É sempre difícil, quando um criador desaparece, falar em morte. Será mais exacto dizer que não mais escreverá, ou não criará mais canções, ou não pintará mais cores e formas. Eles têm esse particular privilégio de uma vida que se prolonga nas suas obras. Sergio Ortega faleceu em Paris na passada terça-feira aos 65 anos de idade. Mas poderá dizer-se que morreu alguém que no Chile da Unidade Popular compôs a música de «Venceremos» e «El Pueblo Unido Jamás Será Vencido»? Canções entretanto cantadas em todo o mundo e que amanhã, no próximo mês, no ano que vem, serão de novo cantadas, numa qualquer rua, numa qualquer luta? Mas não só. A ele igualmente se deve a música de «Fulgor e Morte de Joaquin Murieta», uma cantata sobre versos de Neruda que marcou os palcos portugueses após o 25 de Abril. Trabalhou com grupos como os Quilapayun e os Inti Illimani, criou e dirigiu o Taller Recabarren (com o qual esteve na Festa do Avante!, em 1979), ensinou, compôs hinos (o da Juventude Comunista Chilena e o da Central Única de Trabajadores, por exemplo), canções, poemas sinfónicos, acabara há dias uma ópera, «Pedro Páramo». Na realidade, apenas deixou de compor. |