Rui
Fernandes, da Comissão Política do PCP, considerou que o Orçamento de
Estado «terá também consequências nefastas na área da Defesa Nacional,
na estabilidade das Forças Armadas e na vida dos militares» e acusou o
Governo de pretender fazer uma reestruturação nas Forças Armadas não em
função de qualquer estudo ou planeamento «mas sim de um processo
“acidental” resultante de cortes orçamentais». Na conferência de
imprensa, o dirigente comunista criticou o Ministério da Defesa pelos
cortes orçamentais «que atingem a saúde (cerca de 50%) ou as verbas
para os militares na reserva (cerca de 25%). Cortes que não resolvem,
entre outros problemas, os atrasos de cerca de um ano no pagamento da
comparticipação na Assistência da Doença aos Militares, nem o pagamento
do complemento de pensão para os militares na situação de reforma» e
desafiou o Governo a pôr de lado «a via da punição e do castigo que
nada resolvem e tudo agravam».
Sobre Defesa Nacional e Forças Armadas,
declaração de Rui Fernandes da Comissão Política do PCP
O Orçamento de Estado que o PS vai fazer aprovar, no final da semana,
prosseguindo as linhas essenciais de uma política errada e eternizando
as opções de prioridade no combate ao défice, terá também consequências
nefastas na área da Defesa Nacional, na estabilidade das Forças Armadas
e na vida dos militares.
O Governo e o PS assumem, desta forma, que a reestruturação que
pretendem fazer nas Forças Armadas não será resultado de qualquer
estudo ou planeamento mas sim de um processo “acidental” resultante de
cortes orçamentais. Isto é, o Ministério da Defesa quer imputar ao seu
orçamento para 2007 as economias de uma reestruturação que ainda não
fez, esquecendo-se que a reestruturação e o redimensionamento das
Forças Armadas não são apenas o resultado da venda de imóveis ou da
redução de umas centenas de praças. Aliás, qualquer processo sério de
reestruturação e redimensionamento exigirá um investimento inicial
para, mais tarde, se verificar então a necessária redução das despesas.
Ao contrário, o Ministério da Defesa decidiu-se por cortes orçamentais
com o acordo, pelo menos público, das chefias militares, cortes que
atingem a saúde (cerca de 50%) ou as verbas para os militares na
reserva (cerca de 25%). Cortes que não resolvem, entre outros
problemas, os atrasos de cerca de um ano no pagamento da
comparticipação na Assistência da Doença aos Militares, nem o pagamento
do complemento de pensão para os militares na situação de reforma, nem
o atraso no pagamento a fornecedores que, pelo que tem vindo a público,
ascende já a largos milhares de euros.
De resto, seria bom que, em vez de anúncios a conta-gotas na
comunicação social sobre aspectos de eventuais alterações na estrutura
militar como os novos poderes do CEMGFA, o Ministro da Defesa
apresentasse em sede própria o seu projecto para que se conheça o
verdadeiro alcance das suas propostas nomeadamente sobre o futuro
Estado-Maior de Defesa mas também quanto à aplicação do famoso PRACE na
Instituição Militar e o sentido e o objectivo da reestruturação das
carreiras.
Entretanto, à medida que as Forças Armadas vêem escassear os recursos
financeiros que lhes permitam assumir plenamente as suas missões em
território nacional e se exige aos portugueses que continuem a “apertar
o cinto”, Portugal continua a empenhar-se em missões internacionais e a
alargar a sua participação nos vários teatros de guerra, como se
verifica agora com o envio de tropas para o Líbano. Como se vê, as
missões militares no estrangeiro, ao serviço dos paladinos do
militarismo e da guerra, estão longe de serem afectadas pelas
restrições orçamentais e pelos drásticos sacrifícios impostos aos
militares e ao povo.
Em contrapartida, a falta de dinheiro é justificação para o
incumprimento das leis e para o não pagamento aos militares dos que
lhes é devido em função dos compromissos assumidos pelo Estado,
enquanto se lhes impõem a retirada de regalias e direitos, colocando-os
em plano de igualdade com os funcionários públicos no que respeita aos
direitos, esquecendo que os deveres a que os militares estão obrigados
não têm qualquer correspondência com a Administração Pública.
Este tem sido o perigoso caminho que o Governo vem trilhando,
tratando de forma igual aquilo que é desigual, degradando o Estatuto da
Condição Militar e não assumindo que, a um conjunto de direitos
nomeadamente em matérias como a saúde e a segurança social, estão
associados deveres que passam designadamente pela restrição de
direitos, por uma permanente disponibilidade para o serviço e pelos
riscos inerentes ao serviço militar.
Não se podem manter especiais deveres e suprimir direitos! E não tem
credibilidade o governo vir exigir aos militares o cumprimento da lei
quando é ele próprio a não a cumprir. Isto é um facto que está
devidamente documentado.
As medidas que vêm sendo sucessivamente anunciadas pelo Governo não têm
em conta a especificidade da função militar, consubstanciam a perda de
direitos, põem também em causa o Estatuto da Condição Militar e abalam,
cada vez mais, a coesão de umas Forças Armadas onde, há largos anos, os
militares esperam pela reformulação e modernização de vários
instrumentos, nomeadamente de âmbito estatutário e regulamentar, e
aguardam a implementação da reorganização operacional e a
racionalização do dispositivo.
Daqui resulta a situação de inquietação que os militares vivem e de
que as suas associações tem feito eco, em diversos momentos e de formas
diversas. Não houvesse razões para protestos e não teria o Governo
anunciado, na véspera do “passeio dos militares”, aquilo que deveria
ter feito há largos meses isto é, clarificar as condições em que se
aplica o regime de reserva e reforma dos militares, contrariando deste
modo o parecer da Caixa Geral de Aposentações.
A propósito das recentes tomadas de posição dos militares importa dizer
que, mais importante que procurar rótulos para colar às iniciativa ou
esgrimir contra fantasmas, é ter a noção exacta do grau de insatisfação
que se está a gerar no meio militar, que as chefias militares bem
conhecem!
Pela nossa parte, com um elevado sentido das responsabilidades e ao
contrário do que o PS nos acusa, sempre nos escusámos a entrar em
promessas incomportáveis do ponto de vista orçamental, cujo único
objectivo é o da caça ao voto. Um exemplo disso é o problema dos
ex-combatentes, que continua e continuará por resolver, com PS e a
direita a fazerem demagogia em período pré-eleitoral, apesar de
alertados pelo PCP, através do relatório elaborado à época na Comissão
Parlamentar de Defesa, para as dificuldades da sua concretização. São
essas e outras promessas que os militares estão agora a cobrar. Mas não
fomos nós que as fizemos ou propusemos! Foram antes os jogos
interesseiros entre o PS, o CDS-PP e o PSD.
Por isso, o que se exige ao Governo e ao PS é que ponha de lado as
manobras de diversão e o facilitismo na forma como tem lidado com as
questões militares. Ponha de lado a via da punição e do castigo que
nada resolvem e tudo agravam, desde logo pela elementar razão de os
problemas persistirem e, persistindo, manter-se a insatisfação e o
mal-estar. Aquilo que se impõe é coerência e um elevado sentido de
responsabilidade na ponderação da legislação relativa a estas matérias,
que conduza a um arrepiar de caminho e contribua para a necessária
coesão e estabilidade das Forças Armadas, um pilar essencial na Defesa
Nacional e na estrutura do Estado. Aquilo que se impõe é que o governo
fale verdade e não utilize as Forças Armadas e os militares como peças
das suas opções ideológicas em matéria de concepção do Estado.
A Constituição da República define o lugar e o papel das Forças
Armadas. Exige-se que o governo respeite a Constituição.
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