Ver-nos-emos em Madrid
Speech - Julio Anguita - Coordenador Geral da Esquerda
Unida de Espanha
A 11 de Maio e a 8 de Junho de 1996 iniciámos em Paris e em Madrid,
respectivamente, um processo que, em nossa opinião, deve ser aprofundado. Se
queremos ser consequentes com os nossos princípios e propostas, só nos resta
um caminho: avançar na crescente identidade política e programática dos que
aqui estamos. Para a Esquerda Unida este Comício de Lisboa deve ser a ratificação,
com um maior empenho, do que começamos há 12 meses.
Há um ano denunciávamos os perigos da aplicação dos
critérios de convergência de Maastricht. Hoje pomos o acento na
denúncia e na advertência das duríssimas medidas que em
política económica e social estão incluídas no chamado Pacto
de Estabilidade, que cairão implacavelmente sobre os
trabalhadores e assalariados da União Europeia.
As consequências mais imediatas e de maior impacto começam a
imergir nas decisões dos governos e nos conselhos do Bundesbank,
do G-7 ou do Fundo Monetário Internacional:
· eliminar o objectivo de luta contra o desemprego como prioritário para
a União Europeia, deixando a responsabilidade da sua erradicação aos governos
nacionais, que, por sua vez, têm que seguir a política económica e social
marcada pelos critérios de convergência para a moeda única, e pelos compromissos
do Pacto de Estabilidade.
· subidas salariais abaixo da inflação;
· maior precariedade e desregulamentação do mercado laboral.
É nossa obrigação, como homens e mulheres da esquerda,
elevar o nosso olhar acima para atentar no futuro dos nossos
povos e no futuro das trabalhadoras e trabalhadores.
Onde estão os postos de trabalho para os nossos homens e
mulheres? Em que lugar ou com que política se assegura aos
jovens a concretização desse direito humano chamado Direito ao
Trabalho?
Que fazemos nós para impedir tal futuro ?
O que nos une aqui aos presentes é, praticamente, tudo. E se
nos sentimos unidos na denúncia de uma situação, devemos
sentir-nos crescentemente unidos numa dupla e simultânea
resposta desde cada país:
1. coordenar as acções de luta de tal forma que
possamos ir, passo a passo, a jornadas e acções em que se
visualize de forma crescente a capacidade de resposta da
esquerda, o que implica, também, um processo de diálogo com os
sindicatos europeus ;
2. elaborar uma alternativa politica e programática
baseada no desenvolvimento de uma ideia central: construir um
Estado de Bem-estar onde as grandes propostas alternativas
(redução da jornada laboral, partilha do trabalho,
desenvolvimento económico e ecologicamente sustentável, novos
conceitos de qualidade de vida), anunciem a presença de um mundo
novo.
Os aqui presentes devemos renovar o nosso compromisso com os
trabalhadores e com a juventude. E isto só é alcançável
lançando a nossa visão e o nosso compromisso de trabalho
conjunto por sobre as fronteiras. Devemos recolher a mensagem que
nos chega através da memória histórica: o internacionalismo.
Construamos uma Europa dos trabalhadores, cada vez mais unida
económica, social e politicamente, sob o signo da emancipação,
da concretização dos ideais de justiça e de igualdade.
A resposta deve dar-se em toda a União Europeia e mais além
dela ; essa é a nossa obrigação, isso é o que se nos vai
exigir e isso é o que dá sentido a este comício.
Os aqui presentes e outros mais voltaremos a reunir-nos em
Madrid nos dias 5 e 6 de Julho, para continuar trabalhando numa
construção comum de respostas e de projectos alternativos no
que se refere à construção europeia e aos desafios da paz. O
«Encontro de forças progressistas e de esquerda da Europa» que
terá lugar em Madrid - de que a Esquerda Unida será a anfitriã
- e as actividades que se lhe sigam em outras capitais europeias,
os esforços aplicados a coordenar a luta, a ampliar o suporte
social da mesma e a elaborar uma proposta programática comum,
devem ser, na nossa opinião, o que dá sentido à nossa acção
politica e a iniciativas como a de hoje.
Redobremos, por exemplo, as nossas energias de luta e a nossa
capacidade para gerar coesão social em torno da reclamação de
referendos contemporâneos sobre a revisão do Tratado de
Maastricht em cada país membro da União Europeia, explicitada
na nossa campanha comum "Que os povos decidam do futuro da
Europa!"
E da mesma maneira, oponhamo-nos ao reforço funcional e à
ampliação geográfica da NATO, uma instituição proveniente da
"guerra fria" incapaz de garantir a segurança na
Europa.
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