Lutar e organizar,
organizar e lutar!

 

Quando este número de “O Militante” tiver chegado às mãos dos seus leitores, terão já passado as celebrações do 1º de Maio e com elas um vasto conjunto de iniciativas, desfiles e manifestações com que tradicionalmente é celebrado em Portugal o Dia Internacional do Trabalhador. Esse será um bom momento para as Organizações do Partido, avaliando a importância e significado político daquelas celebrações, fazerem simultaneamente o balanço das lutas, do papel nelas desempenhado pelos comunistas, das experiências positivas e negativas que comportem, das indicações que dêem quanto ao estado de espírito das diferentes classes, camadas e sectores da população e as perspectivas de desenvolvimento ulterior da luta de massas. E também, e não menos importante, para avaliar os resultados reais ou potenciais em matéria de reforço orgânico do Partido, que delas resultem.

O Partido são todos e cada um dos seus membros. Onde está um comunista deve estar um construtor do Partido preocupado com o alargamento das suas fileiras, empenhado em fortalecer (e mesmo construir ou reconstruir) as bases do Partido, a começar pelas empresas e outros locais de trabalho com grande número de trabalhadores. É particularmente importante que os membros do Partido, seja qual for a área predominante da sua intervenção (local de trabalho, local de residência, sindicato, autarquia, colectividade, movimento social, etc....) nunca percam de vista a bem conhecida palavra de ordem “lutar e organizar, organizar e lutar”.

Nos últimos meses tiveram lugar numerosas lutas e acções de massas que, como as grandes manifestações organizadas pela CGTP de 24 de Março, mobilizaram muitos milhares de trabalhadores e em que certamente se revelaram e destacaram homens, mulheres e jovens que merecem estar, e precisamos que venham a estar, no Partido. Aliás a experiência mostra que, de um modo geral, os melhores e mais dedicados militantes são aqueles que se revelaram e destacaram no movimento de massas, nas lutas contra a exploração capitalista e contra a política de direita dos governos que a servem. Conhecê-los, aproximá-los do Partido, dar-lhes a conhecer a História e o Programa do PCP, recrutá-los e integrá-los sem demora num colectivo, deve constituir uma preocupação permanente da nossa acção revolucionária. “Quem se revelou, quem se destacou?”, eis uma pergunta que seria bom que estivesse sempre presente na hora de avaliar cada luta e, de um modo geral, os resultados da acção do Partido entre as massas.

O crescimento, renovação e rejuvenescimento do Partido passam em larga medida pela capacidade para combinar e articular o trabalho de organização com a intervenção nas estruturas do movimento popular, na luta social, na acção política. E por uma atitude de “recrutamento activo”, indo decididamente ao encontro de quem reuna condições para vir ao Partido. Só assim será possível aproveitar as grandes possibilidades de recrutamento inerentes ao desenvolvimento do movimento popular. Só assim poderemos aproveitar as possibilidades de recrutamento abertas pelas próximas eleições autárquicas. Estas que são a grande batalha política do ano - em que teremos de concentrar muitos meios, quadros e energias, em que forçosamente estabeleceremos contacto com milhares de simpatizantes e amigos do Partido, e que aproximará de nós generosidades e talentos que desconhecíamos - deve ser também encarada na perspectiva do fortalecimento orgânico do Partido.

As condições políticas gerais, apresentando aspectos contraditórios e dificuldades reais (de que a repressão nos locais de trabalho ou o controle férreo da comunicação social pelas classes dominantes são exemplo) são globalmente favoráveis ao Partido.

Tanto em relação à situação no país como à situação na Europa e no mundo, a vida está a dar razão ao PCP em aspectos essenciais da sua análise e das suas previsões. Aí estão, cada vez mais acessíveis à compreensão das grandes massas e de quantos deram ao PS o crédito de confiança que nós lhe negámos, as desastrosas consequências das políticas de direita dos executivos do Engº Guterres. Os resultados da política de classe dos Governos do PS, ao serviço do grande capital, articulada com os partidos da direita em todas as questões estruturantes - sistema económico, regime político, política externa - tornam-se mais nítidas com o crescimento do endividamento externo, o deficit da balança comercial, a inflação, a quebra do crescimento. Os problemas sociais e das populações, acumulam-se sem solução à vista, geram desilusão e descontentamento crescente, minam a base de apoio do governo PS. Em contraste com a acumulação de lucros desmesurados, os salários e as pensões não cessam de se degradar, continua a alastrar o trabalho precário e a super-exploração dos trabalhadores, sobretudo imigrados. A política externa e de defesa do governo e a submissão em relação à NATO e às grandes potências da U.E., são objecto de crescente contestação. O PS e o seu governo dão evidentes mostras de nervosismo, incompetência e incapacidade para ultrapassar as próprias contradições e fugir à crise. Tudo isto, não obstante a sistemática pressão anticomunista e frequentes campanhas visando desacreditar o PCP, abre espaço à intervenção do Partido, à compreensão da sua mensagem política, ao necessário progresso da sua influência social, política e eleitoral.

Voltadas para as tarefas do presente e com os olhos postos no futuro socialista de Portugal, as celebrações do 80º aniversário do nosso Partido têm constituído - e vão continuar a constituir ao longo do ano - uma ocasião privilegiada para divulgar uma História ímpar de luta ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país, e sublinhar a extraordinária actualidade de ideais, valores, objectivos, que são o segredo da vitalidade do PCP e do seu profundo enraizamento na classe operária e nas massas. As realidades, as tarefas, aspectos importantes nos métodos de organização e nas formas de luta, modificaram-se profundamente ao longo do tempo. O PCP atravessou no decurso da sua História situações muito diversas que, desde a mais rigorosa clandestinidade à participação nos governos provisórios do período revolucionário, puseram à prova a sua capacidade para encontrar respostas acertadas para novas situações e problemas, para se renovar de acordo com as exigências da vida e as lições das experiências, próprias ou alheias. E sendo certo que o PCP não escapou a atrasos, erros e desacertos inevitáveis, não é menos certo que a História do Partido testamunha um rico percurso de criatividade revolucionária de que podemos legitimamente orgulhar-nos. Ao contrário do que pretendem os nossos adversários, a História do PCP é tudo, menos a de um partido fechado, esquemático, dogmático, parado no tempo. E isso por razões fundamentais que configuram a própria natureza de classe e identidade comunista do nosso Partido, nomeadamente as suas profundas raízes na classe operária e nas massas populares e a sua teoria revolucionária, o marxismo-leninismo, ele mesmo em constante desenvolvimento em relação com o movimento da sociedade e a prática revolucionária.

A implementação das decisões do XVI Congresso, em particular aqueles que visam ultrapassar debilidades e problemas no nosso trabalho de organização, devem apoiar-se, como o próprio Congresso sublinhou, na valorização do rico património de experiências positivas que a História do nosso Partido encerra. Mas devem também apoiar-se no que de mais avançado e fecundo encerra a história do movimento operário e comunista e o processo de emancipação social e humana. É isto que temos em vista ao assinalar os 130 anos da Comuna de Paris. Há a efeméride, tão exaltante de coragem e ousadia proletária quanto sinistra de reaccionarismo e violência burguesa. Mas há sobretudo os ensinamentos teóricos que o génio de Marx soube extrair da gesta da Comuna, nomeadamente em relação às questões do Partido, do Estado, da política de alianças da classe operária e muitas outras.

E que, conservando surpreendente frescura e actualidade, são de inestimável valor para a luta dos comunistas.

«O Militante» - N.º 252 - Maio/Junho 2001