Intervenção, Comício do AKEL de Chipre

Intervenção de Jerónimo de Sousa, no Comício do AKEL

Recebam as calorosas saudações e um abraço fraterno de solidariedade do Partido Comunista Português. Solidariedade dos comunistas portugueses ao povo cipriota e à vossa tenaz e prolongada luta pela reunificação da vossa pátria, e muito especialmente aos comunistas cipriotas e ao seu partido de sempre, o AKEL. Solidariedade assente e forjada nos princípios do internacionalismo proletário, profundamente comprometida com as aspirações e direitos dos trabalhadores e dos nossos povos e que mais forte será quanto mais fortes forem cada um dos nossos dois partidos e a nossa luta por um futuro de justiça, paz, progresso e socialismo.

1974 é um ano marcante na História dos nossos dois países. Em Portugal, no dia 25 de Abril, o povo português levou a cabo uma revolução democrática e nacional - a revolução dos cravos - que pôs fim a meio século de ditadura fascista, conquistou a liberdade, realizou profundas transformações económicas e sociais e abriu alamedas de esperança para o desenvolvimento e o progresso do nosso País. Aqui no Chipre, no outro extremo da Europa, poucos meses depois, nesse mesmo ano de 1974, o vosso País foi fustigado por um terrível acontecimento de sentido diametralmente oposto: o golpe de estado, a invasão, divisão e ocupação do vosso país pelas forças de ocupação turcas com todas a atrocidades, ilegalidades e crimes que tantas feridas deixaram e que tanto fizeram - e ainda hoje fazem - sofrer o vosso povo.

Um autêntico crime concretizado a partir de uma conspiração da NATO aprovada em 1973 numa sua reunião no então Portugal fascista. Um crime bem demonstrativo da natureza e reais intenções desta organização, recentemente reafirmadas e aprofundadas com a aprovação do novo conceito estratégico da NATO na cimeira de Lisboa e posto agora em prática com a agressão imperialista ao povo Líbio.

Um crime e uma situação de gritante desrespeito pelos direitos humanos e a Carta das Nações Unidas, cuja continuação até aos dias de hoje é da responsabilidade, em primeiro lugar, da potência ocupante – a Turquia -, mas também da chamada “comunidade internacional” - e em particular das principais potências imperialistas – que, por via de uma política de dois pesos e duas medidas, tem vindo a manifestar a sua tolerância e mesmo apoio à estratégia de ocupação, divisão, colonização e assimilação prosseguida pelas forças ocupantes turcas em claro desrespeito pelo direito internacional. Mas, se 1974 é um ano que no Chipre se recorda com profunda tristeza, ao olharmos para este comício, para o seu ambiente e conteúdo, para o profundo simbolismo de que está carregado ao juntar as duas comunidades, cipriotas-gregos e turco-cipriotas, então facilmente concluímos que a frase que milhões de portugueses gritaram durante e após a revolução portuguesa - e que ainda hoje continuamos a gritar - é profundamente actual e válida aqui e hoje no Chipre.

Ao olharmos para este comício e para a sua força pensamos ser adequado dizer que também aqui no Chipre “O Povo unido jamais será vencido”. É por isso que aqui, perante todos vós – cipriotas gregos e turco-cipriotas – vos queremos manifestar o nosso solidário apoio e a nossa confiança na vitória da vossa longa e corajosa luta.

Apoio e confiança no vosso empenho em resistir às tentativas de divisão do povo cipriota e em insistir na política de reencontro e de solidariedade recíproca entre as duas comunidades cipriotas, bem demonstrada na vossa solidariedade para com as recentes manifestações sociais na parte ocupada do vosso país. Apoio e confiança na vossa persistência em construir a única, justa e viável solução para o problema cipriota – uma federação bizonal e bicomunal, um Chipre reunificado com uma única cidadania, uma única personalidade internacional e uma única soberania. Apoio e confiança no vosso povo que saberá construir pelas suas próprias mãos, sem ingerências ou condicionalismos externos, um Chipre unido que se afirme no plano internacional como um espaço e uma ponte de paz e amizade entre os diferentes povos e culturas que convivem nesta zona do Mediterrâneo. Apoio e confiança na persistente e abnegada acção do vosso Partido que, enfrentado muitas adversidades, incompreensões e até campanhas que nada têm que ver com o interesse do povo cipriota, se tem afirmado e confirmado ao longo de todos estes anos como a grande força dos trabalhadores, do povo cipriota, da sua unidade e luta. Apoio, solidariedade e confiança no papel e trabalho do Presidente da República de Chipre, o camarada Dimitris Christofias em prol da causa nacional do povo cipriota e da sua unidade e na sua incansável determinação em encontrar, construir e trilhar os caminhos que – apesar dos ataques e campanhas injustas – mantenham as portas abertas ao diólogo, à negociação e à solução do problema cipriota.

É portanto dando conteúdo concreto à nossa amizade e à nossa confiança na vossa luta, que aqui estamos confirmando a solidariedade dos comunistas portugueses e desejando ao AKEL os maiores sucessos nas eleições parlamentares do dia 22 de Maio. Sucessos que serão de grande importância para tornar mais próxima a solução do problema cipriota, mas que serão com certeza também fundamentais para, no contexto de uma profunda crise do capitalismo e de uma intensa ofensiva anti-social do grande capital e dos governos da direita e da social-democracia ao seu serviço, continuar a defender os direitos, interesses e aspirações dos trabalhadores e do povo de Chipre e a demonstrar que mesmo neste quadro há alternativas de desenvolvimento e soberania.

Uma ofensiva que como os recentes desenvolvimentos na União Europeia confirmam só poderá ser travada com o reforço da luta social e de massas nos vários países da União Europeia, com o reforço dos partidos comunistas e outras forças verdadeiramente progressistas, com uma corajosa intervenção política e ideológica denunciando as reais causas e responsáveis desta crise do capitalismo e com uma forte luta pela inversão do actual rumo da União Europeia e pela construção de uma verdadeira Europa dos trabalhadores e dos povos pela qual os nossos dois Partidos se batem há muito nomeadamente no seio do Grupo Unitário de Esquerda / Esquerda Verde Nórdica do Parlamento Europeu.

Em Portugal temos estado envolvidos em importantes processos de luta que têm nos últimos anos conhecido importantes desenvolvimentos num contexto de profunda agudização da luta de classes no nosso país. Luta social e de massas contra uma política que, a pretexto da crise, intensificou a sua ofensiva de classe, se lançou no apoio ao grande capital e simultaneamente no ataque cerrado aos direitos e ao poder de compra dos portugueses, aprofundando ainda mais os défices estruturais do nosso País, a sua dependência e as incomportáveis desigualdades e injustiças sociais que marcam a nossa realidade.

Luta social e de massas que recusa a política de transferência para os trabalhadores dos custos de uma crise pela qual não têm responsabilidades; que se levanta contra a destruição do aparelho produtivo nacional, contra a política de direita que há mais de três décadas - executada em alternância pela direita e pela social democracia - condena o país ao declínio, à estagnação económica e à dependência - razões de fundo da profunda crise económica em que o nosso País está mergulhado e que a crise do capitalismo veio aprofundar ainda mais. Luta social e de massas que rejeita as operações de chantagem e de roubo dos recursos nacionais operadas a partir dos centros de decisão do grande capital e do directório de potências da União Europeia e que se mobiliza contra uma mal chamada “ajuda externa”, que mais não é do que uma sentença contra a soberania de Portugal, contra os direitos dos trabalhadores e do nosso povo e contra o desenvolvimento económico e social de Portugal. Luta social e de massas que, tendo com pilar essencial o movimento operário, se alargou a outras camadas e sectores da sociedade portuguesa ditando o isolamento social e político do governo do Partido Socialista, razão central da sua recente demissão e da convocação de eleições antecipadas para o dia 5 de Junho próximo.

Eleições em que o PCP se apresentará ao povo português no quadro da CDU - Coligação entre o nosso Partido, o Partido Ecologista “os Verdes” e a Intervenção Democrática - amplo espaço aberto à convergência das forças, indivíduos e sectores progressistas da sociedade portuguesa que assumam a defesa de uma política patriótica e de esquerda que, no plano institucional, em articulação com a luta dos trabalhadores e do povo português e em defesa das conquistas e princípios da Revolução de Abril, seja concretizada por um governo que tenha as condições para assumir a mudança e a ruptura com a política de direita, defender os reais interesses do País, a sua soberania e independência e que acima de tudo tenha como eixo central a defesa dos interesses e aspirações dos trabalhadores e do nosso povo e a aposta no desenvolvimento do nosso aparelho produtivo nacional.

Como a realidade em cada um dos nossos países evidencia os comunistas são chamados, num contexto internacional marcado por grandes perigos mas também por reais potencialidades de desenvolvimento da luta revolucionária, a grandes responsabilidades, desafios e exigências. A situação é propícia a desenvolvimentos bruscos e muitas vezes imprevistos. E é por isso que continuamos a considerar que o reforço dos partidos comunistas, da sua organização, da sua ligação às massas, da sua influência política e eleitoral, da sua intervenção ideológica, da sua cooperação visando dar visibilidade à alternativa de fundo de que somos portadores – o Socialismo –, são factores de grande importância para determinar a correlação de forças que resultará desta situação de profunda crise do capitalismo e de agudização da luta de classes no plano nacional e internacional.

Conhecemos bem o vosso Partido. Sabemos da vossa profunda ligação ao povo e do compromisso que têm com a sua luta, interesses e aspirações. Desejando-vos os maiores sucessos nas lutas que têm pela frente manifestamos-vos a nossa convicção de que, seja na luta pela reunificação do vosso País, seja no exercício das mais altas responsabilidades de Estado que vos estão atribuídas, seja no prosseguimento da luta pelos direitos sociais e laborais, pela paz e a cooperação entre os povos, seja nas próximas eleições de dia 22 de Maio, o povo cipriota continuará a contar com a luta dos comunistas cipriotas e a confiar no seu Partido – o AKEL.

Em Portugal poderão continuar a contar com a amizade e a solidariedade do Partido Comunista Português - que comemora este ano os seus 90 anos de luta - e de muitos e muitos portugueses para com a vossa causa nacional. Confirmando-vos a nossa vontade de prosseguir as relações de amizade, solidariedade cooperação entre os nossos dois partidos, terminamos com uma outra frase que marcou a nossa revolução de 1974 e que também neste comício “pelo futuro do Chipre, pelo Chipre do futuro” tem toda a validade e actualidade: A luta continua!

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