XIV BIENAL DA FESTA DO “AVANTE!”

TEMPO MAU PARA LIRISMOS

Eu bem sei: só o feliz
É que agrada. Gosta-se de ouvir
A sua voz. A sua face é bela.

A árvore aleijada no pátio
Mostra que o terreno é mau, mas
Os que passam chamam-lhe aleijada
Com razão

Os barcos verdes e as velas alegres do Sund
Não as vejo. De tudo
Só vejo a rede rasgada dos pescadores
Porque é que eu só falo da lavradeira
De quarenta anos que anda toda torcida?
Os peitos das moças
São quentes como dantes

Na minha mão uma rima
Parecer-me-ia insolência

Dentro de mim lutam
O entusiasmo pela macieira em flor
E o horror dos discursos do pintor de tabuletas
Mas só o segundo
Me força a sentar-me à mesa.

Bertolt Brecht


Na sua XIV edição, a Bienal da Festa do “Avante!” propõe a entrada numa nova fase.

Tal como acontece com o projecto geral da Festa, o seu programa e o desenho da sua arquitectura, é essencial que cada edição da Bienal seja irrepetível, não apenas nos trabalhos e artistas que apresenta, mas também pelo projecto específico, original, que a enforma. É importante para a Festa do Avante, para os que a visitam e para os artistas que aí apresentam o seu trabalho que a Bienal represente uma reflexão multifacetada, e controversa e empenhada sobre o mundo e a arte nele.

Para a edição deste ano, a organização da XIV Bienal da Festa do Avante! apresentou aos artistas plásticos uma proposta de reflexão inspirada no poema «Tempo mau para lirismos», de Bertolt Brecht. Trata-se de um belíssimo manifesto, onde o poeta expõe a luta interior entre o desejo de felicidade e de beleza, e a urgência da luta política contra o horror.
Como sempre, a Bienal da Festa do Avante! conta com um leque muito amplo de artistas participantes e concorrentes, de todos os pontos do País, representando experiências e realidades muito diversas e apresentando, com os seus trabalhos, abordagens que se estendem a todo o espectro de possibilidades disponível na arte contemporânea.
Como sempre tem acontecido, e por respeito a este público único, tem-se procurado garantir a qualidade renovada do projecto, sem esquecer os seus traços essenciais: A Festa, a sua gente e o projecto político de emancipação, de liberdade e solidariedade que os envolvem. Irão participar, na XIV Bienal da Festa do Avante!, 107 participantes entre os quais: Bartolomeu Cid dos Santos (Pintor), João Duarte (escultor), Albino Moura (pintor), Luís Ralha (pintor), João Limpinho (escultor), José Santa Bárbara (pintor), Margarida Tengarrinha (pintora), Lívio de Morais (pintor) e Joana Villaverde (pintora).

Mas, acima de tudo, o que é marca distintiva deste evento é o seu público, oriundo de todas as regiões do país, de todos os estratos sociais, de ambientes culturais muito heterógeneos, que, em festa, de forma despreocupada mas atenta, percorre os espaços da Bienal da Festa do Avante.

Como sempre tem acontecido, e por responsabilidade perante este público único, temos procurado garantir a qualidade renovada do nosso projecto. Sem nunca esquecer aqueles que são seus traços essenciais: a Festa, a sua gente e o projecto político de emancipação, de liberdade e solidariedade que os envolvem.

No domingo, quando a Festa chegar ao fim, haverá sempre momentos, sabores, mensagens e imagens que ficam para recordar esse ano e dar ânimo e alegria à luta dos dias que virão. A Bienal faz parte desse rosto da Festa.

 

-Regulamento em PDF

Álvaro Cunhal, pintor e desenhador

Junto à XIV Bienal de Artes Plásticas da Festa do Avante! será ainda instalada uma zona dedicada à obra de Álvaro Cunhal como pintor e desenhador, e como pensador de questões relativas à estética e ao papel da arte e do artista na sociedade.

Serão expostas pela primeira vez, publicamente, duas pinturas da sua autoria, acompanhadas de uma projecção de reproduções das duas séries de desenhos executados na prisão, e de outras pinturas. O catálogo da Bienal e um painel junto a estas obras reproduzem trechos da intervenção proferida por Álvaro Cunhal no encerramento da 1.ª Assembleia de Artes e Letras da ORL, em 1978, importante testemunho não apenas na sua concepção acerca do papel que a criação artística pode desempenhar no processo de transformação social, mas também na orientação do Partido no sentido de reconhecer que uma opção progressista e revolucionária por parte dos criadores não só não deve implicar a adopção de um determinado estilo, escola ou modelo estético, como requer a maior amplitude de linguagens e a maior liberdade para os artistas.

Neste espaço, poderá ainda ver, durante todo o dia, o projecto Extramuros, um espaço-cena, com componentes de arquitectura, vídeo, teatro e pensamento, com possibilidade de interacção quotidiana com os visitantes da Festa. Haverá também um labirinto, de oito por oito metros, com projecção audiovisual, projectado por Pedro Penilo, com a colaboração de Manuel Gusmão e Fernando Guerreiro, e quatro desenhos, acompanhados de excertos de entrevistas, subordinado ao tema «O Aborto», por Catarina Leitão.