A
Comissão Política do PCP considera que os recentes desenvolvimentos da situação
financeira internacional confirmam as preocupações e alertas que tem
manifestado desde o passado mês de Agosto e rejeita que «sejam os
trabalhadores, os reformados e as populações a pagar os custos da actual crise
financeira – como o Governo PS se prepara para fazer – deixando uma vez mais de
fora aqueles que são os verdadeiros responsáveis e beneficiários da política de
especulativa e de financeirização da nossa economia em que o país mergulhou, ou
seja, os grandes grupos económicos e o capital financeiro».
Portugal e a crise
económica internacional
Nota da Comissão Política do Comité Central do PCP
1.
Os recentes desenvolvimentos da situação
financeira internacional confirmam as preocupações
e alertas que o PCP tem manifestado desde o passado mês de Agosto. Na verdade, a crise do crédito hipotecário de
alto risco nos EUA não foi mais do que um sintoma de uma crise muito mais grave
e profunda que afecta todo o sistema financeiro mundial, com consequências
ainda hoje incalculáveis sobre as economias de todo o mundo, incluindo o nosso
país.
Para
o PCP, à medida que vão sendo conhecidos os resultados económicos do último
trimestre de 2007, quer dos grandes grupos financeiros, quer de empresas
mundiais de referência, bem como é tornada pública a grande instabilidade no
conjunto das bolsas de valores, aumenta a convicção de que a economia
norte-americana enfrenta uma grave crise e de que as outras economias mundiais,
entre as quais as europeias, apresentam já sintomas de um forte abrandamento no
crescimento económico como se comprova pelas revisões em baixa do crescimento
económico para 2008 nas economias alemã e espanhola.
O
PCP considera que a crise, que teve o seu epicentro no sistema financeiro
norte-americano e teve como detonador a especulação sobre o imobiliário, é
expressão da crise sistémica do capitalismo assente na crescente especulação
financeira desligada da economia real, e também, na desvalorização dos salários
das massas trabalhadoras acompanhada pela imposição do recurso ao crédito
bancário, quer para a aquisição de bens imóveis, quer para o próprio consumo.
Para o PCP, esta é mais uma crise de sobreprodução em relação ao fraco poder
aquisitivo das massas populares, em que a solução miraculosa encontrada -
facilitação do crédito bancário - parece estar a desmoronar-se com esta crise
profunda do sistema financeiro mundial.
2. O
PCP chama à atenção para a atitude irresponsável do Governo PS que persiste
numa linha de ocultação e subestimação - confirmada pelas previsões
absolutamente irrealistas sobre o crescimento económico nacional - do real
significado desta crise e das suas repercussões para o nosso país, sobretudo se
considerarmos a crescente vulnerabilidade da nossa economia, fruto de
sucessivos anos de políticas de direita e que correspondem, elas mesmas, à
mesma matriz e orientações que estão na origem da actual crise.
Para
uma economia como a portuguesa, exposta, vulnerável, desprotegida e dependente
de um punhado de países capitalistas, a crise financeira actual terá
inevitavelmente um forte impacto negativo. Mas seria um erro considerar-se que
o Governo português nada tem a ver com esta situação. A estagnação do
crescimento económico, as quebras no investimento público e privado, a
crescente financeirização da nossa economia em detrimento da defesa do aparelho
produtivo, a obsessão em torno do déficit das contas públicas, a submissão face
às orientações da União Europeia, são elementos estruturantes de uma política
de total fracasso na resolução dos problemas do país e que face a esta crise
tendem a ser ampliados.
3. O
Governo PS, quer no quadro da presidência portuguesa da União Europeia que
recentemente protagonizou, quer no âmbito das suas relações internacionais,
nada fez senão procurar ocultar a realidade e alinhar com os grandes interesses
económicos e financeiros como facilmente se comprova pelo conjunto de previsões
realizadas sobre o crescimento económico no nosso país (claramente acima da
realidade) e na permanente atitude de subserviência e subalternização das
necessidades do país e do Povo português face à insaciável gula do grande
capital.
Subserviência
do Governo PS confirmada pelo silêncio comprometido face ao recente encontro
entre os chefes de governo da Alemanha, Reino Unido, França e Itália que,
confirmando os alertas do PCP sobre as consequências do novo tratado da União
Europeia, se constituem como efectivo directório das grandes potências e dos
grandes interesses económicos, procurando defender os seus interesses à margem
e em conflito com as necessidades dos restantes 23 países da UE.
4. O
PCP considera inaceitável que mais uma vez sejam os trabalhadores, os
reformados e as populações a pagar os custos da actual crise financeira - como
o Governo PS se prepara para fazer - deixando uma vez mais de fora aqueles que
são os verdadeiros responsáveis e beneficiários da política de especulativa e
de financeirização da nossa economia em que o país mergulhou, ou seja, os
grandes grupos económicos e o capital financeiro.
Face
a esta situação o PCP tomou a iniciativa de chamar o Ministro das Finanças e o
Governador do Banco de Portugal à Comissão de Orçamento e Finanças, audição
essa que se realizou no passado dia 18 de Janeiro, onde se reafirmou a
exigência de políticas e medidas de combate à recessão designadamente: o
abandono da obsessão em torno do déficit das contas públicas, a promoção do
investimento público, o apoio à produção nacional em oposição à crescente
financeirização da economia, a diversificação dos mercados externos, uma mais
justa repartição do rendimento e o questionamento do papel do Banco Central
Europeu. Medidas que o Governo PS persiste em contrariar aumentando assim os
riscos dos impactos negativos desta crise nas condições de vida do povo
português.
5.
Antecipando possíveis manobras por parte do Governo PS para, a pretexto da
actual situação internacional, impor novos sacrifícios aos trabalhadores e ao
Povo, persistindo e agravando uma política cujo fracasso é medido nas
crescentes injustiças e desigualdades sociais, na estagnação económica, na
crescente dependência externa, no aumento do desemprego, da pobreza e da
exclusão social, o PCP chama a atenção para a necessidade de um outro rumo e
uma nova política que, como o PCP sublinhou na sua Conferência Nacional sobre
as questões económicas e sociais, assuma a ruptura com as políticas de direita.
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