Partido Comunista Português
Agenda europeia para a cultura num mundo globalizado - Declaração de voto de Ilda Figueiredo no PE
Quarta, 09 Abril 2008
Neste relatório há aspectos muito contraditórios. Por um lado, uma permanente tentativa de escamotear a realidade da evolução da Europa. Não existe uma “herança cultural da Europa” única, ainda por cima como referência de “humanismo, tolerância, democracia”, etc. Toda a história cultural europeia, como toda a sua história em geral, não é construída apenas de diversidade e admirável energia criadora e de progresso, mas também de violento confronto antagónico, de intolerância, de múltiplas linhas e contextos de dominação cultural. A herança única é uma ficção, alimentada antes pelo eurocentrismo cultural (a Europa como “vanguarda” e outros aspectos referidos, alimentada, hoje, pelo mito, repetido de uma identidade cultural “europeia”).

Por outro lado, entretanto, a intenção política de afirmação autónoma contém elementos positivos. Desde logo, porque essa afirmação autónoma não é possível apenas no quadro de qualquer identidade cultural “europeia”, mas no quadro da preservação de garantias de resistência ao rolo compressor das indústrias culturais hegemonizadas pelos EUA (defesa da diversidade linguística e cultural; consideração das indústrias culturais como um “espaço protegido em relação às regras comerciais”; constatação de que a “balança comercial da UE é desfavorável em matéria de bens e serviços culturais”).

Daí o voto de abstenção no final.