Homenagem a Lopes Graça
com Coro Lopes Graça da Academia de Amadores de Música e Sinfonietta de Lisboa,
com o maestro Vasco Pearce de Azevedo
e os pianistas Miguel Borges Coelho e Olga Pratz
PROGRAMA
Fernando Lopes-Graça
Sinfonieta Homenagem a Haydn op. 220
Adagio – Allegro Moderato
Andante
Gaio
Allegro com spirito
Fernando Lopes-Graça
Suite Rústica n.º 1 op. 64
Melodia de Oliveira do Hospital
Melodia de Foz Côa
Melodia de Reguengos de Monsaraz
Melodia de Póvoa do Lanhoso
Melodia de Pegarinhos
Melodia da Beira
Fernando Lopes-Graça
Concertino para Piano,
Cordas, Metais e Percussão
Piano: Miguel Borges Coelho
Allegro ma non troppo
Lento, quasi barcarola
Allegretto – Molto vivo
Fernando Lopes-Graça
Variações sobre um Tema
Popular Português op. 1
Piano solo: Olga Prats
Fernando Lopes-Graça
Canções Heróicas e Canções
Regionais Portuguesas
Coro Lopes-Graça da Academia
de Amadores de Música
Piano: Olga Prats
Sinfonia per Orchestra op. 38
1.º andamento – Allegro Rapsódico
Orquestra Sinfonieta de Lisboa
Maestro
Vasco Pearce de Azevedo
Coro Lopes Graça da Academia
de Amadores de Música
Maestro
José Robert
No decurso de uma entrevista concedida em 1986, Lopes-Graça afirmou que a sua actuação enquanto artista era inseparável dos compromissos que, como cidadão, tinha com a “Cidade” e com a “Grei”. (...) Este compromisso, no caso de Lopes-Graça, foi primeiramente um compromisso pessoal. Foi, ainda, um compromisso público, fundamentado numa concepção social da arte e na fé no progresso da humanidade. (...) Nascido em Tomar, em 1906, Fernando Lopes-Graça iniciou os seus estudos musicais na sua cidade natal, tendo-os concluído no Conservatório Nacional de Lisboa, que frequentou entre 1924 e 1931. (...)
As primeiras obras do seu catálogo foram apresentadas em Lisboa em concertos organizados em colaboração com outros colegas do Conservatório, na mesma época em que iniciava um notável trabalho como cronista musical, manifestando um raro talento literário e uma ampla cultura.
Em 1932 começou a ensinar na Academia de Música de Coimbra, cidade onde permaneceu radicado até 1936. Os anos de Coimbra foram precedidos e encerrados com duas detenções por motivos políticos que o impediram de ensinar em escolas públicas durante os anos posteriores, apesar de ter ganho por oposição uma vaga de professor de piano no Conservatório Nacional de Lisboa em 1931. Estes anos coincidiram com um primeiro período, que poderíamos qualificar como modernista, do seu percurso como compositor, durante o qual o seu estilo revelou a influência de autores como Arnold Schönberg e Paul Hindemith.
Nas suas primeiras obras, muitas delas destruídas ou revistas posteriormente, também se destaca um atento estudo da prosódia da língua portuguesa, manifestado nas suas canções de poetas como António Botto, Adolfo Casais Monteiro, José Régio ou Fernando Pessoa. O seu gosto pelos géneros vocais, estimulado pelo relacionamento constante com poetas contemporâneos, permaneceu ao longo de toda a sua vida.
Lopes-Graça instalou-se em Paris em 1937. Na capital francesa frequentou o curso de Musicologia da Sorbonne (...) e compôs várias obras para piano, a música para o bailado realista La Fièvre du Temps e realizou as suas primeiras harmonizações para voz e piano de canções tradicionais portuguesas. Uma parte da sua produção derivou num “nacionalismo essencial”, nas suas palavras, caracterizado pelo tratamento do material retirado da música tradicional e pela assimilação dos seus rasgos harmónicos, melódicos e rítmicos. (...)
Esta nova tendência no seu estilo de compor manifesta a influência de Bela Bartók e de Manuel de Falla e a dos escritos de Koechlin publicados nestes anos. Regressou a Lisboa em 1939, retomando a sua actividade como cronista musical, musicólogo e professor e iniciando o seu labor como organizador de concertos e maestro coral. Ensinou piano, harmonia e contraponto na Academia de Amadores de Música e constituiu a sociedade Sonata que, entre 1942 e 1960, promoveu concertos apresentando programas inteiramente preenchidos por música do século XX. (...) e também retomou as suas colaborações nas publicações periódicas Seara Nova e O Diabo como crítico musical e teatral. Participou, com Bento de Jesus Caraça, na organização da Biblioteca Cosmos (...).
Após a II Guerra Mundial, grande parte da actividade de Lopes-Graça foi determinada pela sua participação no Movimento de Unidade Democrática, assim como no PCP, do qual se tornou militante por volta de 1944. É de 1945, por exemplo, o seu plano para a organização estatal da música, inédito até à sua publicação em 1989, um bom indício das esperanças postas na mudança política que foram partilhadas por muitos nesta época. É também deste ano o início da composição das célebres Canções Heróicas, canções de intervenção que Lopes-Graça, apesar da proibição que pesava sobre a sua apresentação pública, continuou a compor até 1974, e inclusive em anos posteriores.
A criação, igualmente em 1945, do Coro do Grupo Dramático Lisbonense fez parte deste movimento.
Este foi o antecedente do Coro da Academia de Amadores de Música, criado em 1950. Para além do trabalho de regência, Lopes-Graça escreveu para este agrupamento dezenas de harmonizações corais de canções tradicionais portuguesas, que constituíram o seu repertório. Por último, também em 1945, Lopes-- Graça começou a colaborar regularmente na revista Vértice (...). O fim da sua actividade pedagógica na Academia de Amadores de Música, em 1954, foi consequência de um despacho ministerial que anulou a sua autorização para dar aulas em instituições privadas de ensino. Conseguiu, porém, manter a sua ligação com a instituição através da revista Gazeta Musical (1950- 1957), fundada por ele juntamente com João José Cochofel, e da edição do Dicionário de Música (1954-8). (...)
O seu encontro com Michel Giacometti data de fins da década de 50, quando após um primeiro encontro pessoal ambos deram início a uma colaboração que se manteve durante décadas. O primeiro fruto desta colaboração surgiu em 1960, ano em que foi editado o primeiro volume discográfico da colecção “Antologia da Música Regional Portuguesa”, dedicado à região de Trás-os-Montes. Ambos, em 1981, editaram no Círculo de Leitores o Cancioneiro Popular Português. O desenvolvimento posterior da obra musical de Lopes-Graça permite definir uma terceira fase delimitada pelo Canto de Amor e de Morte, quinteto com piano composto em 1961, e a Sonata para piano n.º 5, escrita em 1977. (...) (...) Os anos transcorridos desde 1974 até ao seu falecimento foram para Lopes-Graça criativamente muito férteis. As duas sonatas para piano e um quarteto de corda, o impressionante Requiem para as vítimas do fascismo em Portugal (1979) e as Sete predicações de “Os Lusíadas” (1980), o bailado Dançares, uma sinfonia para orquestra de formação clássica, numerosas canções, composições instrumentais mais breves e peças de circunstância. (...) Se o expressivo Requiem sintetiza a vertente mais dramática do seu catálogo, surgiram neste período outras composições com características novas. Lopes-Graça cultivou a partir dos anos 80 uma espécie de neoclassicismo revisitado para formações instrumentais que nunca tinham feito parte do seu catálogo.
A Sonata n.º 6, a Sinfonietta homenagem a Haydn e Geórgicas são exemplos desta última fase, obras onde também se revela através da paródia o seu peculiar sentido de humor.
Coro Lopes Graça da Academia de Amadores de Música
Na história da
música coral do nosso país há um agrupamento que há mais de meio século insiste
em deixar a sua marca distinta: o Coro
Lopes-Graça da Academia de Amadores de Música, que retira o seu nome
da memória viva do seu fundador, cujo centenário do nascimento de assinala este
ano.
Criado em 1945,
este grupo esteve sempre ligado a uma vincada intervenção política, na qual
jogou um papel crucial o ciclo de canções denominadas «heróicas», escritas por
Lopes-Graça sobre poemas de grandes nomes da nossa literatura como Mário
Dionísio, Carlos de Oliveira, João José Cochofel, Miguel Torga e José Gomes
Ferreira. Hoje o coro, dirigido pelo maestro José Robert, continua a ser uma
bandeira na frente cultural da resistência da luta contra as injustiças, pela
paz e pela liberdade, num mundo.
Sinfonietta de Lisboa
Fundada em 1995, a
Sinfonietta de Lisboa tem por base 28 instrumentistas de corda, podendo
integrar sopros ou outros instrumentos de acordo com as exigências dos
programas a executar. Apresentar-se-á este ano, na Festa do Avante!, com uma formação sinfónica exigida pelas obras de
Fernando Lopes-Graça que integralmente constituem o programa. Um dos objectivos
principais da Sinfonietta de Lisboa, enquanto membro da Associação Musical
Ricercare, é o da divulgação da música do séc. XX, em particular de
compositores portugueses.
Vasco Pearce de Azevedo
Foi na Academia de
Amadores de Música que se iniciou no mundo da música. Em 1981 entrou para o
coro da Universidade de Lisboa como ensaiador de naipe. Frequentou vários
cursos de direcção de orquestra e coro em Portugal e no estrangeiro, tendo
trabalhado com Jean Sébastien Béreau, Ernest Schelle, Edgar Saramago. Estudou
no Instituto Gregoriano de Lisboa e na Escola Superior de Música de Lisboa,
onde obtém em 1989 o Bacharelato em composição no Conservatório Nacional. Desde
1998 que é professor da Orquestra e direcção do coro da Escola Superior de
Música de Lisboa.
Como Maestro
convidado tem dirigido as orquestras Sinfónica Portuguesa, Metropolitana de
Lisboa, Nacional do Porto, Filarmónica das Beiras, entre outras.
Miguel Borges Coelho
Nasceu no Porto em 1971. Iniciou o estudo de piano com a Professora
Amélia Vilar, vindo a prosseguir mais tarde a sua formação no Conservatório de
Música do Porto com a Professora Isabel Rocha, em cuja classe concluiu o
Curso Superior. Durante esse período, foi várias vezes premiado em concursos
nacionais de piano.
Como
bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian estudou, sucessivamente, na Staatliche Hochschule fur Musik Freiburg im
Breisgau, Alemanha, onde concluiu o Aufbaumstudium, na classe do Professor Vitalij Margulis e, no
decurso dos três anos seguintes, na Escuela
Superior de Musica Reina Sofia (Madrid, Espanha), com os Professores
Dmitri Bashkirov e Galina Egyazarova, tendo frequentado ainda a classe de
Música de Câmara orientada pela Professora Martha Gulias.
Obteve o
2º Prémio e o Prémio para a melhor interpretação de música contemporânea no XIV Concurso Internacional de Música da
Cidade do Porto, em Outubro de 1997, e em 1998 o Ministério da Cultura
atribuiu-lhe o Prémio Revelação
Ribeiro da Fonte.
Tocou
em alguns dos mais importantes auditórios e teatros portugueses (fez,
nomeadamente, os recitais inaugurais do Teatro do Campo Alegre e do Auditório
de Serralves), actuando também em numerosos festivais internacionais de música,
tais como o Festival de Música de Sintra, o Festival de Música da Póvoa do
Varzim, La Folle Journée de
Nantes (França), o Festival Internacional de Música de Ayamonte ou o Encontre Internacional de Compositors de las
Islas Baleares (Espanha).
Apresentou-se
com a Orquestra Nacional do Porto (designadamente no concerto inaugural da sua
formação sinfónica), com a Orquestra APROARTE, com a Orquestra Metropolitana de
Lisboa, com a Orquestra Clássica da Madeira, com a Orquestra Filarmonia das
Beiras, com a Orquestra Gulbenkian e com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, sob
a direcção dos maestros Camil Marinescu,
Florêncio Junior, Ernest Schielle, Miguel Graça Moura, Marc Tardue, Nicholas
Cleobury, Rui Massena e António Lourenço. Tocou com músicos como Asier Pólo,
Daniel Rowland, Michal Kalka, Miguel
Rocha, Paulo Gaio Lima, Pedro Ribeiro ou o Quarteto Talich.
Fez
a estreia mundial de obras de Fernando Lopes-Graça e de João Pedro Oliveira.
Foi
professor de Piano na Escola de Música do Conservatório Nacional e na
Universidade de Évora. Lecciona actualmente na Escola Superior de Música e
Artes do Espectáculo do Porto e no Centro Superior de Música do País Vasco
Musikene.
Olga Pratz
Olga
Pratz iniciou os seus estudos no Conservatório de Lisboa, onde se formou como
pianista. Foi bolsista do Estado alemão e da Fundação Gulbenkian, tendo
posteriormente estudado na Alemanha e em Espanha em diversos cursos
internacionais. Sendo o seu trabalho muito cedo reconhecido nacional e
internacionalmente e assinalado por diversos prémios. Actuou como solista e em
concertos com numerosas orquestras portuguesas e internacionais, vindo em 1968
a estabelecer uma colaboração regular em dueto com Anabela Chaves. Foi
fundadora de um dos mais prestigiados grupos musicais portuguesa, o Opus
Ensemble, tendo igualmente estado na origem do Grupo Experimental do Teatro
Musical Contemporâneo. Olga Pratts gravou reportório de numerosos artistas
portuguesas como Constança Capdeville, bem como internacionais – Astor Piazolla
nomeadamente – mas no seu trabalho destaca-se a sua colaboração e amizade com
Fernando Lopes-Graça não apenas no reportório clássico, mas também em muitas
outras iniciativas do compositor, nomeadamente o Coro Lopes-Graça da Academia
de Amadores de Música. É professora da Escola Superior de Música de Lisboa.
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