Partido Comunista Português
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Intervenção sobre PCP, Partido dos Trabalhadores
Sábado, 27 Novembro 2004

Jerónimo de Sousa, Membro da Comissão Política do Comité Central do PCP


Camaradas

No conteúdo do projecto de Resolução Política muitas das teses percorrem e colocam a questão do Partido, o seu papel e a sua luta, a sua importância, a sua natureza e identidade, a actualidade e validade do seu projecto, a sua dimensão patriótica e internacionalista.

Incontornavelmente, na análise, no conteúdo, nas orientações e medidas, o projecto que debatemos não partiu do zero. Ele comporta muito do nosso património histórico, resoluções e orientações de outros Congressos, decisões e perspectivas resultantes de iniciativas da Direcção e do colectivo partidário como a base mais sólida para actualizar a análise, definir prioridades e objectivos na ideia de caminhar para a frente.

A questão central que este projecto de Resolução Política coloca ao XVII Congresso é a afirmação e reforço deste Partido Comunista. Com a convicção reforçada pela vida e pela experiência que a classe operária e os trabalhadores, o povo e a democracia têm necessidade de um Partido independente dos interesses, da ideologia e das pressões do capitalismo e das forças políticas que o servem e nele se integram.

Neste quadro, temos a consciência de que este Partido só pode existir, resistir, lutar com êxito, se ganha e consegue manter, mesmo nas mais difíceis condições, raízes profundas nas massas trabalhadoras não apenas em termos de simpatia e apoio mas em termos de intervenção, de luta e de militância. Daqui decorre a necessidade da definição das orientações serem feitas na base da análise da situação e dos problemas concretos e dando respostas novas às novas situações, problemas e fenómenos, a alterações e mutações que implicam, designadamente a este Partido de classe, uma avaliação e definição mais precisa das alianças sociais básicas.

Chegamos a este Congresso fustigados por uma ofensiva que não sendo nova nos seus objectivos tem a diferença de ser uma ofensiva global no plano político, económico, social e ideológico em que se acentua com grande intensidade e como a grande questão da nossa época contemporânea a luta de classes, em que estão à beira da falência as teses e profecias dos seguidores do neoliberalismo de que era possível civilizar e humanizar o capitalismo, ou as teorias “do possível” e das inevitabilidades, do fatalismo e do conformismo de integração no sistema como um mal menor, da desnecessidade dos partidos de classe.

E no entanto aí está a crueza da realidade a demonstrar o contrário.

Olhar para ver! O que se passa no mundo e no nosso país concreto. Ver o desemprego, o alastramento da pobreza, das injustiças e desigualdades, ver direitos laborais e sociais que pareciam assegurados e perenes como o emprego com direitos, os horários de trabalho mais dignos e reduzidos, os salários mais justos, as conquistas históricas resultantes da luta de gerações inteiras de trabalhadores, como a contratação colectiva, a liberdade de organização e acção sindical, o exercício pleno do direito à greve, do direito universal à segurança social, à saúde, ao ensino, à fruição da cultura, ao desenvolvimento livre do conhecimento e dos saberes, elementos constitutivos dos avanços civilizacionais do ser humano, todos questionados e postos em causa porque o capital considera que é tempo de recuperar as parcelas de domínio perdido, para aumentar o lucro e a exploração.

É a confirmação que os direitos ganham-se e perdem-se!

É a demonstração que a relação de forças de cada momento determina, não a alteração mas o grau de concretização dos objectivos do capital tendo em conta a sua natureza exploradora.

É essa natureza, são esses objectivos que também por isso conduzem à ofensiva contra o Partido tanto lhe fazendo ser pela via da sua eliminação ou da sua descaracterização neste caso preferível porque seria uma capitulação honrosa!

Como cogumelos mais ou menos venenosos e matizados ressurgem os fazedores de opinião publicada que pela enésima vez traçam o destino e o fim do PCP, dão conselhos aos seus militantes, repetem repetem sentenças apocalípticas até à exaustão, as sentenças que repetiram há dois, quatro, 8 ou 14 anos atrás.

Não cometem erros de análise! São vendedores subcontratados de peças de refugo ideológico que não suportam a ideia de que este Partido, procurando aprofundar os traços essenciais da identidade comunista do Partido, enriquecendo conceitos, orientações e acção prática com os ensinamentos da vida e da experiência, mantendo e reforçando a sua natureza de classe, a sua ligação às massas, o seu objectivo de transformação social, a sua teoria revolucionária, enraizado nos problemas, as aspirações e na luta dos trabalhadores, atento e interveniente junto dos intelectuais, dos agricultores, das causa e especificidades dos jovens, das mulheres, dos reformados e deficientes, dos micro, pequenos e médios empresários, anunciando, propondo e praticando uma política de verdade, batendo-se por uma política de esquerda que rompa com a quadratura do círculo da alternância, reforçando a organização partidária, não para ter ou estar, mas para intervir nas empresas e locais de trabalho junto das populações, então importa dizer desta tribuna;
não contem connosco para engrossar o destacamento dos fatalistas e desiludidos. Vivemos e viveremos de pé reforçando e afirmando este Partido. O Partido Comunista Português.

Camaradas

As convicções e a determinação que nos animam não significam a subestimação dos perigos, dificuldades, incertezas e da realidade que decorrem em primeiro lugar da ofensiva que tende para ter um carácter duradouro e prolongado e também das alterações e mutações em curso resultantes das reestruturações industriais, dos factores que resultam das precariedades crescentes, da desregulamentação geral das relações laborais, nas modificações do emprego e nas modificações da organização de produção e do trabalho, da arrumação das forças de classe, da necessidade da definição objectiva da pertença de classe, do conhecimento mais aprofundado das formas e dos mecanismos que hoje promovem e condicionam a formação da consciência de classe.

Verificando-se que na identidade da política de direita, realizada com maior ou menor ritmo e concretização pelos sucessivos Governos, tem como impressão digital uma política de classe ao serviço dos grandes grupos económicos e financeiros, da grande burguesia associada ao capital transnacional, que beneficia um grupo extremamente reduzido de indivíduos enquanto agride os interesses da esmagadora maioria da população, então o Partido na sua luta, na sua acção e intervenção para ter em conta a real possibilidade de encetar o caminho duma política alternativa e uma alternativa política, tem de ser um protagonista no processo de unir os trabalhadores e concretizar uma vasta frente social que envolva as classes e camadas antimonopolistas, onde a classe operária, sendo a força motriz precisa e tem de se inserir na acção e na luta convergente dos empregados, dos intelectuais e quadros técnicos, do micro pequenos e médios empresários do comércio, indústria e serviços, contando com os jovens, as mulheres, os reformados pensionistas e deficientes, não descurando outras forças sociais como sectores da média burguesia que ainda que conjunturalmente e de forma instável são atingidos pela concentração monopolista e pelas políticas nacional, europeia e mundial ao seu serviço.

Neste processo, o PCP é indispensável e insubstituível mas é insuficiente.

No entanto, aos que, com pressa e voluntarismo pensam que o PS, por rebate de consciência, mudará a agulha no sentido duma política de esquerda e da construção duma alternativa, aos que pensam que essa alternativa se constrói por petição ou solicitação do PCP sem condições prévias, as posições do PS falam por si. O que propomos às forças democráticas, aos trabalhadores e a todos os portugueses atingidos por esta desastrosa política é que se desenvolva e articule a luta do movimento de massas e dos movimentos sociais a partir de objectivos concretos, de coisas e causas concretas que convirjam simultaneamente para a reclamação e exigência duma nova política, uma política de esquerda.

Este é o chão mais sólido e seguro que, aliado ao reforço político, social e eleitoral do PCP, levará a que o PS deixe de bloquear caminhos e soluções que a situação nacional exige.

Porque consideramos a alternativa não só necessária como possível, o tempo da sua concretização pode eventualmente ser complexo e demorado, mas então façamo-lo no tempo que for preciso, como exigência democrática mas inseparável do nosso primeiro e principal compromisso com os trabalhadores e o povo português, dizendo-lhe claramente que não pode haver uma alternativa de esquerda com políticas de direita, afirmando o nosso projecto, os nossos valores ímpares e distintivos de outras forças políticas, indissociável da desmistificação e combate aos preconceitos, do reforço da intervenção e da organização e do ensinamento histórico sempre válido e actual de que este Partido terá tanta mais força e influência, seja política, social ou eleitoral, quanto maior for a sua ligação ao pulsar dos problemas e da vida, em que cada militante independentemente do seu grau de responsabilidade, do seu estatuto e origem social ou institucional seja um comunista e um protagonista na defesa, avanço e concretização das causas, dos ideais e do projecto porque nos batemos e lutamos, pensando sempre que a nossa acção individual tem um valor intrínseco ao carácter, à natureza e ao valor impares e insubstituíveis na acção, na definição da orientação e na luta do nosso colectivo partidário, colectivo que representa em si mesmo a obra mais exaltante das diversas gerações de comunistas.

Camaradas

Na fase preparatória do nosso XVII Congresso e em particular em torno do debate do projecto de Resolução Política alguns dos promovidos a pcpólogos, que só não podem ser comparados com a criatura de fábula que não fala, não ouve, não vê, já que só falam e escrevem, consideram que este Partido vai fechar-se, que não muda, entendendo a afirmação da sua natureza e identidade como afirmação obreirista e de acantonamento.

Partindo de rótulos, viciados no exercício do preconceito, muitos deles reciclados nos seus percursos esquerdistas e aventureiristas, e integrados no sistema dominante, procuram criar clivagens no seio do Partido entre militantes de origem operária e militantes intelectuais.

Como se fosse dilemática a participação, a contribuição e militância da tantos camaradas intelectuais e quadros técnicos, agricultores, micro, pequenos e médios empresários na vida e na luta deste Partido de classe.

Não ouvem, não lêem que na definição das alianças sociais básicas aqui afirmamos da necessidade do reforço da aliança da classe operária, com os intelectuais e outras camadas intermédias, que este Partido contou e conta com milhares de homens, mulheres e jovens de origem intelectual, que precisa deles, dos seus conhecimentos e saberes, da sua contribuição como especialistas e criativos mas também como revolucionários de corpo inteiro para intervir no processo transformador por que lutamos.

Neste XVII Congresso estamos a afirmar perante o povo português que não renegamos a nossa história, a nossa memória e a nossa luta. Mas inseparável desta afirmação fica claro que o nosso Partido continua com mais projecto que memória, com causas e com lutas no devir imediato, e mesmo sabendo que o sonho está sempre mais avançado que a realidade, havemos de não perder a perspectiva de manter o nosso objectivo transformador encetando a construção duma sociedade nova e avançada, uma sociedade socialista.

Não é o optimismo histórico que nos anima, que nos faz dizer que a luta continua!

É porque acreditamos que vivendo e reforçando este Partido, acreditamos num futuro melhor.

Que viva sim!
Que viva o Partido Comunista Português!