Partido Comunista Portugu�s
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Conferência de Imprensa sobre Toxicodependência e branqueamento de capitais: a necessidade duma estratégia de intervenção
Declaração de Francisco Lopes, da Comissão
Quarta, 22 Janeiro 2003
22.1.2003

Os problemas da toxicodependência têm uma enorme gravidade. Atingem dezenas de milhar de famílias, alcançaram uma expressão que afecta todo o território nacional, são motivo de preocupação séria da população portuguesa.

As estratégias para enfrentar este problema, com atrasos e incoerências diversas, acabaram ao longo dos anos por ser levadas à prática fruto da pressão popular e de iniciativas políticas para as quais o PCP deu um importante contributo. É o caso entre muitos outros, da criação de uma rede pública nacional de atendimento e tratamento de toxicodependentes e a sua extensão a todo o território nacional, ou da aprovação da chamada “nova lei da droga” que deu novo enquadramento ao tratamento de toxicodependentes, retirando-os do sistema judicial e propiciando mecanismos de ajuda e encaminhamento mais adequados, ou ainda do aperfeiçoamento da legislação de combate ao branqueamento de capitais.

Mas, neste momento colocam-se sérias inquietações sobre o futuro.

A política económica e social do Governo PSD/CDS-PP ao reproduzir e aprofundar as desigualdades e problemas sociais, agrava o caldo de cultura no qual se pode desenvolver o fenómeno da toxicodependência.

Passados dez meses sobre a formação do Governo e depois de toda a confusão que caracterizou a fusão do IPDT com o SPTT, dando origem ao IDT (Instituto da Droga e da Toxicodependência) reina a indefinição, a desorientação e a paralisia, mas, mais grave do que isso, adensam-se preocupações relativas a áreas fundamentais e ao papel que vai ter a nova estrutura.

Na prevenção estão de regresso as medidas casuísticas, a falta de orientações, objectivos e critérios claros e a não avaliação das acções de prevenção.

Relativamente à aplicação da nova lei da droga, em vez de se partir da experiência das Comissões de Dissuasão para melhorar o funcionamento e facilitar a ajuda e encaminhamento dos toxicodependentes, aponta-se para pôr em causa o seu trabalho deitando fora uma importante experiência.

Relativamente à rede pública nacional de atendimento e tratamento de toxicodependentes (rede de CATs e outras estruturas) vai-se pelo caminho grave, perigoso e inaceitável, de desincentivar os seus profissionais, de deixar sair quadros fundamentais, de deixar expirar os contratos de outros, de alienar trabalho e experiência acumulada, pondo assim em causa o funcionamento dos CATs e outras estruturas, numa via para a desarticulação de um serviço que é essencial no atendimento e tratamento.

Tendo sempre o PCP afirmado que o objectivo deve ser tratar os toxicodependentes como doentes e criar condições pelos mais diversos processos para que abandonem a dependência das drogas, merecem preocupação notícias que significariam a anulação prática de mecanismos de redução de danos, como os que se baseiam na metadona, orientação que teria como consequência cortar o acompanhamento a milhares de toxicodependentes em estádios diversos de recuperação.

Por este caminho o Governo dá um novo incentivo ao negócio à custa dos toxicodependentes e das suas famílias, nomeadamente com a alteração dos critérios de comparticipação nos tratamentos, desenhando-os ao gosto de algumas clínicas privadas.

Estas são preocupações sérias, porque podemos estar perante um retrocesso nos dispositivos de resposta à toxicodependência com inevitável agravamento da situação, atingindo muitos milhares de famílias e a sociedade em geral.

O PCP reafirma a necessidade duma estratégia coerente de resposta a este problema, manifesta a sua preocupação com as orientações em curso e chama a atenção para a gravidade de opções que estão ensejadas e rejeita-as frontalmente.

No imediato o PCP coloca três exigências essenciais na estratégia para enfrentar a toxicodependência: a garantia de que a rede pública de atendimento e tratamento de toxicodependentes seja mantida e reforçada; o prosseguimento de projectos de redução de danos inseridos em estratégias que permitam o tratamento e recuperação de toxicodependentes e a adopção de medidas para reforçar o combate ao tráfico de droga e em particular ao branqueamento de capitais.

Nesse sentido o PCP adianta as seguintes iniciativas:

1ª Pedir explicações sobre as questões da rede pública e dos projectos de redução de danos propondo que o Ministro da Saúde e o Presidente do IDT se desloquem à Comissão de Assuntos Sociais da Assembleia da República para o efeito.

2ª Colocar às forças políticas com assento parlamentar, a oportunidade de, em matéria de branqueamento de capitais, darem a sua contribuição para se passar de declarações de princípio e medidas parcelares, para uma resposta efectiva, de relevância incontornável e essencial.

Porque, no próximo dia 30 de Janeiro, sobe a plenário da Assembleia da República o projecto lei do PCP que cria o Programa Nacional de Prevenção e Combate ao branqueamento de capitais e à criminalização da economia, um fenómeno que envolve seguramente centenas de milhões de euros/ano no nosso país, que tem implicações profundas no plano social, no crime e na corrupção e afecta a própria democracia.

Assim, este é o momento para passar duma fase de reacção à posteriori das autoridades judiciais a um ou outro caso de branqueamento, para uma acção integrada do Estado, capaz de prever, prevenir e articular a resposta à criminalidade económica de elevada sofisticação e danosidade social.

É isto que propõe o PCP, para ultrapassar atrasos, desfuncionalidades e vazios a este respeito: um Programa Nacional cuja substância e estrutura garantam independência e eficácia, capacidade de previsão, articulação e resposta, cuja aprovação representaria um grande passo na prevenção e combate ao branqueamento de capitais e à criminalidade económica.