmeza ideológica e da sua obra literária, deixou-nos um exemplo de particular relevo num comunista, sobretudo num dirigente comunista.

Simples, modesto, dirigindo sem assomos de superioridade ou imposição, tratava os camaradas e as pessoas em geral com respeito e estima. Convivia fraternalmente com eles, ensinado e aprendendo com a vida e com os outros. São valores com os quais todos nós, na época, procurávamos aprender, e com os quais necessitamos de continuar a aprender. É um dos mais ricos elementos da herança que Soeiro Pereira Gomes nos deixou».

Podemos dizer, aqui, neste comício: estes atributos e qualidades de Soeiro Pereira Gomes, bem como o seu exemplo de luta, de dedicação e entrega ao Partido, permanecem como referências marcantes para os comunistas de hoje – referências que seguimos e seguiremos, dando continuidade à luta travada nesses tempos longínquos e difíceis.

É certo que hoje lutamos em condições bem diferentes daquelas que se depararam a Soeiro Pereira Gomes e aos que com ele honraram o Partido e o ideal comunista: o regime fascista foi derrubado com a Revolução de Abril, e com ele foram extintos os seus múltiplos e sinistros instrumentos repressivos.

No entanto, outros e grande obstáculos e dificuldades se nos deparam na situação concreta actual – obstáculos e dificuldades que, inspirados no exemplo de camaradas como Soeiro Pereira Gomes, superaremos. Que, aliás, estamos a superar todos os dias, graças à intervenção decidida, determinada e confiante do nosso grande colectivo partidário, dos milhares e milhares de militantes comunistas que, por todo o País, dão continuidade à acção de Soeiro e dos camaradas de então. De facto, tal como no passado, os comunistas de hoje continuam na primeira linha de combate em defesa dos interesses dos trabalhadores, das diversas camadas populares e anti-monopolistas do nosso povo.

Temos estado na primeira linha da frente no combate à política de direita e inquestionavelmente temos sido a principal força de oposição à desastrosa política do actual governo do PS e à sua intensa e grave ofensiva anti-social que tem conduzido à degradação sistemática das condições de vida dos portugueses. 

Tal como no passado, os comunistas portugueses estão onde os interesses dos trabalhadores e do povo o exigem, sempre ao seu lado e do seu lado, nas instituições, nas empresas, nos campos, nas pequenas e nas grandes lutas que continuam a travar em defesa dos seus interesses vitais e pela mudança por uma vida melhor.

Lutas que neste momento de grave crise económica e social assumem uma importância acrescida, perante os dramas sociais que atingem de novo milhares e milhares de portugueses, confrontados com o encerramento de empresas, o desemprego, o lay-off, a precariedade, as reduções de salários e os salários em atraso e diante da perspectiva do seu agravamento.

Estiveram lado a lado com os muitos milhares de outros trabalhadores nessa grande jornada de luta e festa que foram as comemorações do 1º de Maio realizadas pela CGTP em todo o país e que constituíram uma poderosa manifestação de força, determinação e confiança dos trabalhadores portugueses. Milhares e milhares de trabalhadores que em massa vieram para a rua, em defesa dos seus direitos, contra a política de direita do Governo PS de José Sócrates, exigir um novo rumo para o País – e manifestar a sua firme disposição de prosseguir a luta por esses objectivos.

Comemorações que, pela sua dimensão e participação, confirmaram o profundo descontentamento dos trabalhadores com a política do governo do PS e a sua inabalável vontade de contribuir para lhe pôr termo com a sua luta. Comemorações que não podem ser ensombradas, por um incidente de que se discorda e lamenta, envolvendo o candidato do PS ao Parlamento Europeu e que motivou um chorrilho inqualificável de provocações, insultos e calúnias contra o PCP, vindas do PS e repetidas e ampliadas despudoradamente por aqueles que no país tudo dominam e tudo pretendem continuar a dominar e há muito trabalham para segurar José Sócrates e o seu partido no poder.

Não é inocente a expedita leitura dos acontecimentos e toda a instrumentalização que se seguiu da sua parte, tal como não é difícil adivinhar a quem servem e para que servem. A forma como foi «tratado» o incidente e os golpes baixos que se lhe seguiram contra o PCP, apresentado como o responsável por um acontecimento com o qual nada tem a ver, não pode ser desligada da uma cada vez mais evidente operação de estigmatização do PCP, visando fazer da sua intervenção e acção uma deformada caricatura e que se vem acentuando nos últimos tempos à medida que os poderes económicos e políticos dominantes começaram a tomar consciência e a temer a crescente influência do PCP, nomeadamente no plano eleitoral.

É esse receio da crescente influência do PCP que explica os ataques procurando inverter esta situação, provenientes quer dos praticantes da política de direita quer do exército dos seus propagandistas, com o PS a enveredar pelo caminho da «vitimização» em que é velho especialista. É esse receio que explica a sanha persecutória contra o PCP que consistentemente se apresenta na sociedade portuguesa como a grande e verdadeira força alternativa e com um verdadeiro projecto alternativo à política de direita. É esse receio que explica deturpações das posições do PCP e as omissões da sua real intervenção, mas também certos silenciamentos que se articulam com enigmáticas e nebulosas “sondagens de opinião” que têm como principal objectivo influenciar e condicionar a opção do voto e não tanto reflectir uma tendência do voto do eleitorado num determinado momento. Eles sabem que as sondagens não votam mas vondicionam e influenciam!

É porque sabem que somos a força política que mais, e mais coerentemente, tem combatido a política do Governo PS/José Sócrates e mais decidida e firmemente se coloca ao lado dos interesses populares que assim agem.

É porque sabem que somos a força política que está na vanguarda do esclarecimento sobre as causas da grave situação do País e da mobilização das massas populares para a luta por uma política ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País que agem sem olhar a meios para minar a influência social, política e eleitoral do PCP.

Mas é também porque sabem – essa direita dos grandes interesses económicos e da alta finança – que os seus planos e desejos de manutenção de uma maioria absoluta do PS estão postos em causa e tudo o que tinham dado como certo e seguro é afinal incerto e problemático que jogam toda a sua influência para assegurar a continuidade da política de direita no futuro.

Jogam, por isso, e desde já em todos os tabuleiros que lhes assegurem tal objectivo. Ao mesmo tempo que acenam com a ingovernabilidade do país e com a necessidade de estabilidade governativa como o argumento último para salvar a desastrosa governação do PS, vêm já falar na necessidade de refazer o Bloco Central, juntando PS e PSD no governo de preferência como o CDS como é desejo já expresso do sr. Van Zeller presidente da Confederação dos grandes patrões e do grande capital.

De uma cristalina transparência são as palavras do senhor Van Zeller. Diz tudo com uma sinceridade tão louvável, quanto esclarecedora. O PS tem a sua  preferência, mas se o PS não ganhar, então que venha o Bloco Central, porque”não pode haver grandes guinadas” na orientação governativa. Nem precisa de confirmar que com um ou com outro ou com dois em conjunto as guinadas nunca serão grandes nem pequenas, vão sempre no mesmo sentido: - servir os interesses do grande capital económico e financeiro e penalizar quem vive do trabalho e do resultado de actividades que não ficam debaixo do chapéu protector do Estado do capital monopolista.  

O PS e o PSD podem continuar a fazer de conta que são grandes as suas divergências e até ensaiar e anunciar abissais rupturas entre ambos, copiando de outros e reformulando conceitos sem correspondência com a realidade e com as suas práticas políticas, mas na verdade não passam de tiros de pólvora seca!.

Mas o senhor Van Zeller tal como sabe escolher os amigos, não deixa de apontar o seu inimigo e demonstrar as suas simpatias, por outros, como pelo Bloco de Esquerda, que no seu ponto de vista também tem propostas interessantes.

Mas o que não é  para inglês ver e fazer de conta é o apontar do PCP como grande inimigo, cujas soluções não lhe interessam. Mal seria se lhe interessassem as soluções do PCP concebidas para defender os trabalhadores e o povo e não o grande capital.Ou era o senhor Van Zelle4r que estaria errado ou erradas seriam as nossas propostas! Eles sabem quem é que está de forma firme e consequente do lado da defesa dos interesses dos trabalhadores e do País. Nessa matéria, eles nunca se enganam!

Em relação à incensada estabilidade governativa tão glosada pelos arautos da defesa e manutenção da política de direita, os portugueses sabem bem para que serviu nestes últimos quatro anos de maioria absoluta do PS.

Não faltou estabilidade governativa com esta maioria do PS, mas tal estabilidade não livrou o país da crise, nem os portugueses da maior taxa de desemprego, da mais alta taxa de  precariedade, de um ataque sem precedentes aos seus direitos laborais e sociais, nomeadamente no direito à saúde, ao ensino e à segurança social, particularmente ao direito a uma reforma digna. Não tem faltado estabilidade governativa, mas tal estabilidade não serviu para promover uma mais justa distribuição do rendimento nacional, mas antes para atacar e desvalorizar os rendimentos do trabalho durante os seus quatro anos de mandato.

José Sócrates perante o agudizar da crise veio dizer que os trabalhadores portugueses  iriam em 2009 ter mais poder de compra com a diminuição do valor da inflação, mas não é essa a perspectiva que aí está, como acaba de confirmar o recente  relatório da Comissão Europeia. Portugal é um dos dois países aonde se prevê a redução dos salários nominais. Mais um ano a andar para trás.

É tempo de perguntar se a estabilidade governativa que os trabalhadores precisam  é aquela que promove a desestabilização da lei da selva nas relações laborais com as suas propostas de alteração do Código de Trabalho.

Os portugueses conhecem bem hoje e têm a experiência dessa amargamistura de estabilidade governativa com política de direita que serviu para desestabilizar a vida a milhões de portugueses, em resultado da brutal ofensiva que tal estabilidade propiciou.

Não! Não é esta a estabilidade governativa que os portugueses e o país precisam! Tal como não precisam das soluções que se preparam para continuar a mesma política que conduziu e está a conduzir o país ao desastre económico e social. Desastre que está cada vez mais à vista em todos os domínios da vida dos portugueses e que a própria Comissão Europeia, agora vem confirmar com as novas previsões para a economia portuguesa.

Termos em perspectiva a crise mais profunda e mais duradoura de sempre – uma crise para a qual o Governo só tem uma «solução», a única que sabe e conhece: aumentar a exploração dos trabalhadores em benefício do grande capital, ou seja, «sair da crise» alimentando as causas reais da crise.

Cada semana que passa e cada previsão que aparece sobre a evolução da situação económica e social do país, a perspectiva que se apresenta é a do aprofundamento da crise e do agravamento da recessão económica que é cada vez mais preocupante com a previsão de mais 100 000 desempregados para o presente ano, em relação a 2008.

Este é o rumo que o país segue com as actuais políticas do Governo do PS de José Sócrates. A situação que se vive evidencia quanto erradas foram e são as opções deste governo e dos governos que o precederam em relação aos problemas fundamentais do seu desenvolvimento.

Esta evolução mostra a incapacidade do governo para responder à grave crise que o país enfrenta. Uma crise que não é apenas resultado da crise do capitalismo mundial, mas que lhe é anterior, como até a própria Comissão Europeia o confirma no seu relatório.

Tentam, aqueles que governaram o país todos estes anos, convencer os portugueses que não têm responsabilidades com a crise estrutural que o país enfrenta, mas a situação mostra e as previsões que apontam para um ainda maior prolongamento da recessão económica no nosso país desmentem-no. As manobras que estão em curso para assegurar uma solução governativa que sirva os interesses do grande capital, incluindo a solução do Bloco Central, têm um objectivo subjacente: - relançar após as eleições uma mais brutal ofensiva contra os trabalhadores e os direitos e condições de vida do povo português.

Não tenham dúvidas aqueles que nos ouvem! Passadas as eleições, a manter-se a actual correlação de forças eleitorais o que se prepara é a apresentação de uma gravosa factura ao povo português, com novos impostos para as camadas populares, novos cortes nas funções sociais do Estado, novas ofensivas contra os seus direitos sociais e contra os salários e reformas. 
É isso que já vão dizendo entre dentes, como uma inevitabilidade perante a crise. Não dizem abertamente porque precisam dos votos do povo! Precisam dos votos daqueles que eles querem castigar ainda mais!

É perante esta realidade e face à perspectiva que se desenha que a grande resposta que se impõe dar na presente situação e no imediato é  intervir ainda com maior intensidade na campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, levando mais e mais longe a mensagem do PCP, mobilizando para o voto na CDU e fazendo da Marcha da CDU de 23 de Maio - a grande Marcha de Protesto, Confiança e Luta – por uma nova política e uma vida melhor, uma grande afirmação da necessidade de ruptura e mudança na situação do país.

Daqui apelo a todos os que se sentem atingidos no quotidiano das suas vidas pela desastrosa política do actual governo que se integrem nessa grande marcha, cujo êxito contribuirá, juntamente com o reforço da CDU para abrir o caminho à construção de uma alternativa de esquerda para o país. Apelo extensivo aos muitos milhares de eleitores e a todos os desiludidos do rotativismo e aos desencantados com as falsas e gastas alternativas a quem nos dirigimos para lhes dizer que é tempo de em conjunto trabalharmos para construir uma verdadeira alternativa à esquerda para que se retome a esperança e a confiança num Portugal com futuro e numa vida melhor para os portugueses.

As batalhas políticas e eleitorais que temos pela frente constituem um momento e uma oportunidade para abrir caminho a um futuro melhor para o país e para os portugueses, para afirmar uma outra alternativa à fracassada política de direita. A primeira batalha é já no próximo dia 7 de Junho com as Eleições para o Parlamento Europeu.
 
O PS acha-se o representante exclusivo dos portugueses na União Europeia. Falam da  Europa como se fossem apenas eles os europeus de excelência e os outros europeus de segunda sem direitos e sem vontade própria. Em todas as esquinas insinuam nos seus cartazes que a Europa é deles ou eles são a Europa ou que têm o exclusivo de Partido da Europa. É bom que se lhes diga: não tentem dividir os portugueses entre europeus e não europeus. A Europa não é uma coutada do PS ou do PSD.

Aos que propositadamente lançam a confusão entre o seu projecto de União Europeia e o conceito de Europa queremos relembrar que Portugal e os portugueses foram, são e serão europeus, independentemente das opiniões que tenham sobre o actual rumo da integração europeia.

São europeus quando desenvolvem a luta contra as tentativas do PS, do PSD e do CDS/PP  - e das suas respectivas famílias políticas europeias - de destruir conquistas históricas do movimento operário na Europa. Falam de nós simplesmente europeus, mas a sua Europa, a União Europeia que defendem e concebem é a dos grandes monopólios contrária aos interesses dos trabalhadores e dos povos. A sua Europa é a do directório das grandes potências, das mesas de decisão restritas e paralelas, dos que tudo mandam e tudo podem à margem das necessidades de desenvolvimento e dos direitos dos povos.

Essa definitivamente não é a nossa Europa. A nossa Europa, não é sua União Europeia da “Estratégia de Lisboa”, da liberalização e privatização dos serviços públicos, do colete-de-forças do Pacto de Estabilidade, do fundamentalismo monetarista do BCE e da financeirização da economia.  A nossa Europa não é a sua União Europeia da liberalização selvagem dos mercados, da regulação por baixo dos direitos laborais e sociais para acentuar a exploração, da flexigurança e da directiva do tempo de trabalho, das ruinosas e destruidoras políticas agrícola e de pesca comuns.

Essa não é a nossa Europa, porque a nossa Europa nunca poderá ser construída contra os trabalhadores e os povos. É lamentável que só se lembrem que os portugueses são europeus quando se trata de eleger deputados ao Parlamento Europeu. Quando os portugueses queriam dar opinião sobre o Tratado de Lisboa o PS e o PSD calaram-nos e recusaram o referendo, depois de o terem prometido antes das eleições.

Lamentam que os portugueses participem pouco nas questões europeias, mas só agora. Nós também pensamos que os portugueses devem participar mais e votar. Mas votar para penalizar aqueles que impediram os portugueses de se pronunciar sobre o Tratado de Lisboa e punir aqueles que conduziram o país à crise. Quando os portugueses quiseram votar em referendo sobre o Tratado de Lisboa, os deputados do PS e do PSD proibiram-nos de o fazer. É por isso que é justo dizer: - aqueles que não escutam os portugueses, que atacam os seus direitos, que sistematicamente não os deixam pronunciar-se sobre o futuro de Portugal e o modo como se insere na Europa, não merecem o voto dos portugueses. Nunca como agora se impôs mudar de rumo em Portugal e na Europa. Nunca como hoje se impôs a necessidade da ruptura com as políticas de centralização e concentração da riqueza e de ruína nacional e dos povos.
 
Portugal precisa de outro governo e de uma nova política! Por isso dizemos aos trabalhadores, ao povo português apoiem este Partido, apoiem a CDU e verão que é possível construir um país desenvolvido e justo que vá ao encontro das necessidades e aspirações do povo português.

É perante esta realidade que o voto na CDU, penalizando aqueles que em Lisboa, Bruxelas ou Estrasburgo, concebem, defendem e executam o actual modelo de integração europeia, é a melhor arma que nas eleições para o Parlamento Europeu os portugueses têm para abrir o caminho à mudança e à esperança numa vida melhor.

O voto que afirma a soberania e a independência nacionais como parte integrante de um projecto de desenvolvimento do país que não prescinde da defesa dos interesses do país, da sua produção, dos trabalhadores e do povo. O voto que defende uma Europa de cooperação entre Estados iguais e soberanos e não aceita o papel de país subalterno face às grandes potências. O voto em quem fez um trabalho sem paralelo no Parlamento Europeu e em Portugal, seja na quantidade de trabalho produzido seja, e sobretudo, na qualidade desse mesmo trabalho. O voto na recusa de benefícios pessoais e em gente que honra os seus compromissos e a palavra dada. O voto que dá coerência ao protesto, porque o voto da CDU é o voto que se projecta para lá das eleições, que conta para as lutas futuras contra as injustiças e que dá força à exigência da ruptura com a política de direita e por uma nova alternativa.

A CDU – a única força cujo reforço eleitoral e político pode pôr fim à alternância e abrir portas à construção de uma alternativa política e que quanto mais pesar em votos e mandatos, mais peso terá uma política de esquerda! Como temos vindo a afirmar pode dizer-se que na CDU reside a força que junta, que une e torna mais próxima a possibilidade duma ruptura com a política de direita para prosseguir e concretizar Abril de novo retomando os caminhos que assegurem um futuro de progresso e desenvolvimento para Portugal. 
Nesta terra de luta antifascista, de luta democrática, de luta de Abril, queremos afirmar: seja qual for o resultado das eleições, já no próximo dia 7 de Junho, lá estaremos no dia seguinte na linha da frente e no combate contra as injustiças e a exploração, lá estaremos na luta por uma vida melhor! Mas os trabalhadores e o povo português tem de saber agora que quanto mais força e mais votos tiver a CDU, mais forte será a sua luta! Mais próxima fica a possibilidade de encarar o futuro com mais esperança e confiança num Portugal mais justo e democrático!

Em nome dos homens que nunca foram meninos, mas também em nome dos meninos de hoje para que possam ser homens e mulheres mais livres e com uma vida mais digna no futuro que aí vem!