Partido Comunista Português
"PAZ para a Palestina"
Ilda Figueiredo no "Semanário"
Sexta, 03 Outubro 2003

A visita que recentemente realizei à Palestina, integrada numa delegação de deputados do Grupo da Esquerda Unitária Europeia / Esquerda Verde Nórdica, nos últimos dias de Setembro, aumentou a minha indignação quanto às humilhações permanentes que Israel inflige ao povo palestino, ocupando-lhe o território, estabelecendo constantes pontos de controlo armado das viaturas e pessoas, incluindo ambulâncias com doentes em estado grave, como assisti num dos vários postos de controlo a que estivemos sujeitos, destruindo habitações e equipamentos sociais, construindo vedações e muros que criam autênticos guetos em plena Palestina.

Entretanto, no encontro com o Presidente Yasser Arafat, transmitimos toda a nossa solidariedade contra as recentes e repetidas ameaças de expulsão feitas pelo governo de Sharon, incluindo o vice-primeiro ministro israelita que chegou a colocar a possibilidade do seu assassinato, o que condenamos firmemente.

Sabemos que a Assembleia Geral da ONU criticou o Governo israelita quanto a este propósito. Deploravelmente, os Estados Unidos vetaram, no Conselho de Segurança da ONU, uma resolução no mesmo sentido (aliás, com a abstenção da Alemanha e da Grã-Bretanha).

O Presidente Arafat, que agradeceu os apoios, pediu que sejam feitas pressões concretas sobre o governo de Sharon visando obter o fim da construção do "muro da vergonha" entre Israel e a Palestina, que visitámos em Abou Dis, Ramallah e Jerusalém Oriental, e insistiu na necessidade de enviar observadores internacionais visando o fim da ocupação da Palestina e o cumprimento das decisões da ONU.

Recorde-se que o muro não é uma simples fronteira. É um projecto que envolve mais de 180 km, com paredes de oito metros de altura, estradas e barreiras eléctricas, construído em pleno território da Palestina, isolando povoações, privando os agricultores de terras irrigadas, motivando novas confiscações, novos controlos militares, atravessando povoações e a própria Universidade de Abou Dis, perto de Jerusalém, em cujo campo os estudantes, que pediram para os visitarmos, montaram um acampamento e uma exposição de denúncia e luta, e onde nos proporcionaram um pequeno concerto de músicas e canções, que ecoaram na noite como um grito de alerta e uma esperança na pressão e solidariedade internacional para impedir a divisão da sua universidade.

Na reunião com o novo Primeiro-Ministro palestiniano Abu Ala, este informou-nos que pretende propor ao Governo de Sharon a cessação das hostilidades militares no quadro de um apoio internacional às instituições palestinianas e do relance das negociações, mostrando interesse no envio de uma força internacional de interposição entre Israel e a Palestina, como já existe em vários países da região, designadamente nos Montes Golã, com a Síria.

Mas um dos momentos mais importantes foi a intervenção firme, corajosa e determinada do deputado palestiniano Marwan Barghouti, no tribunal de Telavive, na última sessão do seu julgamento, a que assistimos, no dia 29 de Setembro, depois de, no dia anterior, termos estado com a sua mulher, em Ramallah, que, tal como os seus quatro filhos, tem sido impedida de o visitar ou sequer assistir ao julgamento. Preso por soldados israelitas, em Abril do ano passado, mantido em isolamento e péssimas condições prisionais, recusou ao tribunal o direito e a competência de o julgar, denunciou as humilhações a que o povo palestiniano está sujeito, a ocupação ilegal do território da Palestina por Israel, a destruição de milhares de árvores, sobretudo oliveiras, a destruição de casas, a política dos colonatos, a vergonha do muro. Reafirmou o direito do povo palestiniano a resistir à ocupação, afirmando que mais vale morrer que viver sob a ocupação, embora opondo-se a acções contra os civis, as mulheres e as crianças. Reafirmando o seu apoio a uma solução baseada na fórmula "dois Povos, dois Estados", responsabilizou Sharon e o seu governo pelo relançamento do processo de paz, que o povo palestiniano deseja.

É tempo do Conselho Europeu ir além das simples declarações. É imperativo pressionar, de forma clara, as autoridades israelitas visando o fim da ocupação militar, dos assassínios, da anexação de territórios palestinianos e da construção do muro, do controlo da circulação dos palestinianos, enfim, do verdadeiro terrorismo de estado praticado contra o Povo Palestiniano. É tempo da União Europeia suspender os Acordos que mantém com Israel.