Partido Comunista Portugu�s
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Desenvolvimento económico e o investimento em Portugal - Intervenção de Odete Santos na AR
Sexta, 12 Maio 2006

Redução do capital social de sociedades comerciais, eliminando a intervenção judicial obrigatória, enquanto medida integrada nas iniciativas de simplificação e eliminação de actos e procedimentos notariais e registrais, para fomentar o desenvolvimento económico e o investimento em Portugal 

Sr. Presidente,
Sr. Secretário de Estado,
 Serei brevíssima, para respeitar o tempo global de 8 minutos de que dispõe o PCP neste debate. Faço-lhe duas perguntas. Em primeiro lugar, por que é que, havendo um programa de simplificação legislativa, o Governo alterou, em 29 de Março deste ano, o artigo 95.º do Código das Sociedades Comerciais e agora vem alterá-lo outra vez? E fá-lo substancialmente! Não poderia tê-lo feito de uma só vez? Seria uma simplificação legislativa. Em segundo lugar, V. Ex.ª tem toda a razão, não pode haver aqui interesses de grupo, muito menos daqueles que pretendem fazer investimento beduíno… Assim, nesta dissolução da empresa na hora, pergunto-lhe como garante aos trabalhadores, por exemplo, as indemnizações e os salários em atraso.  (…) 

 Sr. Presidente,
Srs. Membros do Governo,
Srs. Deputados,
 Corre há alguns dias, com insistência, pela baixa pombalina, que o Sr. Primeiro-Ministro, atentando no êxito das deslocalizações na hora, desejoso de encontrar uma estátua onde possa indicar o seu domínio sobre o mundo do Direito, tornando-o torto, terá descoberto novos processos para introduzir no Simplex — por acaso tem um nome latino e poderá dar ainda a ideia de que nos radicamos na tradição romanista, até pode usar-se o genitivo, o simplicis —, que, dizem, vão simplificar a vida das empresas. Interessa saber é se simplificará tanto e, em segundo lugar, a quem é que vai dificultar a vida. 

Efectivamente, não somos contra a desburocratização. O Sr. Deputado Diogo Feio estava, aliás, a referir-se a um princípio e eu, em aparte, estava meramente a dizer que também me iria referir a esse princípio, mas o CDS não entendeu o meu aparte.

 De facto, aprendemos na Faculdade de Direito (se calhar agora, daqui para diante, só haverá Faculdades de Economia, uma vez que até se diz para aí que pode haver «economistas juízes»…), que há um princípio que impede não todas mas muitas conflitualidades e que é o princípio da segurança jurídica. Esta proposta de lei, como as outras a que V. Ex.ª se referiu a respeito de segurança jurídica, faz dela «gato sapato». Mas como parece que o Simplex também não serve ao Primeiro-Ministro, em 29 de Março de 2006, alteraram o artigo 95.º do Código das Custas Judiciais para suprimir a escritura e, agora, um mês e meio depois, estão novamente a alterar o mesmo artigo… Sim, sim, tenho aqui o diploma e dou-lhe no final o Diário da República, se não oconhece!… Como eu dizia, um mês e meio depois, estão novamente a alterá-lo para lhe dar uma redacção que faça com que não seja precisa autorização judicial prévia para a redução dos capitais sociais — «bom» exemplo de desburocratização e simplificação este de duplicar iniciativas legislativas com um mês e meio de diferença…! A verdade, Sr. Presidente, Srs. Deputado do Partido Socialista, que me chamaram de conservadora e o Secretário de Estado… Olhe, desculpe, a «desconsideração» que lhe fiz, pois, de facto, foi o primeiro a chamar-me conservadora! Devo dizer que, perante aquilo que estão a fazer, tenho muito orgulho em ser conservadora, porque ser conservadora é ser progressista neste momento da vida portuguesa e do mundo! Devo dizer ainda, Sr. Secretário de Estado, que onde se encontram normas para desburocratizar desta maneira — é a «empresa na hora», é a «deslocalização na hora», é a «dissolução na hora», é a «redução do capital na hora»… —, onde se encontram práticas destas é em paraísos fiscais, onde, até ao mínimo, é reduzido qualquer controlo, porque o que interessa é proporcionar aos capitalistas um maior enriquecimento e «quem vier atrás que feche a porta»!… São os offshores! Isto são medidas copiadas. 

Leia o parecer, Sr. Secretário de Estado! Já sei que vai dizer que são corporações, mas é convosco que fica essa afirmação que já ouvi noutros tempos a pessoas de outro partido… Leia o parecer e as informações concretas que constam desse parecer do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, que até chama a atenção para convenções europeias e internacionais que ditam exigências para impedir que a lei possa ser utilizada facilmente para crimes tão graves como o branqueamento de capitais, através de umas sociedades a que eles chamam sociedades-écrans, que tornam muito mais fácil o cometimento desses crimes.

 

Daí perceberão (se é que, efectivamente, não perceberam, porque percebem, fazem-se é desentendidos e «assobiam para o ar»…) que estas medidas são tipicamente neoliberais, por isso é que a direita está de acordo. Isto não lhe diz nada?! 

São medidas tipicamente liberais que não servem para defender os cidadãos.

 

Aliás, o modesto, o pequeno empresário vai ser atolado nas conservatórias dos registos prediais e comerciais… Leia também o parecer dos conservadores do registo predial e comercial (se calhar, alguns até seguem a vossa ideologia), que dizem que na situação actual das conservatórias, nomeadamente naquelas que têm anexados o registo civil e o notariado, vai ser impossível responder «na hora» aos actos de registo de que os senhores aqui falam. Para além de que há uma questão de inconstitucionalidade nalgumas disposições, porque os conservadores não têm a função jurisdicional e não podem decidir algumas coisas que os senhores colocam no diploma para serem decididas por um conservador e não por um juiz. Portanto, nos termos da Constituição, que penso que ainda tem valor, essas funções de decisão de conflitos pertencem ao juiz e não ao conservador. Antes de terminar, com a licença do Sr. Presidente…(…)Concluo já dizendo só três coisas, Sr. Presidente. Este é, de facto, o modelo das sociedades offshore. Esta alteração não contribuirá significativamente para aliviar o trabalho nos tribunais e sobrecarregará as conservatórias. Esta alteração não contribui para uma economia saudável. De facto, nós precisamos de investimento, mas não de investimento «beduíno». Precisamos de uma economia, não de uma qualquer economia, mas de uma economia saudável!! O notário era uma garantia acrescida da legalidade, porque nas conservatórias não conseguem ver muitas coisas…! Só quem não trabalhou já com as conservatórias é que não sabe das dificuldades na análise de tantos documentos. Por fim, direi que o Sr. Primeiro-Ministro José Sócrates parece ter descoberto uma nova corrente político-filosófica: a do anarquismo capitalista!