Albano Nunes, Membro da Comissão Política
e do Secretariado do Comité Central
Camaradas
O traço mais marcante da evolução mundial nos últimos
quatro anos, consiste no agravamento brutal da ofensiva do imperialismo
para estender a todo o planeta o domínio do grande capital.
Uma ofensiva conduzida a pretexto do “combate ao terrorismo”
mas que se constitui ela mesma na principal fonte do terrorismo a começar
pelo terrorismo de Estado; que agita cinicamente a bandeira da “democracia”
mas significa uma escalada de contornos fascisantes – de que Guantanamo
e o holocausto palestiniano são símbolos - dirigida contra
as forças que lhe resistem; que, na luta por mercados e matérias
primas como o petróleo, está a conduzir a uma nova partilha
e recolonização do mundo, tornando a luta em defesa da soberania
factor fundamental de resistência à globalização
imperialista; cujo núcleo central é a intensificação
da exploração dos trabalhadores e a liquidação
de direitos duramente conquistados por décadas de lutas duríssimas.
Esta é, camaradas, uma realidade a que não podemos fugir.
Ao contrário dos anos setenta em que a revolução
portuguesa beneficiou de um contexto internacional favorável, vivemos
hoje tempos de resistência e acumulação de forças
caracterizados por grandes incertezas e perigos.
Entretanto a mensagem que o PCP propõe é tudo menos uma
mensagem de resignação, de acantonamento defensivo e atentista.
Pelo contrário. A nossa mensagem, solidamente alicerçada
na análise das contradições e tendências de
evolução do mundo contemporâneo, é de combate
e de profunda confiança no sentido da nossa luta.
Os grandes perigos coexistem com fortes potencialidades de avanço
libertador.
Por toda a parte prossegue a luta dos povos. Pensamos desde logo na resistência
heróica no Iraque e na Palestina a cujos povos daqui confirmamos
a nossa activa solidariedade. Mas de Cuba ao Afeganistão, da Venezuela
ao Uruguai, das lutas dos trabalhadores na Europa às esperanças
do Brasil, tudo nos indica que em parte alguma os povos desistem de lutar
por uma vida mais livre e mais justa.
É ainda prematuro falar de um novo afluxo das lutas populares.
Mas como estamos longe do triunfalismo delirante do “fim da História”
e da “morte do comunismo” com que a reacção
celebrou as derrotas do socialismo e o desaparecimento da URSS !...
É hoje manifesto que o capitalismo não só não
está em condições de resolver os problemas dos trabalhadores
e dos povos como tende a agravá-los brutalmente, gerando insuportáveis
injustiças e desigualdades sociais, provocando grandes regressões
e ameaçando mesmo o próprio futuro da Humanidade.
Tudo isto é produto da crise estrutural que corrói o capitalismo,
crise sistémica que reclama profundas transformações
anti-monopolistas e coloca objectivamente o socialismo na ordem do dia
como alternativa necessária.
Mas o capitalismo não morrerá por si. A sua superação
exige a intervenção revolucionária dos trabalhadores
e das massas. Exige o relançamento na consciência e na vontade
dos povos da necessidade e possibilidade do socialismo. Exige a conjugação
dialéctica de muitas e variadas lutas, com vitórias e derrotas,
para abrir caminho a um novo tempo de afluxo revolucionário. Exige
o reforço em cada país dos partidos comunistas e revolucionários
e da sua cooperação e solidariedade internacionalista.
Para o PCP a questão do partido revolucionário é
central e determinante. Trata-se não apenas de trabalhar com tenacidade
para ultrapassar o recuo e dispersão do movimento comunista, como
de derrotar no plano ideológico concepções anarquizantes,
reformistas e anti-comunistas que se reanimaram. As grandes mudanças
do mundo contemporâneo exigem sem dúvida respostas novas
e criativas, mas não abandonando princípios, renegando a
história, negando o valor da teoria, abandonando o conceito de
revolução social e o objectivo do socialismo.
É com esta perspectiva que o PCP desenvolve relações
internacionais com um grande número de forças de esquerda
e progressistas, contribuindo para unir tudo quanto possa ser unido na
luta contra o imperialismo e a guerra, mas dando particular atenção
às relações com outros partidos comunistas e revolucionários
cujas afinidades não devem diluir-se num quadro de alianças
mais amplo. Na Europa, Ásia, América Latina e África,
nomeadamente nos chamados PALOP, o PCP mantém fecundas relações
de amizade, cooperação e solidariedade internacionalista.
O PCP não exclui caminhar para formas estáveis de cooperação
internacional. Essa é uma necessidade que resulta da própria
acentuação dos processos objectivos de internacionalização.
Mas o PCP continua a privilegiar a unidade na acção com
base nos princípios de igualdade, soberania e não ingerência
nos assuntos internos. A diversidade de situações em cada
país e de percursos históricos entre forças de esquerda
e mesmo entre partidos que se definem como comunistas é tal, nomeadamente
na Europa, que tentativas de uniformização ideológica
e programática, e precipitação de formas de articulação
só podem conduzir a resultados opostos aos proclamados.
Daqui decorrem as nossas relações bilaterais com partidos
e forças dos cinco continentes. Daqui decorre a nossa contribuição
empenhada no Grupo GUE/EVN no Parlamento Europeu como a participação
do PCP em múltiplos Encontros, Conferências e outras iniciativas
internacionais, do Fórum de São Paulo aos Encontros de Atenas.
Daqui decorre, sem por em causa relações bilaterais que
queremos aliás aprofundar, a nossa discordância e não
participação em formas de organização que,
como o “Partido da Esquerda Europeia”, são em nossa
opinião portadoras de uma lógica federalista e exclusão.
É por isso que saudamos com alegria os nossos convidados estrangeiros
e lhes asseguramos a nossa determinação de com eles continuar
a luta.
Camaradas
Da análise que fazemos da situação internacional,
dos perigos como das possibilidades que comporta, retiramos não
menos mas mais razões para persistir na luta pela realização
do Programa do nosso Partido.
Ontem como hoje não serão vozes de desistência e
adaptação reformista, pressões ideológicas
ou leis forjadas contra o nosso Partido, que nos farão mudar de
rumo.
Sejam quais forem as dificuldades e por mais duras que sejam as batalhas
estaremos sempre com os trabalhadores e o povo, contra o capital e pelo
socialismo.