| Partido e Juventude Questões de importância estratégica |
Membro da Comissão Política do CC do PCP
O carácter revolucionário do PCP define e exige a amplitude e a correcção do conteúdo da estratégia para a juventude. A defesa dos direitos da juventude é indissociável da construção duma democracia avançada e do objectivo do socialismo. Da influência do PCP na juventude e da adesão entre a juventude ao ideal comunista depende o rejuvenescimento e o reforço da intervenção do Partido. Para a afirmação e o reforço do Partido junto da juventude é essencial a existência e a acção da organização autónoma dos jovens comunistas, a JCP.
Partimos do papel que deve ser atribuído à juventude na sociedade do seu tempo e do lugar que vai ocupar no futuro e de que a sua situação e os seus problemas são inseparáveis da situação e dos problemas da sociedade em geral que impedem que amplas camadas da juventude realizem os seus objectivos e a sua capacidade de participar na vida económica, social, política e cultural. Intervimos para que o poder e a sociedade respeitem e valorizem as capacidades produtivas e criativas da juventude.
A política para a juventude é transversal a várias políticas sectoriais. O PCP ao defender políticas de esquerda na área do trabalho, do ensino, da família, da segurança social, da habitação, da saúde, da toxicodependência, dos direitos sexuais e reprodutivos, da cultura, do associativismo e da paz entre outras, está a defender importantes interesses e direitos da juventude.
Como Partido exigimos muito de nós nesta área, atribuímos grandes responsabilidades aos sectores juvenis e pedimos muito aos jovens que aderem ao projecto comunista. Não é de forma nenhuma contraditório, antes é necessário o nosso trabalho conciliar e enriquecer-se com os gostos, interesses e conhecimentos da juventude, com a sua disponibilidade e vontade para discutir os mais diversos temas e interrogações, com o espírito muito particular da sua forma de pensar e de estar, de se relacionar e de reagir, com a profundidade da luta, das respostas necessárias e das exigências que as responsabilidades da JCP e do Partido implicam. Com perspectivas diferentes, não são raras as vezes que nos confrontamos com incompreensões do que isto significa num partido revolucionário que responde ao imediato e se preocupa com o futuro.
A iniciativa envolvente e mobilizadora da juventude, a proposta e a intervenção em defesa dos seus direitos são decisivas para a adesão de jovens ao Partido. Para o presente e o futuro do Partido, não chega cativar a simpatia de momento. É necessário, no próprio meio juvenil, contribuir para a análise e para a consciência dos seus problemas específicos e da evolução da sociedade, do conteúdo de classe dos vários fenómenos sociais e mobilizar para a resposta organizada, coerente e transformadora.
A par da mobilização para lutas imediatas, é indispensável a afirmação das nossas alternativas, da nossa diferença e do nosso projecto de sociedade. É necessário que seja cada vez mais alargado entre os jovens o reconhecimento de que os comunistas são os únicos que intervêm para transformar radicalmente a sociedade.
Vivemos num meio e num momento marcados por uma profunda ofensiva política e ideológica contra a mudança progressista da sociedade e, particularmente, contra o PCP. Não é novo, só tem formas adaptadas ao presente. É neste meio que intervimos e é deste meio que saem os jovens estudantes e trabalhadores que aderem à organização da juventude comunista, ao ideal comunista e ao Partido. Esta atitude será tanto mais alargada quanto mais profunda for a afirmação e a intervenção da JCP, e mais valorizada e conhecida for a acção do Partido.
Queremos ter e não podemos deixar de ter na JCP e no Partido jovens alegres, descontraídos, disponíveis e confiantes, profundos na análise, conhecedores dos problemas, proponentes e concretizadores. Exige-se que dêem respostas rápidas e originais, que intervenham em estruturas associativas e movimentos juvenis e sociais, que correspondam às suas naturais motivações e que estejam mobilizados e sejam mobilizadores. Considera-se essencial o convívio, mas ao mesmo tempo precisa-se que correspondam às suas próprias tarefas e iniciativas assim como às tarefas e iniciativas do Partido. É indispensável apresentá-los nos números e na imagem. Tudo isto, é verdade, mas ainda mais está reservado para grande parte destes jovens. Eles darão continuidade ao Partido, factor de grande importância na nossa estratégia na área da juventude.
Os jovens comunistas formam-se essencialmente na acção, na luta, na profunda ligação à juventude e à sociedade, na sua identificação com as orientações do Partido, na análise e na resposta ideológica a cada situação concreta, seja no reforço da sua organização partidária seja na sua acção unitária. Formam-se e prepararam-se, também, no conhecimento histórico do Partido, no respeito pelos princípios do funcionamento da JCP e do Partido, no aprofundamento da teoria revolucionária e na sua própria experiência partidária. Esta sua acção contribuirá para assumir e defender hoje e no futuro a identidade do Partido e a sua intervenção de classe na sociedade.
A influência do PCP entre a juventude é uma preocupação justamente expressa por grande parte do Partido. Para nós, influenciar a juventude significa que amplos sectores juvenis identifiquem os seus anseios e as suas reivindicações com as propostas e a intervenção da JCP e do PCP, assente na análise da sua própria situação, das causas e dos responsáveis. Ao longo dos anos, em momentos diferentes e em torno de problemas diversos as posições da JCP e do Partido têm merecido amplos apoios de massas juvenis. Foi o que aconteceu com importantes lutas como por exemplo na luta contra a PGA (Prova Geral de Acesso) e as propinas, pela suspensão da revisão curricular e pela legalização da IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez).
Sucessivas gerações de jovens têm tido com o PCP convergência de acção e de luta de grande importância para os seus direitos o que tem, com certeza, reflexos na consciência social e política. O facto de ser mais ampla e mais concentrada e por isso mais visível a adesão do movimento estudantil às nossas posições na área do ensino, o que se deve essencialmente à acção da JCP nas escolas, não leva à consideração de que a nossa influência junto da juventude se limita a este sector.
Não podemos nem temos a pretensão de fazer extrapolações para o apoio ao PCP, mas sublinhamos e valorizamos que, nos últimos anos se reforçou visivelmente a participação de jovens em grandes lutas de vários sectores de trabalhadores, contra despedimentos e o encerramento de empresas, por aumentos salariais, pelas 40 horas, contra o pacote laboral, lutas estas que correspondem a grandes causas pelas quais o PCP se tem empenhado e tem procurado fazer chegar as suas posições às empresas e aos locais de trabalho.
É necessário que a JCP e o Partido aprofundem muito mais o trabalho junto dos vários sectores da juventude. Só assim informamos mais, conhecemos melhor os problemas e os estados de espírito e vencemos a ignorância de muitos jovens sobre a vida política e sobre as causas e consequências das políticas que afectam a juventude.
Não só o voto traduz a influência do PCP e não só após eleições nos preocupamos com o trabalho junto da juventude, mas é muito preocupante não conseguirmos a expressão política e eleitoral correspondente à coerência e à profundidade da nossa intervenção em relação à juventude. Um significativo reforço eleitoral junto desta camada é essencial para termos mais condições de intervenção e de realização dos nossos objectivos sociais e políticos.
Vulgarmente diz-se que os outros partidos só querem o voto dos jovens. Querem de facto o voto, mas é ilusório pensar-se que é só isto que querem. O voto é um elemento para o poder dominante continuar a dominar mentalidades, consciências e formas de estar. A acção dos partidos da burguesia, da direita ou com capa mais ou menos de esquerda, instrumentalizam a juventude e têm em vista manter uma grande parte da sociedade receptiva à demagogia do discurso, disponível para aceitar e resignar-se com a vida de hoje e assim engrossar uma geração de trabalhadores com direitos reduzidos, uma geração que, ainda que com recordações, não seja interveniente, nem consequente na luta pelo progresso social.
O eleitorado juvenil é alvo político preferencial. Há partidos que depois das eleições rasgam as propostas eleitorais e durante as campanhas eleitorais encobrem as nefastas políticas que realizaram. É a mistificação da política, é a caça ao voto. São, também, utilizados conteúdos e formas que revelam profunda irresponsabilidade, utilização de fragilidades e instrumentalização de problemas sentidos pela juventude.
A receptividade ao nosso discurso pela juventude não é fácil. É necessário torná-lo mais atractivo através duma maior valorização do trabalho realizado e das principais propostas para a juventude, do reforço da demonstração da nossa diferença, pela sociedade que defendemos no quadro do ideal comunista, da valorização da luta juvenil e da afirmação da confiança no papel da juventude para a verdadeira mudança que se impõe.
Estamos longe de conhecer em toda a sua extensão as tendências de voto dos eleitores jovens, mas é preocupante a grande abstenção e a predominância do voto da juventude nos partidos da direita e no Partido Socialista que, aliás, tem levado a cabo uma política de direita que afectou profundamente os interesses dos jovens e a permeabilidade à demagogia e à fraseologia esquerdista que engana e se serve da juventude e da sua susceptibilidade à “novidade” para servir os seus interesses políticos.
É necessário conhecer e sistematizar os resultados eleitorais nas mesas de voto dos novos eleitores e procurar identificar o apoio eleitoral à CDU relativamente aos resultados em geral.
A preocupação com a influência do Partido junto da juventude deve traduzir-se em mais medidas concretas a todos os níveis de responsabilidade da organização e na valorização do trabalho do Partido e da JCP em defesa dos direitos, da qualidade de vida e da promoção da juventude.
O trabalho e a intervenção do Partido junto da juventude é tarefa de todos os organismos do Partido. É necessário haver mais conhecimento e consciência das propostas e da iniciativa em defesa dos direitos dos jovens; conhecer e dar a resposta adequada à realidade dos jovens em cada região; reforçar e apoiar as organizações e a intervenção da JCP, particularmente agora à realização do seu VII Congresso; melhorar a articulação do trabalho entre o Partido e a JCP, pois a experiência mostra que quando assim se trabalha há progressos visíveis no sentido do necessário rejuvenescimento do Partido e integração na reflexão do Partido dos indispensáveis contributos da JCP.
Confirma-se as potencialidades de trabalho nesta área, potencialidades que estamos longe de concretizar tanto na dinâmica da acção junto de amplos sectores da juventude como no reforço e no rejuvenescimento da organização do Partido. À JCP aderiram entre Janeiro e Maio deste ano cerca de 500 novos camaradas. A atracção de camadas mais jovens pelo Partido tem uma relação muito estreita com a acção concreta das duas organizações e com a intervenção da JCP. Entre outras, o recrutamento, a integração e a responsabilização de quadros jovens nos organismos do Partido, deve constituir uma das prioridades do nosso trabalho. Sublinhamos que na última campanha de recrutamento para o Partido cerca de 40% dos novos membros têm menos de 30 anos. Precisamos dar novos passos na articulação PCP/JCP para irmos mais além neste objectivo.
A integração e responsabilização de quadros mais jovens nas tarefas do Partido teve, nestes últimos anos, alguns avanços, ainda insuficientes, que ao concretizarem-se necessitam de apoio e atenção para aprofundamento do trabalho colectivo e motivação de cada novo quadro responsabilizado.
Das muitas áreas que exigem reflexão e trabalho conjunto entre Partido e JCP, a dos jovens trabalhadores é absolutamente urgente. Há grandes mudanças que, visivelmente, temos tido dificuldade em acompanhar. Mas também aqui se estão a revelar potencialidades às quais devemos dar uma maior atenção.
O reforço da influência do Partido junto da juventude leva ao reforço do Partido junto de outros grupos sociais. O Partido precisa de concretizar de forma mais ampla a sua estratégia para a juventude.
«O Militante» - N.º 259 Julho /Agosto de 2002