Programa - Palco 25 de Abril - 6ª feira (7 de Set)
Quarta, 25 Julho 2007
PROGRAMA
6ª Feira – Palco 25 de Abril

Piotr Ilich Tchaikovsky
Abertura-fantasia
«Romeu e Julieta» op. 49


Serguei Prokofiev
Cantata para o 20º. Aniversário da Revolução de Outubro op. 74

I – Prelúdio – Moderato – Allegro
II – Os Filósofos – Andante assai
III – Interlúdio – Alegro – Andante – Adagio
IV – «Um Pequeno e Sólido Grupo» – Allegretto
V – Interlúdio – Tempestuoso
VI – Revolução – Andante non troppo – Più mosso – Allegro moderato – Precipitato – Adagio molto
VII – Vitória – Andante
VIII – O Juramento – Andante pesante
IX – Sinfonia – Allegro enérgico – Meno mosso
X – A Constituição – Andante assai – Andante molto


Serguei Prokofiev
Dança Matinal – «Romeu e Julieta op. 75
 
A Cantata da Revolução

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A chamada Cantata Outubro – título abreviado pelo qual ficou conhecida a Cantata para o 20º. Aniversário da Revolução de Outubro, op. 74 – começou a ser idealizada por Serguei Prokofiev no início da década de 1930, depois de o compositor se ter debruçado sobre alguns textos clássicos de Lenine e empolgado pela ideia de compor uma obra de grandes proporções inspirada pela Revolução de 1917.

Os trabalhos de composição obra tiveram início em 1936, tendo-a Prokofiev (que entretanto acrescentara ao libreto a ser executado pelo coro textos originais de Marx e Stáline) concluído no verão de 1937.


As razões por que a peça não foi então estreada mantêm-se obscuras (até porque o próprio Prokofiev terá colocado eventualmente esclarecedoras limitações), embora sejam seguramente inseparáveis da intensa batalha ideológica que opunha então na URSS formalistas e modernistas, concedendo aliás a vários questões da obra interpretações polémicas que se mantêm e acabam a constituir um efectivo índice da sua riqueza.


A extrema dificuldade na sua execução não terá sido igualmente alheia ao facto de a Cantata se ter mantido inédita até Maio de 1966 (sendo contudo significativo da importância que o autor lhe atribuiria o facto de não ter utilizado para outras obras entretanto compostas senão uma mínima sequência dos numerosos e frutíferos temas que para ela criara). À estreia não terá sido alheia a realização dos XX e XXII Congresso do PCUS, até na medida em que criticavelmente a versão editada na URSS e dirigida pelo prestigiado Cyril Kondrashin não respeita versão original realizando alguns cortes relacionados com o libreto do coro e respectivo envolvimento musical. O atraso de treze anos na estreia e os cortes então efectuados continuam, evidentemente, a ser objecto de intermináveis especulações, para as quais a melhor resposta é, como sucederá na Festa do «Avante!», a execução da integralidade da composição de Serguei Prokofief 


Prokofiev sempre gostou de utilizar grandes massas orquestrais mas jamais se tinha aventurado, até aí, a convocar um tão grande número de executantes para qualquer das suas obras anteriores. Se se pensar, apenas, na componente coral, é um gigantesco conjunto de vozes que, de facto, estará presente em palco, uma vez que ao longo da obra as vozes têm que dividir-se em dois coros e estes em nada menos que em oito partes! Quanto à formação básica da orquestra sinfónica, ela própria é aumentada de um considerável número de músicos, desde logo nos naipes de sopros – com uma dúzia de «madeiras», oito trompas, quatro trompetes, quatro trombones, duas tubas – aos quais se acrescenta um naipe reforçado de cordas – violinos, violas, violoncelos e contrabaixos – e a habitual secção de percussão, tímpanos, harpas e teclados.


Mais ainda, em momentos particularmente importantes e exigentes da Cantata – e cujo significado e ilustração sonora justificariam um instrumentário mais diversificado e adequado – Prokofiev necessitou de fazer apelo a três agrupamentos instrumentais extra: uma pequena orquestra de acordeões (o bayan russo, passível de ser substituído, no todo ou em parte, por concertinas ou instrumentos da mesma família), portanto uma evocação do domínio da música popular e cuja inclusão se faz ouvir, num brilhante efeito de surpresa, no sexto andamento, Revolução; uma «banda militar» constituída por instrumentos das famílias dos metais e dos saxofones que se ouve em fundo, nos bastidores do palco; e, finalmente, toda uma panóplia de dispositivos de percussão comuns, sirenes de alarme, megafones ou ruídos de passos em marcha ou de disparos de vários tipos de armas, capazes de traduzir uma crescente atmosfera sonora de confronto e batalha, para além da própria voz de Lenine.
Nunca tocada no Ocidente e sobretudo conhecida em versões de diversa duração e amplitude nos ex-países socialistas do Leste Europeu, a Cantata para o 20º. Aniversário da Revolução de Outubro, op. 74 acabou por ter a sua estreia integral em 6 de Junho de 1992 no Royal Festival Hall (Londres) sob a direcção de Neeme Järvi.


Obra de grande impacte sonoro e instrumental e de um significado que ultrapassa a própria qualidade estética e musical, inúmeros momentos da estratégia de escrita da Cantata Outubro estão à altura de outras grandes obras-primas de Prokofiev cujo conteúdo temático e dramatúrgico é relativamente próximo ou equiparável, como a Ode para o Fim da Guerra, Alexandre Nevsky ou a ópera Guerra e Paz. Mas a trajectória musical de Sergei Prokofiev – tanto nos seus primeiros tempos de compositor na Rússia czarista como depois no Ocidente (EUA, França, Alemanha) onde se radicou após a Revolução de 1917, como mais tarde no seu regresso à União Soviética em 1936, contem uma riqueza que se traduz em grandes obras de muito diversa configuração composicional e instrumental como a ópera O Amor das Três Laranjas, o bailado Romeu e Julieta, o conto musical para crianças Pedro e o Lobo, a Primeira Sinfonia («Clássica») ou a Quinta Sinfonia (op. 100), o Terceiro Concerto para Piano, a música para os filmes Ivan, O Terrível ou O Tenente Kije, a Sétima Sinfonia, o bailado Flor de Pedra, o Segundo Quarteto de Cordas ou a Sinfonia Concertante para Violoncelo e Orquestra, entre tantos outros. 

Romeu e Julieta

A noite de sexta-feira no palco «25 de Abril» da Festa contém duas obras de compositores russos dedicadas ao mesmo tempo: Romeu e Julieta, seguramente uma das mais versadas narrativas do imaginário europeu, com expressões na música, no teatro, na literatura, na poesia, no cinema.
Só a paixão muito portuguesa de Pedro e Inês de Castro talvez com eles rivalize, mas se é verdade que a versão definitiva dessa hoje nossa memória surge com a peça de Shakespeare (1597), ela tem raízes bem mais antigas: há autores que a atribuem às Metamorfoses de Ovídio, seguindo-se um sem número de variantes de vário âmbito e qualidade, mas que, ao longo de se séculos, não deixaram de manter acesa esse infindo e humano enlace do amor e da morte.
No que se refere à música, é inquestionavelmente após Shakespeare que o tema entra no universo dos compositores, talvez com primazia para Bellini em 1830. Mas é o inquestionável apaixonado  Tchaikovsky que, em 1869 e com êxito devastador, coloca musicalmente Capuletos e Montechios em cena musical. Dessa peça fez o autor diversas variações e é uma que ouviremos, especialmente adequada, por um lado, exactamente à abertura  de um concerto sinfónico e, por outro, com uma sonoridade eslava que é um abrir de cena ao modernismo igualmente eslavo da Cantata de Prokofiev. A encerar o concerto, um curioso apontamento: o Prokofiev das grandes massas orquestrais, o Prokofiev apaixonado pela sonoridade ruidosa da História que renasce em Outubro de 1917, também ele foi sensível a entretecer notas e sons sobre essa paixão que acaba apenas em dois corpos enlaçados apenas pelo seu irresistível amor. Orquestra Sinfonieta de Lisboa Coral Lisboa Cantat
De especial exigência, quer pelas dimensões orquestrais e corais requeridas pela obra, que pela sua complexidade (recorde-se que o libreto, elaborado por Prokofiev sobre textos originais de Marx, Lenine e Staline, será cantado em russo, o que que requereu a sua transcrições fonética!), o concerto de abertura da 31ª Festa do «Avante!» contará novamente com a participação da Orquestra Sinfonieta de Lisboa, criada em 1995 e dirigida pelo maestro Vasco Pearce de Azevedo e que integra já hoje com toda a propriedade o panorama musical português. Para uma composição com as exigências, nomeadamente da da Cantata Outubro, a orquestra será reforçada (note-se por, exemplo, a necessidade de cinco acordeãos e de uma banda militar!) atingindo o número de instrumentistas o invulgar total de cerca de uma centena (o que, aliás, implicou algumas adaptações do palco «25 de Abril»!). Acrescente-se que a Cantata requer ainda un conjunto ede efeitos sonoros de especial modernidade aquando da sua composição (anos 30), como sejam efeitos sonoros pré-gravados de sirenes, armas de fogo automáticas e até a reprodução (das raras existentes) de própria voz de V. I. Lenine, conjunto de montagens que foram realizadas especialmente para estes espectáculo.

 

Coro Sinfónico Lisboa Cantat  

 

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O Coro Sinfónico Lisboa Cantat iniciou as suas actividades no ano de 1977, tendo participado,  em Portugal, em diversos festivais de música, encontros corais e actividades promovidas por autarquias. São de destacar as suas participações no Festival de Coros do Algarve, no Festival de São Roque, e ainda concertos nas principais cidades do País e região autónoma da Madeira. Em Lisboa actuou em salas como o Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, o Pequeno Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, a Aula Magna e a Igreja de São Roque.

 

No Porto,  tem actuado por diversas vezes na Casa da Música com a Orquestra Nacional do Porto.  Nos últimos anos, participou em algumas importantes iniciativas,  com programas de inegável qualidade e diversidade. Em Abril de 2007, interpretam na Casa da Música do Porto a peça que trazem à Festa do Avante!, a Cantata Outubro, de Prokofiev,  em conjunto com o Coral de Letras da Universidade do Porto e a Orquestra Nacional do Porto,  sob a direcção do Maestro Martin André.  Entre Março e Abril deste ano,  participa na Messa da Requiem,  de Giuseppe Verdi, no Centro Cultural de Belém e no Teatro Azul em Almada, em parceria com o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa, sob a direcção do Maestro Donato Renzetti. Do seu repertório mais recente, consta ainda a interpretação de obras de Haydn, Händel, Schönberg,  Brahms, Beethoven, Rossini,  entre outros. É também de destacar as digressões em países como Espanha, França ou Alemanha.  

O Coro Sinfónico Lisboa Cantat conta actualmente com uma centena de elementos e é dirigido pelo maestro Jorge Alves, como maestro titular, e Clara Coelho,  como maestrina assistente.  

 

Sinfonietta de Lisboa

 

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Fundada em 1995, a Sinfonietta de Lisboa tem como base os instrumentos de corda, podendo também integrar sopros ou outros instrumentos. A direcção está a cargo do maestro Vasco Pearce de Azevedo. Um dos objectivos da Sinfonietta de Lisboa,  é divulgar a música do Século XX, em particular, de compositores portugueses contemporâneos, sendo neste contexto que se inserem as várias estreias absolutas que têm vindo a ser realizadas de obras encomendadas a compositores como Eurico Carrapatoso, Sérgio Azevedo, Carlos Fernandes, Vasco Pearce de Azevedo, Carlos Caíres e Ivan Moody.  Os convites para actuações nas mais prestigiadas salas nacionais e internacionais, bem como, a participação em espectáculos de artistas como Carlos do Carmo, Mariza, Carlos Martins,  comprovam o elevado prestígio que é conferido a esta formação clássica de Lisboa.  

Para executar a Cantata Outubro, obra de grande exigência,  a orquestra será reforçada (note-se por, exemplo, a necessidade de cinco acordeãos e de uma banda militar!)atingindo o número de instrumentistas o invulgar total de cerca de uma centena (o que, aliás, implicou algumas adaptações do palco «25 de Abril »!).  Acrescente-se que a Cantata requer ainda um conjunto de efeitos sonoros de especial modernidade aquando da sua composição,  como sejam efeitos sonoros pré-gravados de sirenes, armas de fogo automáticas e até a reprodução (das raras existentes) de própria voz de V. I. Lénine, conjunto de montagens que foram realizadas especialmente para este espectáculo.   


Vasco Pearce de Azevedo

vasco-pearce-azevedo Foi na Academia de Amadores de Música que se iniciou no mundo da música. Em 1981 entrou para o coro da Universidade de Lisboa como ensaiador de naipe. Frequentou vários cursos de direcção de orquestra e coro em Portugal e no estrangeiro, tendo trabalhado com Jean Sébastien Béreau,  Ernest Schelle, Edgar Saramago.  Estudou no Instituto Gregoriano de Lisboa e na Escola Superior de Música de Lisboa, onde obtém em 1989 o Bacharelato em composição no Conservatório Nacional. Desde 1998 que é professor da Orquestra e direcção do coro da Escola Superior de Música de Lisboa.  Como Maestro convidado tem dirigido as orquestras Sinfónica Portuguesa, Metropolitana de Lisboa, Nacional do Porto,  Filarmónica das Beiras, entre outras.