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Brigada Victor Jara com Manuel Freire - Tributo a Adriano Correia de Oliveira Grupo dos Antigos Orfeonistas de Coimbra
Disse Adriano Correia de Oliveira que «a canção pode não ter uma influência decisiva, mas é complementar, e interessa que a arte, seja qual for, reflicta exactamente aquilo que se está a passar em cada sociedade. Se não, não é útil e falha substancialmente. Não corresponde à sua função. » Esta é a frase de um músico, de um artista, de um comunista, de um homem que gostava de se situar do «lado certo » – do lado antifascista durante os anos da ditadura, do lado das conquistas de Abril no período revolucionário.
Nascido no Porto em 1942, é em Coimbra, onde vai estudar Direito, que se começa a destacar na música, primeiro como tenor no orfeão académico de Coimbra. O ambiente antifascista que se vive na universidade e no País leva Adriano a aderir ao Partido Comunista Português em 1960, ano em que grava o primeiro disco com quatro fados de Coimbra. Os anos seguintes são intensos. Há greves de norte a sul do País e o 1. º de Maio de 1962 é a maior comemoração de sempre do Dia do Trabalhador em Portugal. Nos campos do Sul conquista-se a jornada de oito horas de trabalho e em África inicia-se a guerra colonial. Em Lisboa, na sequência da proibição, pelo governo fascista, da comemoração do Dia do Estudante, intensificam-se as lutas estudantis, iniciando-se uma prolongada greve que alastra às outras academias. Mais de 1500 estudantes são presos.
Em 1963, Adriano interpreta a Trova do Vento que Passa , uma das primeiras e decisivas canções de intervenção. Ao longo dos anos 60 e início dos 70, continua a cantar e traz para a música de intervenção novos valores. Na Revolução de Abril, Adriano Correia de Oliveira é abnegado cantor das suas conquistas. E um dedicado construtor da Festa do Avante!.
Coerente –«Pratico aquilo que digo na canção. É uma condição fundamental. O importante é que na vida haja coerência absoluta ». Mantém-se um activo militante comunista até ao fim da sua vida, em 1982. Tinha 40 anos. «A única luta pelo poder em que estou empenhado é a luta para que o povo português tome o poder e que nessa luta tenha um papel determinante a actividade do aparelho político organizado que é o PCP, a que pertenço. » Brigada Victor Jara, Manuel Freire e Grupo dos Antigos Orfeonistas de Coimbra Num espectáculo concebido especialmente para a Festa do Avante!, a Brigada Victor Jara junta-se a Manuel Freire e ao Grupo dos Antigos Orfeonistas de Coimbra num grande tributo a Adriano Correia de Oliveira.
Numa
pausa do trabalho de abertura de uma estrada para os lados da Lousã,
o acaso de uma "viola" e um coro de meia dúzia de vozes
terá feito nascer a Brigada Victor Jara. Brigada porque o era
de facto, de trabalho e de cantigas. Victor Jara pelo combate,
acarinhado e sentado num camião do MFA a caminho de uma aldeia
Beirã.
No
início o canto era "de intervenção", em
versões de cantigas de José Afonso, Sérgio
Godinho, Victor Jara, Quilapayum. O primeiro contacto com a Música
Tradicional (ou Regional? ou Popular?) teve-o no GEFAC (Grupo de
Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra), num ou noutro dos
discos-de-capa-de-sarapilheira editados pelo Michel Giacometti, num
ou noutro encontro com músicos ou cantadores populares.
Escrevia
a Brigada na capa de Eito Fora (1977) não ignorar que "o
folclore que sai do seu lugar próprio que são os cantos
e as aldeias e esquece o homem na sua relação diária
com o trabalho campestre, corre o risco de não passar de um
produto banal, uma mercadoria que faz as delícias dos
turistas, avinhados ao ritmo dos ferrinhos e da concertina". Ao
mesmo tempo esclarecia não ser o seu trabalho de natureza
etnomusicológica e homenageava "Michel Giacometti e alguns
mais (poucos) que realizaram e realizam com saber e persistência
esse labor tão apaixonante como ingrato".
A
Brigada Victor Jara nunca pretendeu desempenhar o papel de
"preservador" da memória musical do seu povo, nem iniciou
o seu trabalho com o fito de atender a modas (de resto já ia
longa a sua vida quando o mercado da "world music" inaugurou a
primeira prateleira de Cê Dês). Antes se foi ocupando a
recontar as melodias apreendidas, misturando-as com os sons das suas
próprias vivências. Desigual, a sua discografia é
o resultado de um longo processo em que diversos músicos,
atravessando o grupo na sua trajectória, vão dizendo de
sua justiça, com uma preocupação central (e
essencial na arte popular) - a de contar um conto,
acrescentando-lhe um ponto.
Manuel Freire
Manuel Freire começou a relacionar-se cedo com outros cantores como Adriano Correia de Oliveira, José Afonso ou Francisco Fanhais. Nos anos 60, começa a musicar poemas de grandes poetas portugueses, como António Gedeão, José Gomes Ferreira, Fernando Assis Pacheco, Sidónio Muralha ou José Saramago. Cantor premiado e consagrado, ganhou um público fiel após o 25 de Abril, a cantar em sociedades recreativas e culturais.
Grupo dos Antigos Orfeonistas de Coimbra
Constituído por antigos estudantes da Universidade de Coimbra, apresentou-se pela primeira vez em Dezembro de 1980, por ocasião das comemorações do centenário do Orfeon Académico de Coimbra, onde o Coro foi buscar as suas raízes institucionais.
Na sua criação foi determinante o propósito de, num percurso aberto a desafios novos e estimulantes, no domínio da arte musical, como noutros, de inegável dimensão humanista, fazer reviver os Ideais de Fraternidade, de Tolerância e de Solidariedade que, ao longo de gerações, marcaram, de forma algo peculiar, a Academia de Coimbra.
Realizou já mais de seis centenas de concertos, em Portugal e no estrangeiro.
Actuou em numerosos Países: na Europa, nas Américas - do Norte e do Sul - em África e no Oriente. Como nas Sedes de Organizações Internacionais, nomeadamente, o Parlamento Europeu (1987, 1989, 1994, 1999 e 2005), o Tribunal das Comunidades Europeias (1994), a Comissão Europeia (1987), a UNESCO (1987 e 1990) e a ONU (1996).
Além de um LP, em 1985, dirigido, ao tempo, pelo maestro Joel Canhão, o Coro gravou 4 CD’s: em 1994, de música diversa; em 1995, o segundo, de composições de Adriano Correia de Oliveira, José Afonso e José Niza, com acompanhamento da Orquestra Filarmónica de Londres e arranjos orquestrais e corais dos maestros José Calvário e Augusto Mesquita; em 1998, um outro (“Alleluya”), de Música Sacra de diferentes épocas e origens; ao vivo, o concerto com que, no final de 2001, no Centro Cultural de Belém, acompanhado pela Orquestra do Norte, encerrou as comemorações dos seus 20 Anos; e, em 2005, um DVD, aquando da realização da ópera “O Barbeiro de Sevilha”, em colaboração com a Orquestra do Norte e o seu director musical, o Maestro José Ferreira Lobo, com encenação de Carlos Avillez.
O seu repertório inclui perto de uma centena de temas, em múltiplos domínios – música sacra, operática, popular, etc. – mas com um significativo destaque para a música de língua portuguesa, sobretudo a “música de Coimbra”, especialmente adaptada.
Nos concertos, à actuação coral segue-se, habitualmente, a do seu Grupo de Guitarras de Coimbra - que acompanha, por vezes, o próprio Coro, daí se retirando um efeito verdadeiramente único – dando, assim, a conhecer uma faceta deveras significativa da nossa Música.
Um elevado nível de desempenho, uma sonoridade inconfundível e o clima de simpatia que transmite, tornam este Coro, no estrangeiro, uma representação reconhecidamente invulgar da Cultura portuguesa.
É dirigido pelo maestro Virgílio Caseiro, desde 2003.
Agraciado com o grau de Membro Honorário da Ordem de Mérito (1996), o Coro possui a Medalha de Mérito do Ministério da Cultura (1995) e a Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra (2000). É, ainda, Sócio Correspondente da Academia Pernambucana de Música/Recife (1993) e “Amigo Honorário” da Fundação Bissaya Barreto (1997).
http://www.uc.pt/antorf/
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