À CLASSE OPERÁRIA,
A TODOS OS TRABALHADORES,
AO POVO!
O Partido Comunista Português, com a autoridade que lhe dá a sua
acção de dezenas de anos à frente da luta dos trabalhadores
e do povo contra a opressão fascista e a exploração capitalista,
vem alertar-vos contra os graves perigos da hora presente, contra os manejos
daqueles que tentam dividir o movimento popular de massas, cindir a sua aliança
com o Movimento das Forças Armadas e abrir caminho contra-revolução.
Estamos perante o conluio dos elementos mais reaccionários ainda não
desalojados das suas posições pelo movimento de 25 de Abril, os
quais, com a ajuda consciente de grupos de aventureiros ditos de esquerda, procuram
empurrar a situação para o caos económico e destruir as
conquistas democráticas até agora alcançadas.
Tais elementos, manobrando com a miséria dos trabalhadores que provocaram
em dezenas de anos de exploração, mostram-se agora singularmente
solícitos e generosos em relação às suas reivindicações,
provocando a ruína e a falência das pequenas e médias empresas
e a corrida a salários acima das possibilidades de muitos sectores e
da própria economia nacional, acirrando a concorrência artificial
entre os trabalhadores. Numa dupla fase desta manobra, elementos suspeitos de
ligações com o alto patronato, e mesmo certos administradores
de empresas importantes, estão fomentando greves em sectores-chave dos
transportes e do abastecimento públicos provocando o descontentamento
popular contra a nova ordem democrática resultante do movimento vitorioso
de 25 de Abril.
A greve da Carris, habilmente incentivada por elementos responsáveis
da administração, está desorganizando os transportes urbanos
da capital, afectando seriamente outras actividades produtivas e comerciais
e a própria vida da cidade.
Por outro lado, a greve dos padeiros foi fomentada por industriais de panificação
e por reconhecidos agentes fascistas anteriormente alojados no sindicato da
classe. Esta greve não tem a concordância da imensa maioria dos
operários da panificação. Objectivamente, provoca carências
na vida dos trabalhadores e das famílias mais modestas, que são
os principais consumidores do pão, e os industriais tudo fazem para impedir
o regresso ao trabalho destes grevistas à força, que não
desejam afinal perturbar o abastecimento regular daquele género de primeira
necessidade.
Estas manobras, daqueles que estão interessados na contra-revolução
e no retorno do fascismo, são facilitadas pela acção de
grupos e grupelhos aventureiros que sob uma fraseologia de esquerda estão
dando o flanco às manobras contra-revolucionárias e a provocar
a confrontação violenta com as forças policiais, como se
verificou com as acções de rua a propósito do caso do capitão
Peralta numa altura em que se estão realizando conversações
com os representantes da República da Guiné-Bissau para pôr
fim à guerra e encontrar uma solução política para
o reconhecimento do direito dos povos à autodeterminação
e à independência e se procura no plano jurídico obter a
liberdade daquele cidadão cubano.
A classe operária e todos os trabalhadores têm de estar vigilantes,
têm de compreender o sentido das profundas transformações
políticas ocorridas no País e defender firmemente as liberdades
alcançadas. Os operários portugueses não se prestarão
a ser utilizados contra o regime democrático saído do movimento
de 25 de Abril e contra o Governo Provisório, em que o PCP, o Partido
da classe operária, está representado.
Nas condições actuais, a arma da greve deve ser cuidadosamente
usada e só depois de esgotadas outras formas de luta através da
negociação com o patronato e quando a resistência dos patrões
impeça a conquista de reivindicações realistas.
Por outro lado, as massas populares devem desmascarar e repelir as solicitações
dos demagogos e dos aventureiros de esquerda, que, interessados em fazer fracassar
o actual processo de democratização do País, demonstram
uma incompreensão total das mudanças ocorridas ao colocar palavras
de ordem em absoluto deslocadas da situação concreta e das disposições
actuais da classe operária e do povo.
As massas populares têm a possibilidade real de defender as liberdades
e direitos conquistados.
Para tal, é necessário impedir que se arrastem os conflitos
sociais, que a vida económica e social seja gravemente afectada por greves,
que a desorganização da produção dos transportes
e dos abastecimentos provoquem um amplo descontentamento que a contra-revolução
se esforçará por aproveitar.
O PCP confia em que os trabalhadores compreenderão que cortar o caminho
à contra-revolução e consolidar as liberdades democráticas
é a principal tarefa nesta hora decisiva. A impaciência na luta
pela satisfação de reivindicações, por muito justas
que sejam, pode criar condições propícias à reacção
fascista, ao regresso da tirania fascista, que seria ainda mais cruel e sangrenta.
Os trabalhadores portugueses, que sofreram dezenas de anos de opressão
e de terror, tudo farão para que tal não suceda.
Com justa compreensão da situação política, das
possibilidades e perspectivas, as liberdades podem ser alargadas, poderão
preparar-se e realizar-se eleições livres, o povo poderá
escolher o regime que entender.
É confiantes nesta perspectiva que os trabalhadores portugueses devem
concentrar as suas energias.
|