Partido Comunista Portugu�s
  • Narrow screen resolution
  • Wide screen resolution
  • Auto width resolution
  • Increase font size
  • Decrease font size
  • Default font size
  • default color
  • red color
  • green color
�
�

Defesa Nacional e Forças Armadas
Segunda, 27 Novembro 2006
Foto: Rui FernandesRui Fernandes, da Comissão Política do PCP, considerou que o Orçamento de Estado «terá também consequências nefastas na área da Defesa Nacional, na estabilidade das Forças Armadas e na vida dos militares» e acusou o Governo de pretender fazer uma reestruturação nas Forças Armadas não em função de qualquer estudo ou planeamento «mas sim de um processo “acidental” resultante de cortes orçamentais». Na conferência de imprensa, o dirigente comunista criticou o Ministério da Defesa pelos cortes orçamentais «que atingem a saúde (cerca de 50%) ou as verbas para os militares na reserva (cerca de 25%). Cortes que não resolvem, entre outros problemas, os atrasos de cerca de um ano no pagamento da comparticipação na Assistência da Doença aos Militares, nem o pagamento do complemento de pensão para os militares na situação de reforma» e desafiou o Governo a pôr de lado «a via da punição e do castigo que nada resolvem e tudo agravam».som

Sobre Defesa Nacional e Forças Armadas,
declaração de Rui Fernandes da Comissão Política do PCP

 

O Orçamento de Estado que o PS vai fazer aprovar, no final da semana, prosseguindo as linhas essenciais de uma política errada e eternizando as opções de prioridade no combate ao défice, terá também consequências nefastas na área da Defesa Nacional, na estabilidade das Forças Armadas e na vida dos militares.


O Governo e o PS assumem, desta forma, que a reestruturação que pretendem fazer nas Forças Armadas não será resultado de qualquer estudo ou planeamento mas sim de um processo “acidental” resultante de cortes orçamentais. Isto é, o Ministério da Defesa quer imputar ao seu orçamento para 2007 as economias de uma reestruturação que ainda não fez, esquecendo-se que a reestruturação e o redimensionamento das Forças Armadas não são apenas o resultado da venda de imóveis ou da redução de umas centenas de praças. Aliás, qualquer processo sério de reestruturação e redimensionamento exigirá um investimento inicial para, mais tarde, se verificar então a necessária redução das despesas.
Ao contrário, o Ministério da Defesa decidiu-se por cortes orçamentais com o acordo, pelo menos público, das chefias militares, cortes que atingem a saúde (cerca de 50%) ou as verbas para os militares na reserva (cerca de 25%). Cortes que não resolvem, entre outros problemas, os atrasos de cerca de um ano no pagamento da comparticipação na Assistência da Doença aos Militares, nem o pagamento do complemento de pensão para os militares na situação de reforma, nem o atraso no pagamento a fornecedores que, pelo que tem vindo a público, ascende já a largos milhares de euros.


De resto, seria bom que, em vez de anúncios a conta-gotas na comunicação social sobre aspectos de eventuais alterações na estrutura militar como os novos poderes do CEMGFA, o Ministro da Defesa apresentasse em sede própria o seu projecto para que se conheça o verdadeiro alcance das suas propostas nomeadamente sobre o futuro Estado-Maior de Defesa mas também quanto à aplicação do famoso PRACE na Instituição Militar e o sentido e o objectivo da reestruturação das carreiras.
Entretanto, à medida que as Forças Armadas vêem escassear os recursos financeiros que lhes permitam assumir plenamente as suas missões em território nacional e se exige aos portugueses que continuem a “apertar o cinto”, Portugal continua a empenhar-se em missões internacionais e a alargar a sua participação nos vários teatros de guerra, como se verifica agora com o envio de tropas para o Líbano. Como se vê, as missões militares no estrangeiro, ao serviço dos paladinos do militarismo e da guerra, estão longe de serem afectadas pelas restrições orçamentais e pelos drásticos sacrifícios impostos aos militares e ao povo.


Em contrapartida, a falta de dinheiro é justificação para o incumprimento das leis e para o não pagamento aos militares dos que lhes é devido em função dos compromissos assumidos pelo Estado, enquanto se lhes impõem a retirada de regalias e direitos, colocando-os em plano de igualdade com os funcionários públicos no que respeita aos direitos, esquecendo que os deveres a que os militares estão obrigados não têm qualquer correspondência com a Administração Pública.
 Este tem sido o perigoso caminho que o Governo vem trilhando, tratando de forma igual aquilo que é desigual, degradando o Estatuto da Condição Militar e não assumindo que, a um conjunto de direitos nomeadamente em matérias como a saúde e a segurança social, estão associados deveres que passam designadamente pela restrição de direitos, por uma permanente disponibilidade para o serviço e pelos riscos inerentes ao serviço militar.


Não se podem manter especiais deveres e suprimir direitos! E não tem credibilidade o governo vir exigir aos militares o cumprimento da lei quando é ele próprio a não a cumprir. Isto é um facto que está devidamente documentado.


As medidas que vêm sendo sucessivamente anunciadas pelo Governo não têm em conta a especificidade da função militar, consubstanciam a perda de direitos, põem também em causa o Estatuto da Condição Militar e abalam, cada vez mais, a coesão de umas Forças Armadas onde, há largos anos, os militares esperam pela reformulação e modernização de vários instrumentos, nomeadamente de âmbito estatutário e regulamentar, e aguardam a implementação da reorganização operacional e a racionalização do dispositivo.


Daqui resulta a situação de inquietação que os militares vivem e de que as suas associações tem feito eco, em diversos momentos e de formas diversas. Não houvesse razões para protestos e não teria o Governo anunciado, na véspera do “passeio dos militares”, aquilo que deveria ter feito há largos meses isto é, clarificar as condições em que se aplica o regime de reserva e reforma dos militares, contrariando deste modo o parecer da Caixa Geral de Aposentações. 


A propósito das recentes tomadas de posição dos militares importa dizer que, mais importante que procurar rótulos para colar às iniciativa ou esgrimir contra fantasmas, é ter a noção exacta do grau de insatisfação que se está a gerar no meio militar, que as chefias militares bem conhecem!
Pela nossa parte, com um elevado sentido das responsabilidades e ao contrário do que o PS nos acusa, sempre nos escusámos a entrar em promessas incomportáveis do ponto de vista orçamental, cujo único objectivo é o da caça ao voto. Um exemplo disso é o problema dos ex-combatentes, que continua e continuará por resolver, com PS e a direita a fazerem demagogia em período pré-eleitoral, apesar de alertados pelo PCP, através do relatório elaborado à época na Comissão Parlamentar de Defesa, para as dificuldades da sua concretização. São essas e outras promessas que os militares estão agora a cobrar. Mas não fomos nós que as fizemos ou propusemos! Foram antes os jogos interesseiros entre o PS, o CDS-PP e o PSD.


Por isso, o que se exige ao Governo e ao PS é que ponha de lado as manobras de diversão e o facilitismo na forma como tem lidado com as questões militares. Ponha de lado a via da punição e do castigo que nada resolvem e tudo agravam, desde logo pela elementar razão de os problemas persistirem e, persistindo, manter-se a insatisfação e o mal-estar. Aquilo que se impõe é coerência e um elevado sentido de responsabilidade na ponderação da legislação relativa a estas matérias, que conduza a um arrepiar de caminho e contribua para a necessária coesão e estabilidade das Forças Armadas, um pilar essencial na Defesa Nacional e na estrutura do Estado. Aquilo que se impõe é que o governo fale verdade e não utilize as Forças Armadas e os militares como peças das suas opções ideológicas em matéria de concepção do Estado.
A Constituição da República define o lugar e o papel das Forças Armadas. Exige-se que o governo respeite a Constituição.