Partido Comunista Português
Sobre as tarifas da Electricidade para 1999 - Declaração de Francisco Lopes da Comissão Política do PCP
Sexta, 04 Dezembro 1998
Face às posições hoje anunciadas pela Entidade Reguladora do Sector Eléctrico relativas às tarifas da electricidade para 1999, o PCP entende oportuno salientar o seguinte:

1. O PCP considera reprovável que, com a óbvia cumplicidade do Governo, a Entidade Reguladora do Sector Eléctrico, propondo a redução em 10% para a indústria, se limite a admitir uma redução de apenas 4,7% para o consumo doméstico, ou seja, para o sector de consumidores que representa a quase totalidade da população portuguesa.

2. É hoje reconhecido o facto de não só as tarifas da electricidade em Portugal serem das mais caras da Europa, como, apesar da redução dos custos de produção, nos últimos anos o preço da electricidade para os consumidores domésticos, em vez de baixar, ter vindo a aumentar.

A EDP deu nos últimos quatro anos 283 milhões de contos de lucro e para 1998 prevê cerca de 120 milhões de contos, uma situação que traduz um escândalo inadmissível em que os orçamentos das famílias portuguesas estão a suportar a especulação bolsista e os lucros elevadíssimos dos grupos económicos e financeiros que, com a privatização da EDP, crescentemente controlam a empresa.

3. Na base desta situação, o PCP tomou a iniciativa de propor a redução das tarifas da electricidade em 15% e essa reclamação foi aprovada na Assembleia da República. Está comprovado que, sem pôr em causa a estabilidade económica e financeira das EDP, sem afectar o autofinanciamento e sem comprometer a necessária melhoria dos serviços, é necessário e possível promover uma significativa redução dos preços da electricidade principalmente para os consumidores domésticos.

O PCP considera importante que finalmente, no seguimento da sua iniciativa, tenha pela primeira vez sido assumido a ideia de uma redução de tarifas para os consumidores domésticos, mas sublinha que a redução hoje anunciada é manifestamente insuficiente, se situa mesmo abaixo do valor que nas esferas governamentais se admitiam como prováveis (5,5%) e só pode ser explicada por uma escandalosa cedência do Governo perante as pressões oriundas da especulação bolsista.

4. A invocação de compromissos que teriam sido assumidos pelo Governo quando da ultima fase da privatização, como justificação para a não redução das tarifas mais do que 5,5% e a referência aos interesses dos pequenos accionistas não têm qualquer razoabilidade.

Porque não se trata dos pequenos accionistas, mas sim da sua invocação para a defesa dos lucros colossais dos grupos económicos que controlam a empresa, como aliás ficou comprovado por os mais acérrimos opositores da redução das tarifas terem sido o Grupo Espirito Santo e o Grupo BPI, este último que curiosamente acabou de ser presenteado com um lugar na Administração da empresa tal como sucedeu com a empresa espanhola Iberdrola.

Porque o único compromisso legítimo que o Governo e a EDP podem ter, tratando-se de uma empresa de serviços públicos, é com os dez milhões de portugueses que são utentes deste serviço essencial, com a melhoria da qualidade de serviço e com preços acessíveis e nunca o compromisso de transformar a EDP numa empresa cujo objecto deixa de ser o serviço público de produção e distribuição de electricidade, para na prática passar a ser o de se tornar fonte de especulação bolsista e meio de acumulação coerciva de lucros dos grupos económicos à custa dos orçamentos das famílias.

5. Na discussão pública dos últimos tempos actuou-se como se o problema se reduzisse ao governo/EDP e aos accionistas, como se os utentes não existissem, não contassem e não tivessem voz. PCP considera que o comportamento do Governo em sintonia com os grupos que controlam a EDP e que está ligado ao propósito de prosseguir a privatização desta empresa, é inaceitável e reafirma que é necessário e é possível a redução em 15% das tarifas da electricidade.

6. PCP tomou a iniciativa de lançar uma acção nacional de reclamação, editou um folheto de esclarecimento, dirigiu uma carta a seis mil entidades e pôs em circulação um abaixo assinado dirigido ao Primeiro-Ministro, iniciativa aberta à participação de todos os que convergem na exigência da redução real das tarifas da electricidade, e vai prosseguir essa acção. É significativo que, em apenas cinco dias de recolha de assinaturas, já mais de 20 000 pessoas tenham subscrito o abaixo-assinado.

O PCP entende que os consumidores da electricidade, em particular os consumidores domésticos, devem continuar a fazer ouvir a sua voz e que está nas suas mãos levar para diante um movimento de reclamação e de protesto que obrigue o governo a garantir a significativa redução das tarifas que se impõe.