1º Maio - 120 Anos Contra a exploração pelos direitos dos trabalhadores pelo progresso social

Comemoram-se os 120 anos do 1º de Maio como Dia Internacional dos Trabalhadores.120 anos de uma incessante, dura e heróica luta dos trabalhadores de todo o mundo pelos direitos e pela emancipação do trabalho, por uma sociedade em que o trabalho, finalmente livre da exploração, constitua a realização plena das capacidades criadoras do ser humano.120 anos de fulgurantes avanços, de dolorosos recuos, de tenaz resistência dos trabalhadores. Enquanto persistir a exploração, nenhuma conquista dos trabalhadores é definitiva ou está segura. O 1º de Maio e as suas palavras de ordem universais foram historicamente construídos sob a mais violenta repressão, ao preço de incontáveis lutas, sacrifícios, vidas perdidas. Consolidou-se a cada avanço dos povos na conquista das liberdades. Sofreu e sofre recuos de cada vez que as circunstâncias históricas permitem ao grande capital passar à ofensiva.Em 120 anos, o 1º de Maio tornou-se a mais alta bandeira da afirmação universal dos direitos do trabalho e do internacionalismo de combate contra a exploração capitalista.
I

Alguns elementos da história do 1º de Maio

A proclamação do 1º de Maio como Dia Internacional dos Trabalhadores está directamente associada a uma reivindicação fundamental na luta contra a exploração: a luta pela fixação de um limite de 8 horas para a jornada de trabalho diária.

Os “Mártires de Chicago”

As oito horas de trabalho são reivindicadas quase em simultâneo pela National Labour Union nos EUA e pela I Internacional no seu Congresso de Genebra, em Setembro de 1866. No decurso das décadas seguintes numerosas e importantes lutas de massas assumem essa reivindicação, com particular destaque para os operários mineiros e trabalhadores ferroviários nos EUA. Em 1885 organizações dos trabalhadores dos EUA decidem convocar uma greve para o dia 1º de Maio de 1886 como forma global de luta pelas oito horas. No período que mediou entre a convocatória e o dia 1º de Maio de 1886 assiste-se a um impressionante ascenso das lutas e do movimento organizado dos trabalhadores e, de igual modo, um recrudescimento da repressão e da provocação patronal. O 1º de Maio em Chicago reúne uma manifestação de dezenas de milhar de trabalhadores em greve. Em muitas empresas verifica-se uma brutal repressão policial. A 4 de Maio, no decurso de um comício de solidariedade com os trabalhadores de uma empresa onde a repressão provocara numerosos mortos e feridos graves é lançada uma bomba para o meio do público. Em resultado desta provocação vários polícias e quatro trabalhadores são mortos.

Este acontecimento é o pretexto final para o patronato desencadear a repressão generalizada contra o movimento operário. Quadros sindicais são condenados à prisão e a trabalhos forçados. Oito, que ficarão para sempre conhecidos como os “mártires de Chicago”, são condenados num julgamento fantoche como principais responsáveis pelos acontecimentos de 4 de Maio. Destes, quatro são enforcados a 11 de Novembro de 1887.

A proclamação da II Internacional

Em homenagem aos “mártires de Chicago” o Congresso fundador da II Internacional, reunido em Paris a 14 de Julho de 1889 (primeiro centenário da Revolução Francesa) propôs a proclamação do 1º de Maio com Dia Internacional do Trabalhador “Será organizada uma grande manifestação internacional numa data fixa de modo a que, em todos os países e em todas as cidades em simultâneo, num mesmo dia, os trabalhadores reclamem dos poderes públicos a redução legal da jornada de trabalho, e a aplicação das outras resoluções do Congresso Internacional de Paris.Tendo em conta que uma tal manifestação foi já convocada para o 1º de Maio de 1890 pela American Federation of Labour, no seu congresso de Dezembro de 1888 em St Louis, é esta a data adoptada para a manifestação internacional.”.

A partir de então o dia 1º de Maio ficou para sempre associado à luta dos trabalhadores. Do mesmo modo que foi ampliando a sua expressão política, como dia de afirmação do internacionalismo proletário; de reclamação do sufrágio universal; de resistência contra a guerra e a opressão colonial; de afirmação do direito à organização política autónoma da classe operária.

A adesão universal a essa jornada de combate ampliou-se sobretudo a partir das grandes lutas operárias de finais do séc. XIX e início do séc. XX nos países mais industrializados, tanto na Europa como nos EUA e Canadá, e igualmente em poderosos movimentos na América Latina, com destaque para a Argentina e o Chile. Lutas que, à época, mobilizavam os sectores operários mais numerosos (mineiros, metalúrgicos, ferroviários, têxteis, madeireiros). A bandeira das oito horas de trabalho diário avança a par do processo de constituição de fortes organizações e confederações sindicais combativas e de classe. Chega à África do Sul e à Ásia, sendo o 1º de Maio celebrado pela primeira vez na China em 1920 e na Índia em 1927.

Em diversos países, desde o início do séc. XX, o 1º de Maio representa um marco histórico fundamental: é nesses termos que Rosa Luxemburgo se refere ao 1º de Maio de 1905 em Varsóvia, e Lénine se refere ao 1º de Maio de 1913 em S. Petersburgo, que considera um momento decisivo no desenvolvimento da situação revolucionária na Rússia

O 1º de Maio em Portugal

Também em Portugal as comemorações do 1º de Maio assumem o mais relevante significado histórico.

Logo em 1890, o primeiro ano da sua realização internacional, os trabalhadores assinalaram o 1º de Maio. As primeiras acções assumiram em geral uma dimensão limitada no que diz respeito à expressão de massas. Mas mesma com as formas então adoptadas (piqueniques de confraternização, discursos, romagens aos cemitérios em homenagem aos operários e activistas caídos na luta), constituíram um importante elemento de construção da consciência de classe e da solidariedade proletária.

Com a evolução qualitativa verificada no sindicalismo português no final da Monarquia, transformando-se num sindicalismo combativo, reivindicativo e revolucionário, evolução consolidada e ampliada durante a Primeira República, o 1º de Maio adquiriu também características de acção de massas e de dia de luta.

É por ocasião do 1º de Maio que em 1919, após algumas das mais gloriosas lutas dos trabalhadores portugueses, que é conquistada e consagrada na lei a jornada de oito horas de trabalho diário, e descanso ao domingo, para os trabalhadores do comércio e da indústria.

Durante a ditadura fascista, e apesar da supressão de todas as liberdades fundamentais incluindo a liberdade sindical, o direito de greve e de manifestação, os trabalhadores souberam sempre encontrar, mesmo sobre a mais feroz repressão, as formas apropriadas de fazer o seu 1º de Maio. Muitas vezes com acções simples mas mesmo assim arriscadas, carregadas de simbolismo, outras vezes conseguindo desencadear greves e fortes acções de massas.

Com a reorganização do PCP em 1929 e a criação da CIS – Comissão Intersindical em 1930 com a finalidade de lutar pelo cumprimento da lei do horário de trabalho e contra o desemprego, criaram-se as condições para um grande 1º de Maio em 1931, que teve como principal palavra de ordem a luta contra a ditadura.

Mas é sobretudo a partir da reorganização do PCP de 1940-41 que o movimento operário português desenvolve as condições orgânicas, de mobilização e de direcção política capazes de sustentar, durante quase quatro décadas, amplos movimentos reivindicativos e de massas que afrontaram directamente o regime fascista.

Nem a repressão feroz nem os artifícios do fascismo (que tentou tornar o 1º de Maio o “dia do Lusito”) foram capazes de impedir que todos os anos, de uma forma ou de outra, os trabalhadores portugueses realizassem o 1º de Maio de classe e internacionalista.

O 1º de Maio de 1962

De todas as lutas travadas durante o fascismo por ocasião desta data histórica, as greves e as manifestações realizadas em 1962 - um ano após o início da guerra colonial em Angola - são provavelmente das mais relevantes. Neste período, apesar das proibições e da repressão, estiveram em luta os pescadores, os corticeiros, os telefonistas, os bancários, os trabalhadores da Carris e da CUF. No dia 1º de Maio, em Lisboa e milhares noutros pontos do país.

A manifestação de Lisboa em particular representa, pela sua dimensão e combatividade, um dos momentos mais altos da luta dos trabalhadores nas ruas contra a repressão fascista. A concentração ocupou o Terreiro do Paço, avançou pelas ruas da Madalena, Augusta, Ouro e Prata, defrontou os cordões da polícia e as suas rajadas, ocupou o Rossio, onde respondeu à pedrada às bastonadas e disparos da polícia. Centenas de manifestantes são presos e/ou feridos e é assassinado a tiro o jovem comunista Estevão Gil. Os manifestantes reagem com bravura aos ataques. A confiança das massas nas suas próprias forças ganhou nesse dia um enorme impulso.

Foi a partir desse ano, como afirmou Álvaro Cunhal, que o 1º de Maio se assumiu como a mais importante jornada nacional de luta contra o fascismo, secundarizando as celebrações do 5 de Outubro, numa clara confirmação de que a classe operária assumira definitivamente a vanguarda da luta contra o regime.

Ficarão como marco indelével na história do operariado português as lutas dos assalariados agrícolas dos campos do Sul, que tiveram o seu grande impulso no 1º de Maio deste ano. Mais de 200 mil operários agrícolas que até então eram regulados pela jornada de trabalho feudal, de sol a sol, participaram nas greves realizadas, e impuseram aos agrários e ao Governo fascista a jornada de 8 horas de trabalho diário.

O 1º de Maio e a Revolução de Abril

Se o 1º de Maio se afirmou como a mais poderosa jornada de resistência antifascista, também constituiu, de entre os dias que se seguiram ao 25 de Abril, a mais impressionante jornada de massas de toda a nossa história.

No dia 1º de Maio de 1974 o povo português nas ruas confirmou o rumo popular e democrático do levantamento iniciado pelos militares de Abril, e contribuiu de forma decisiva para a transformação do levantamento militar em processo revolucionário.

Em poucos dias, todos os direitos e liberdades fundamentais foram repostos e começaram a ser exercidos. O salário mínimo nacional, que não existia, foi instituído ainda nesse mês de Maio, abrangendo mais de 50% dos trabalhadores, em muitos casos com aumentos dos seus salários para o dobro do que ganhavam até aí. E nos contratos colectivos conquistados nos tempos que se seguiram, novas reduções da jornada de trabalho e numerosos novos direitos vieram a ser consagrados.

O 1º de Maio na resistência contra a política de direita

Após o 25 de Novembro de 1975, no refluxo do processo revolucionário, quando a luta dos trabalhadores já não era a dos avanços progressistas constantes e acelerados - como o foram as nacionalizações e a reforma agrária – mas da organização da resistência, volta novamente a repressão sobre as manifestações. A partir de 1979 o histórico Estádio 1º de Maio deixa de ser cedido à CGTP para a realização do Dia do Trabalhador.

Apenas oito anos passados sobre o 25 de Abril, é no auge da luta contra a recuperação capitalista e latifundista, de defesa da unidade e de combate ao divisionismo sindical, de luta pela salvaguarda dos direitos e conquistas de Abril que tem lugar o 1º de Maio de 1982, um mais sombrios realizados no nosso país.

Foi antecedido pela mobilização de mais de 800 mil trabalhadores em luta pelos seus contratos colectivos de trabalho e pela fortíssima Greve Geral de 12 de Fevereiro, num quadro de poderoso afrontamento entre as forças do trabalho e a reacção patronal, apoiada então no Governo da AD. Sentindo-se acossada pela pujança da movimentação dos trabalhadores a direita recorre, com a ajuda dos divisionistas da UGT, à provocação e à violência para a tentar travar nas vésperas do 1º de Maio.

O Governo tentou ilegalmente proibir as manifestações do Porto no seu local histórico. Na já tradicional festa de 30 de Abril, mantida pelos sindicatos, monta na Baixa do Porto um aparato policial que investe à bastonada e a tiros de rajada sobre milhares de trabalhadores concentrados. Dois operários foram mortos a tiro, dezenas de outros foram feridos, muitos em estado grave.

A resposta dos trabalhadores foi dada no dia seguinte. O 1º de Maio de 1982 foi uma das mais grandiosas expressões colectivas de luto, protesto, solidariedade e de defesa da liberdade de manifestação.

Nos já longos anos de resistência contra a política de direita, não há ano em que a realização do 1º de Maio não tenha constituído uma poderosa manifestação de unidade, determinação e combatividade dos trabalhadores portugueses em defesa dos seus direitos, do regime democrático e da Constituição de Abril, momento em que a luta dos trabalhadores converge na poderosa afirmação de reivindicações fundamentais. É assim, nomeadamente, no lançamento, no 1º de Maio de 1989, da reivindicação do horário de trabalho de 40 horas semanais em cinco dias, luta que se prolonga nos anos seguintes contra as manobras do patronato, do Governo e da UGT no sentido de contrabandear, através da redefinição do horário de trabalho e duma falsa consagração das 40 horas, a “flexibilidade” e a “polivalência”, e a intensificação e prolongamento da jornada de trabalho. Luta vitoriosa que o 1º de Maio de 1998 celebra, ao mesmo tempo que anuncia a luta pela redução futura da semana de trabalho para as 35 horas. É assim igualmente nos 1º de Maio desde 2003 na luta contra o “Pacote Laboral” do Governo PSD/CDS-PP e contra a sua revisão para pior pelo Governo PS/Sócrates.

II

Uma luta que continua

É certo - e não deve ignorar-se - que muito mudou na situação dos trabalhadores nestes 120 anos. Não apenas em muitos países foram conquistados importantes direitos e garantias, como cresceram e ganharam influência grandes organizações independentes dos trabalhadores e da classe operária.

120 anos de profundas transformações históricas, de avanços, retrocessos, determinação e confiança

Milhões de seres humanos conquistaram direitos e dignidade e uma importante parte da humanidade viveu as experiências de uma sociedade não determinada pela exploração do homem pelo homem, a sociedade socialista. Experiências cujas derrotas abriram caminho a um doloroso retrocesso histórico, mas que não podem ser apagadas da consciência dos trabalhadores e dos povos que o capitalismo condena à pobreza, à opressão e ao atraso e que constituem elemento essencial para a sua mobilização.

Hoje, no nosso país e no plano mundial, persistem e em alguns casos agudizam-se razões para a luta. E, em aspectos essenciais, continuam a ter como um dos eixos principais o horário de trabalho. O patronato, que nunca se conformou com a jornada de oito horas e a semana de cinco dias, recorre a todos os meios, legais e ilegais, para intensificar a exploração dos trabalhadores e alargar o horário de trabalho.

A luta pela redução do horário de trabalho diário permanece central

Há um século, nos países industrializados, os trabalhadores exigiam oito horas diárias e um dia de descanso por semana, ao Domingo. Hoje, em países desenvolvidos, existem em regra horários máximos de oito horas e cinco dias de trabalho por semana, e os trabalhadores exigem, e em alguns casos já obtiveram, 7 horas diárias em cinco dias semanais.

Mas não só há ainda em muitos pontos da Terra milhões de pessoas a trabalhar 10, 12, 14 e mais horas diárias, como nos próprios países desenvolvidos se verificam situações de autêntica escravatura e cresce, por todo o mundo, um colossal exército de milhões de desempregados, de seres humanos condenados à mais extrema miséria.

O grande capital, sempre que consegue desequilibrar mais a correlação de forças a seu favor, como acontece em grande parte do mundo na situação actual, pressiona com esse mesmo desemprego e precariedade no trabalho, agita o espantalho da “crise” que ele próprio provocou, volta a pôr em causa direitos e conquistas adquiridos pelos trabalhadores.

Para o capitalismo, as suas crises são oportunidades para intensificar a exploração e enfraquecer a força dos trabalhadores

É o que acontece actualmente com a chantagem para o congelamento e a redução dos salários, sob as mais diversas formas, e com a questão fulcral da duração e da organização do horário de trabalho.

No Código de Trabalho aprovado pelo Governo PSD/CDS-PP e posteriormente piorado pelo Governo PS/Sócrates foi introduzida a caducidade dos contratos colectivos de trabalho. Embora em média semestral, como referência, se tivessem mantido os mesmos limites de duração, o código introduziu a possibilidade de o horário semanal, em vez das 40 horas semanais em vigor, poder agora chegar às 50 - e mais 2 horas por dia; ou ainda, se estabelecidas em contratação colectiva, poder chegar às sessenta semanais; 14 horas diárias. A que se poderão acrescentar mais 2 horas extraordinárias se realizadas por razões de «força maior». Se acrescentarmos mais duas horas, quando não mais, que os trabalhadores gastam nas deslocações entre casa e o local de trabalho, estariamos, nestas circunstâncias, com horários diários de duração idêntica ás do século XIX.

Esta chamada adaptabilidade do horário de trabalho tem no mínimo como consequência a destruição da fórmula estável das 40 horas semanais e 8 diárias, e o descanso ao sábado e ao domingo, com início e termo do período normal de trabalho diário a uma hora certa.

É uma adaptabilidade que tem em conta apenas os interesses exclusivos da empresa, que pode dispor do tempo do trabalhador sempre que quer e quando quer, descurando completamente as necessidades que este tem de duma forma previsível poder organizar a sua vida particular e familiar.São muitos e diversificados os métodos que o patronato utiliza para prolongar a jornada: o trabalho a tempo parcial; o contrato ao dia e à hora, sem dia de descanso ou férias, de que são principais vitimas os emigrantes; o desconto das pausas na contagem do tempo de trabalho; a introdução de intervalos desmedidos e numerosos na organização do horário; as falsas isenções de horário de trabalho, ou as horas extraordinárias não pagas.

Estas situações não se verificam apenas nos sectores primário e secundário. Verificam-se igualmente nos serviços, como sucede na banca, onde, segundo a denúncia de um activista sindical, o sector financeiro em Portugal devia aos trabalhadores 10 milhões de horas de trabalho não pago. O equivalente a 65 milhões de euros, e a 6 mil postos de trabalho.

O trabalho por objectivos sucessivos, forma moderna da «empreitada» e pior ainda, o medo de não ser promovido, de perder o prémio ou o emprego, empurram os trabalhadores dos bancos e de outras empresas, incluindo os quadros intermédios, para o prolongamento do horário diário, e até para o trabalho aos sábados e aos domingos, sem remuneração.

O patronato encerra, extingue, cinde ou deslocaliza empresas, onde as convenções colectivas conquistadas garantem melhores condições de trabalho, para constituir outras fora do âmbito de aplicação daquelas condições. Com menos direitos, com horários organizados sem qualquer consideração para com as necessidades dos trabalhadores e das suas famílias.

É o próprio Governo a dar o exemplo. Na chamada reorganização da administração pública transforma hospitais e outros serviços públicos em empresas ou institutos privados, e faz contratos individuais para os trabalhadores que entram de novo, com menos direitos; fixando-lhes um horário de 40 horas semanais em vez das 35 horas a que vigoram para os trabalhadores que, exactamente nos mesmos serviços, se regem pelas condições legais que se aplicam à função pública. Abrindo assim o caminho, a médio prazo, para o aumento da jornada para todos os trabalhadores.

A intensificação da ofensiva do grande capital

A situação que o país enfrenta hoje e com que estão confrontados milhões de portugueses, reflectindo os efeitos da crise do capitalismo e o aprofundamento da integração europeia, tem na política de direita um factor de agravamento. A liquidação da capacidade produtiva, a profunda regressão social e as gritantes desigualdades que percorrem o país têm rosto e responsáveis. PS, PSD e CDS convergem e sustentam uma política que não só não dá resposta aos problemas do país como acentua o desemprego, a precariedade, os baixos salários e pensões, ao mesmo tempo que promove a acumulação de milhões de euros por parte dos grandes grupos económicos e financeiros.

O Orçamento de Estado e o PEC e as desastrosas opções neles contidas, impondo o congelamento de salários, a redução do investimento, a privatização de serviços e empresas públicas, a par da manutenção de volumosos privilégios e regalias para o grande capital que lhes permita acumular lucros e benesses, em oposição à exigência de mais sacrifícios e uma vida pior para os trabalhadores e o Povo, são políticas e opções que no fundo, levam o país à instabilidade e retrocesso social, declínio económico, um país mais empobrecido e atrasado.

O Governo PS e o grande capital tentam apresentar como inevitável uma política que, ditada pela alienação de sectores estratégicos e pela liquidação da capacidade produtiva, só tem para oferecer como alternativa ao país maiores injustiças, mais desemprego, acentuado empobrecimento dos trabalhadores e da população.

Políticas de direita que, em nome dos sacrifícios que pretende impor aos trabalhadores e ao povo e das garantias que quer assegurar ao capital financeiro e grupos económicos, se traduziria, a sua concretização, que no final de 2013 a situação económica e social seria ainda pior.

O aval e o apoio da Comissão Europeia, da OCDE ou do FMI a estas políticas é em si mesmo expressão do seu carácter de classe e da sua obediente inserção na premeditada estratégia de aumento abrupto e brutal da taxa de exploração enquanto solução clássica do sistema capitalista para responder à crise.

As medidas aplaudidas pela União Europeia são parte integrante dos instrumentos contidos nos tratados e nas políticas comuns destinados a esmagar direitos laborais e sociais e a confluir numa estratégia de ainda maior concentração de poder económico e político e de destruição do que resta da soberania dos Estados.

A ofensiva ideológica contra o 1º de Maio

Desde o momento em que o congresso fundador da II Internacional proclamou o 1º de Maio como Dia Internacional do Trabalhador que se desencadeou a ofensiva do grande capital contra essa jornada de luta. Através da proibição na lei da organização e da acção dos trabalhadores, da repressão policial e militar, da provocação e do divisionismo. E, igualmente, através da ofensiva ideológica, procurando diluir e desvirtuar os objectivos de combate que são parte integrante do 1º de Maio.

A celebração do 1º de Maio antes de esse dia ser conquistado como dia feriado em muitos países (em Portugal essa consagração tardou 85 anos) teve sempre o significado de uma paralisação geral do trabalho. É um dia de convergência das lutas dos trabalhadores, e é nessa luta que reside a sua força e o seu significado fundamental. Por isso o patronato, com a ajuda do sindicalismo conciliador, procurou diluir esse aspecto essencial desta jornada, tornando-a - onde não podia reprimi-la - em jornada “de descanso” e de “recreação” e, como foi tentado em diversas ocasiões, remetido para o domingo seguinte, para a separar da paralisação do trabalho.

Outro elemento de desvirtuação consiste na tentativa de “despolitizar” as lutas e as reivindicações dos trabalhadores e, portanto, o 1º de Maio. No “Manifesto”, Marx e Engels sublinham o essencial: toda a luta de classes é uma luta política. Se os trabalhadores que se deixassem embalar pelas tentativas de “despolitização” da sua luta estariam a aceitar entrar desarmados num combate em que o adversário trava uma luta política de vida ou de morte: a da vida ou da morte de um sistema que tem no seu cerne a exploração implacável do trabalho. O Portugal de Abril que tem uma das suas mais sólidas raízes no 1º de Maio revolucionário de 1974, tem aí o testemunho inesquecível de que o 1º de Maio é sempre, necessariamente, luta e acção política.

Outro elemento de desvirtuação consiste na sobrevalorização dos aspectos comemorativos e festivos do 1º de Maio e na diluição das suas reivindicações fundamentais, que são as do trabalho, num conjunto de reivindicações “transversais” e desprovidas de sentido de classe. É natural que no 1º de Maio os trabalhadores celebrem com alegria e em festa a expressão viva da sua força colectiva e da sua solidariedade de massas. E é igualmente natural que reivindicações que não se situem estritamente no plano da luta dos trabalhadores procurem alcançar projecção junto da massas populares. Mas o 1º de Maio é acção dos trabalhadores voltada para o futuro, é a jornada internacional da solidariedade dos trabalhadores na luta pela sua emancipação. É sobre a centralidade dessa emancipação, e não diluindo-a, que todas as outras mudanças sociais terão condições para ser alcançadas.

O grande capital escolheu o caminho da intensificação da ofensiva global contra os trabalhadores e os povos. Os direitos dos trabalhadores, ao contrário do que tenta inculcar o grande capital, são condição do desenvolvimento e constituem base essencial de uma democracia avançada. A necessária resposta dos trabalhadores e dos povos em cada país será tanto mais forte quanto melhor incorpore, como a luta de há 120 anos, uma combativa solidariedade internacionalista. A convicção de que, se a colossal massa humana dos explorados convergir numa causa como há 120 anos converge num dia, mudará de vez a face da terra.

III

A emancipação do trabalho é o caminho do socialismo

O que o poder económico e o poder político que lhe está submetido pretendem esconder é que a alternativa às suas políticas não só existe como é possível.

Pretendem dificultar a percepção de que o rumo que propõem é o mesmo que nos conduziu à situação de crise, às centenas de milhar de desempregados, a uma preocupante dívida externa, à crónica dependência do exterior. Pretendem, como antes com a tese do fim da história, que não existe alternativa à sociedade baseada na exploração, na desigualdade e na opressão, que não existe alternativa ao capitalismo.

Também há 120 anos o teriam dito. Na altura apenas dava os primeiros passos a compreensão, entre os trabalhadores, de que a sua libertação só poderia ser realizada por eles próprios. Apenas dava os primeiros passos a consciência de que os trabalhadores organizados, unidos e em luta pelos seus próprios objectivos constituem uma força invencível. Apenas dava os primeiros passos a luta pelo socialismo.

A luta contra a exploração é o eixo central da luta pela transformação da sociedade

O socialismo não é um ideal abstracto. É uma necessidade concreta do desenvolvimento actual da sociedade humana. Em poucas circunstâncias históricas anteriores foi tão evidente como o capitalismo constitui o principal factor que amarra a humanidade à exploração, à pobreza, ao atraso, ao desemprego, à opressão, à injustiça, à degradação social e ambiental, à violência e à guerra. Em poucas circunstâncias históricas anteriores foi tão visível a face corrupta, reaccionária e desumana do poder capitalista, a miséria moral e ética dos seus agentes e serventuários.

A longa luta pela emancipação do trabalho não está próxima do fim. Mas em cada luta dos trabalhadores, em cada greve vitoriosa, em cada 1º de Maio de massas não apenas pode ficar mais próxima, como pode ficar mais visível a necessidade de uma sociedade nova e melhor. Na luta pela jornada de trabalho, a I Internacional formulou a reivindicação dos “três oitos”: oito horas de trabalho, oito horas de lazer e de estudo, oito horas de descanso.

O capitalismo odeia qualquer destes “oitos”. Se fosse possível, imporia a jornada de 24 horas de trabalho. Mas o seu inimigo principal são as oito horas de lazer e estudo, as horas que o trabalhador dedique à organização, à acção colectiva, à preparação da luta, à compreensão do papel que lhe cabe na transformação da sociedade. À compreensão de que a história, ainda que não caminhe linearmente e passe inevitavelmente por avanços e recuos, progride sobre as lutas dos trabalhadores e dos povos. E, por muito que isso custe ao grande capital (e custará tudo), caminhará no sentido do socialismo.