O Avanteatro | |||
O Avanteatro |
Quarta, 19 Julho 2006 | |
Avanteatro
É feito um especial esforço para divulgar os actores, os directores e as companhias que trabalham fora das grandes áreas urbanas. Este ano, o Avanteatro acolhe o Grupo de Teatro «Ágil», que traz «O Velho da Horta», de Gil Vicente; o «Peripécia Teatro» apresenta «Ibérica, A Louca História de uma Península»; do teatro de rua para a Festa, a Cooperativa PIA traz «Hacker». À cena do Avanteatro sobe «Felizmente há Luar», de Luís de Sttau Monteiro, interpretada pelo grupo «A Barraca». Especialmente para o público infantil, o «Teatro Extremo» estreia «Maçãs Vermelhas». «Hansel e Gretel» é o título do espectáculo de marionetas de mesa, que Ângela Ribeiro e Isabel Silva apresentam. Mantendo a tradição de incluir outros géneros, embora com menos peso na programação do que as artes cénicas, o Avanteatro programou para este ano um espectáculo de dança («Ponto de Fuga», da responsabilidade de Rita Judas) e dois títulos de cinema documental («Os Lisboetas», de Sérgio Tréfaut, e «Natureza Morta», de Susana de Sousa Dias). O bar do Avanteatro será um local com animação própria. Neste «café-concerto» poderá ouvir-se o jazz do Quarteto de Maria João Ramos, as «Canções de Victor Jara», por Celeste Amorim, André Santos e Nuno Tavares, a música tradicional portuguesa dos «Roncos do Diabo». Lopes-Graça faz cem anos Sob a direcção do maestro François Robert, o Coro da Universidade de Lisboa interpreta, domingo à noite, as «17 Brasileiras», de Fernando Lopes-Graça. Este será um momento de homenagem do Avanteatro ao genial compositor, nos cem anos do seu nascimento. O espectáculo foi apresentado com sucesso no Fórum Romeu Correia, em Almada, no quadro das celebrações do 25 de Abril. A homenagem a Lopes-Graça, figura de vulto na cultura portuguesa, militante comunista e firme combatente antifascista, ocorre em vários outros espaços da Festa, como o Palco 25 de Abril e o Pavilhão Central.
Será prestada homenagem a Artur Ramos, destacado nome do teatro, do cinema e da televisão e um militante comunista firme e empenhado, falecido no início deste ano. A evocação será feita com uma exposição fotográfica, na entrada do Avanteatro.
O teatro na resistência Por ter escrito a peça Felizmente há Luar, em 1961, Luís de Sttau Monteiro foi preso pelo fascismo. O livro foi proibido pela censura, tal como tantos outros, e foi igualmente interditada a sua apresentação em palco. Só depois da revolução de Abril, numa encenação do autor, a peça foi representada no Teatro Nacional D. Maria II, no ano de 1978. No Avanteatro, é «A Barraca» que a vai interpretar, numa encenação de Hélder Costa, que inclui Maria do Céu Guerra, no corpo de actores e actrizes. A história passa-se em torno da tentativa frustrada de revolta liberal, em 1817, após a qual o Marechal inglês Beresford, «aliado» de Portugal contra a ocupação francesa e Comandante em Chefe do exército português, julgou e condenou à morte Gomes Freire de Andrade e outros 11 sentenciados. A execução destes ocorreu no Campo Santana (actual Campo dos Mártires da Pátria, em Outubro de 1817) e ter-se-á prolongado pela noite. A frase macabra «felizmente há luar» teria sido pronunciada por Miguel Pereira Forjaz, primo de Gomes Freire de Andrade.
A peça desenrola-se em dois actos e
contempla dois tempos históricos: o tempo dos acontecimentos que descreve e o
tempo em que foi escrita. Assim, acabou por constituir uma denúncia da ditadura
fascista e da vida em Portugal nos anos 60.
Amigos apesar da guerra Para o público maior de seis anos, o «Teatro Extremo» estreia no Avanteatro a sua 33.ª criação, intitulada «Maçãs Vermelhas». Este espectáculo de teatro procura levantar questões que visam sensibilizar as crianças e contribuir para o desenvolvimento de atitudes e valores humanistas, designadamente em torno dos Direitos Universais das Crianças e do Homem, da igualdade de oportunidades, da amizade, da falta de sentido das guerras, da crueldade que comete quem aprisiona e limita o ser humano. A sinopse divulgada pelo grupo adianta que Salim e Ariel são duas crianças de dois diferentes povos, que disputam o mesmo território. Estas crianças tudo vão fazer para continuarem amigos, apesar dos seus povos viverem em guerra e de até os seus próprios pais não concordarem com a sua amizade. O autor é Luís Matilla e a encenação é de Fernando Jorge Lopes.
Sexta - feira, dia 1 de Setembro
21.30 h. – Teatro - «Ibérica – a Louca
História de uma península», Peripécia Teatro Sábado, dia 2 de Setembro
11.00 h. – Teatro Infantil - «Hansel e
Gretel» Marionetas de Mesa – Ângela Ribeiro e Isabel Silva Domingo dia 3 de Setembro
11.00 h. – Teatro Infantil - «Maçãs
Vermelhas», Teatro Extremo Cinema Documental Quase meio século separam os temas centrais dos filmes apresentados na Festa, ligando-os contudo à realidade do nosso País e à sua história. «Lisboetas» de Sérgio Tréfaut debruça-se sobre essa realidade que tão profundamente transformou a capital do País: país de onde tradicionalmente saíam emigrantes, Portugal acolheu na última década quase um milhão de imigrantes de origens as mais variadas, da China ao Paquistão, da Ucrânia à Nigéria. Depois de um primeiro trabalho sobre o tema, Sérgio Tréfaut lançou-se a um trabalho de maior fôlego, produzindo um impressionante retrato da cidade que interpela o espectador ao ponto de sentirmos que muitas vezes os estrangeiros acabamos por ser nós próprios. «Natureza Morta», de Susana Sousa Dias, é um pungente depoimento sobre a repressão fascista sugerido à jovem realizadora pela contemplação dos álbuns de fotografias das fichas policias dos milhares e milhares de portugueses que passaram pelas prisões políticas do salazarismo. Não assumindo uma estrutura narrativa, o documentário ganha um dos seus maiores impactos com o tratamento sonoro, onde se destaca a especial eficácia das gravações da época utilizadas, lado a lado com um universo de inesperada riqueza emotiva.
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