Artigo de Ruben de Carvalho no «Diário de Notícias»

«Preemptive (1)»

Um interessantíssimo artigo de Arthur Shlesinger Jr. sobre a guerra do Iraque (NYRB, 23/X: Eyeless in Iraq) chamou-me a atenção para um pormenor de especial significado sobre a nova «doutrina Bush» e que os tropeços das línguas e tradução faz passar despercebido.

De forma breve, o novo conceito de defesa de Washington institui o recurso a guerra preventiva, de que o primeiro exemplo foi o Iraque. Sucede, porém, que a expressão utilizada a 1 de Junho em West Point por George W. Bush nem sequer é preventive war mas sim preemptive war - assinalável diferença.

Em rigor, o termo preemptivo existe em português, embora na essência confinado à terminologia jurídica. Trata-se do adjectivo de preempção, que designa o pacto acessório de uma compra e venda pelo qual o comprador se obriga a não vender a terceiro a coisa comprada sem a oferecer por igual preço ao primitivo vendedor. É, de resto, um conceito antigo na jurisprudência portuguesa, o pactum protimiseos. Conceito que, como é evidente, não é qualificante relativamente a uma acção militar, o que levou legitimamente a que o preemptive de Bush fosse traduzido entre nós como preventivo, assim se perdendo o inquietante significado da modificação das palavras inglesas. (Conclui amanhã)

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