Jerónimo de Sousa, Membro da Comissão Política do
Comité Central do PCP
Camaradas
No conteúdo do projecto de Resolução Política
muitas das teses percorrem e colocam a questão do Partido, o seu
papel e a sua luta, a sua importância, a sua natureza e identidade,
a actualidade e validade do seu projecto, a sua dimensão patriótica
e internacionalista.
Incontornavelmente, na análise, no conteúdo, nas orientações
e medidas, o projecto que debatemos não partiu do zero. Ele comporta
muito do nosso património histórico, resoluções
e orientações de outros Congressos, decisões e perspectivas
resultantes de iniciativas da Direcção e do colectivo partidário
como a base mais sólida para actualizar a análise, definir
prioridades e objectivos na ideia de caminhar para a frente.
A questão central que este projecto de Resolução
Política coloca ao XVII Congresso é a afirmação
e reforço deste Partido Comunista. Com a convicção
reforçada pela vida e pela experiência que a classe operária
e os trabalhadores, o povo e a democracia têm necessidade de um
Partido independente dos interesses, da ideologia e das pressões
do capitalismo e das forças políticas que o servem e nele
se integram.
Neste quadro, temos a consciência de que este Partido só
pode existir, resistir, lutar com êxito, se ganha e consegue manter,
mesmo nas mais difíceis condições, raízes
profundas nas massas trabalhadoras não apenas em termos de simpatia
e apoio mas em termos de intervenção, de luta e de militância.
Daqui decorre a necessidade da definição das orientações
serem feitas na base da análise da situação e dos
problemas concretos e dando respostas novas às novas situações,
problemas e fenómenos, a alterações e mutações
que implicam, designadamente a este Partido de classe, uma avaliação
e definição mais precisa das alianças sociais básicas.
Chegamos a este Congresso fustigados por uma ofensiva que não
sendo nova nos seus objectivos tem a diferença de ser uma ofensiva
global no plano político, económico, social e ideológico
em que se acentua com grande intensidade e como a grande questão
da nossa época contemporânea a luta de classes, em que estão
à beira da falência as teses e profecias dos seguidores do
neoliberalismo de que era possível civilizar e humanizar o capitalismo,
ou as teorias “do possível” e das inevitabilidades,
do fatalismo e do conformismo de integração no sistema como
um mal menor, da desnecessidade dos partidos de classe.
E no entanto aí está a crueza da realidade a demonstrar
o contrário.
Olhar para ver! O que se passa no mundo e no nosso país concreto.
Ver o desemprego, o alastramento da pobreza, das injustiças e desigualdades,
ver direitos laborais e sociais que pareciam assegurados e perenes como
o emprego com direitos, os horários de trabalho mais dignos e reduzidos,
os salários mais justos, as conquistas históricas resultantes
da luta de gerações inteiras de trabalhadores, como a contratação
colectiva, a liberdade de organização e acção
sindical, o exercício pleno do direito à greve, do direito
universal à segurança social, à saúde, ao
ensino, à fruição da cultura, ao desenvolvimento
livre do conhecimento e dos saberes, elementos constitutivos dos avanços
civilizacionais do ser humano, todos questionados e postos em causa porque
o capital considera que é tempo de recuperar as parcelas de domínio
perdido, para aumentar o lucro e a exploração.
É a confirmação que os direitos ganham-se e perdem-se!
É a demonstração que a relação de
forças de cada momento determina, não a alteração
mas o grau de concretização dos objectivos do capital tendo
em conta a sua natureza exploradora.
É essa natureza, são esses objectivos que também
por isso conduzem à ofensiva contra o Partido tanto lhe fazendo
ser pela via da sua eliminação ou da sua descaracterização
neste caso preferível porque seria uma capitulação
honrosa!
Como cogumelos mais ou menos venenosos e matizados ressurgem os fazedores
de opinião publicada que pela enésima vez traçam
o destino e o fim do PCP, dão conselhos aos seus militantes, repetem
repetem sentenças apocalípticas até à exaustão,
as sentenças que repetiram há dois, quatro, 8 ou 14 anos
atrás.
Não cometem erros de análise! São vendedores subcontratados
de peças de refugo ideológico que não suportam a
ideia de que este Partido, procurando aprofundar os traços essenciais
da identidade comunista do Partido, enriquecendo conceitos, orientações
e acção prática com os ensinamentos da vida e da
experiência, mantendo e reforçando a sua natureza de classe,
a sua ligação às massas, o seu objectivo de transformação
social, a sua teoria revolucionária, enraizado nos problemas, as
aspirações e na luta dos trabalhadores, atento e interveniente
junto dos intelectuais, dos agricultores, das causa e especificidades
dos jovens, das mulheres, dos reformados e deficientes, dos micro, pequenos
e médios empresários, anunciando, propondo e praticando
uma política de verdade, batendo-se por uma política de
esquerda que rompa com a quadratura do círculo da alternância,
reforçando a organização partidária, não
para ter ou estar, mas para intervir nas empresas e locais de trabalho
junto das populações, então importa dizer desta tribuna;
não contem connosco para engrossar o destacamento dos fatalistas
e desiludidos. Vivemos e viveremos de pé reforçando e afirmando
este Partido. O Partido Comunista Português.
Camaradas
As convicções e a determinação que nos animam
não significam a subestimação dos perigos, dificuldades,
incertezas e da realidade que decorrem em primeiro lugar da ofensiva que
tende para ter um carácter duradouro e prolongado e também
das alterações e mutações em curso resultantes
das reestruturações industriais, dos factores que resultam
das precariedades crescentes, da desregulamentação geral
das relações laborais, nas modificações do
emprego e nas modificações da organização
de produção e do trabalho, da arrumação das
forças de classe, da necessidade da definição objectiva
da pertença de classe, do conhecimento mais aprofundado das formas
e dos mecanismos que hoje promovem e condicionam a formação
da consciência de classe.
Verificando-se que na identidade da política de direita, realizada
com maior ou menor ritmo e concretização pelos sucessivos
Governos, tem como impressão digital uma política de classe
ao serviço dos grandes grupos económicos e financeiros,
da grande burguesia associada ao capital transnacional, que beneficia
um grupo extremamente reduzido de indivíduos enquanto agride os
interesses da esmagadora maioria da população, então
o Partido na sua luta, na sua acção e intervenção
para ter em conta a real possibilidade de encetar o caminho duma política
alternativa e uma alternativa política, tem de ser um protagonista
no processo de unir os trabalhadores e concretizar uma vasta frente social
que envolva as classes e camadas antimonopolistas, onde a classe operária,
sendo a força motriz precisa e tem de se inserir na acção
e na luta convergente dos empregados, dos intelectuais e quadros técnicos,
do micro pequenos e médios empresários do comércio,
indústria e serviços, contando com os jovens, as mulheres,
os reformados pensionistas e deficientes, não descurando outras
forças sociais como sectores da média burguesia que ainda
que conjunturalmente e de forma instável são atingidos pela
concentração monopolista e pelas políticas nacional,
europeia e mundial ao seu serviço.
Neste processo, o PCP é indispensável e insubstituível
mas é insuficiente.
No entanto, aos que, com pressa e voluntarismo pensam que o PS, por rebate
de consciência, mudará a agulha no sentido duma política
de esquerda e da construção duma alternativa, aos que pensam
que essa alternativa se constrói por petição ou solicitação
do PCP sem condições prévias, as posições
do PS falam por si. O que propomos às forças democráticas,
aos trabalhadores e a todos os portugueses atingidos por esta desastrosa
política é que se desenvolva e articule a luta do movimento
de massas e dos movimentos sociais a partir de objectivos concretos, de
coisas e causas concretas que convirjam simultaneamente para a reclamação
e exigência duma nova política, uma política de esquerda.
Este é o chão mais sólido e seguro que, aliado ao
reforço político, social e eleitoral do PCP, levará
a que o PS deixe de bloquear caminhos e soluções que a situação
nacional exige.
Porque consideramos a alternativa não só necessária
como possível, o tempo da sua concretização pode
eventualmente ser complexo e demorado, mas então façamo-lo
no tempo que for preciso, como exigência democrática mas
inseparável do nosso primeiro e principal compromisso com os trabalhadores
e o povo português, dizendo-lhe claramente que não pode haver
uma alternativa de esquerda com políticas de direita, afirmando
o nosso projecto, os nossos valores ímpares e distintivos de outras
forças políticas, indissociável da desmistificação
e combate aos preconceitos, do reforço da intervenção
e da organização e do ensinamento histórico sempre
válido e actual de que este Partido terá tanta mais força
e influência, seja política, social ou eleitoral, quanto
maior for a sua ligação ao pulsar dos problemas e da vida,
em que cada militante independentemente do seu grau de responsabilidade,
do seu estatuto e origem social ou institucional seja um comunista e um
protagonista na defesa, avanço e concretização das
causas, dos ideais e do projecto porque nos batemos e lutamos, pensando
sempre que a nossa acção individual tem um valor intrínseco
ao carácter, à natureza e ao valor impares e insubstituíveis
na acção, na definição da orientação
e na luta do nosso colectivo partidário, colectivo que representa
em si mesmo a obra mais exaltante das diversas gerações
de comunistas.
Camaradas
Na fase preparatória do nosso XVII Congresso e em particular em
torno do debate do projecto de Resolução Política
alguns dos promovidos a pcpólogos, que só não podem
ser comparados com a criatura de fábula que não fala, não
ouve, não vê, já que só falam e escrevem, consideram
que este Partido vai fechar-se, que não muda, entendendo a afirmação
da sua natureza e identidade como afirmação obreirista e
de acantonamento.
Partindo de rótulos, viciados no exercício do preconceito,
muitos deles reciclados nos seus percursos esquerdistas e aventureiristas,
e integrados no sistema dominante, procuram criar clivagens no seio do
Partido entre militantes de origem operária e militantes intelectuais.
Como se fosse dilemática a participação, a contribuição
e militância da tantos camaradas intelectuais e quadros técnicos,
agricultores, micro, pequenos e médios empresários na vida
e na luta deste Partido de classe.
Não ouvem, não lêem que na definição
das alianças sociais básicas aqui afirmamos da necessidade
do reforço da aliança da classe operária, com os
intelectuais e outras camadas intermédias, que este Partido contou
e conta com milhares de homens, mulheres e jovens de origem intelectual,
que precisa deles, dos seus conhecimentos e saberes, da sua contribuição
como especialistas e criativos mas também como revolucionários
de corpo inteiro para intervir no processo transformador por que lutamos.
Neste XVII Congresso estamos a afirmar perante o povo português
que não renegamos a nossa história, a nossa memória
e a nossa luta. Mas inseparável desta afirmação fica
claro que o nosso Partido continua com mais projecto que memória,
com causas e com lutas no devir imediato, e mesmo sabendo que o sonho
está sempre mais avançado que a realidade, havemos de não
perder a perspectiva de manter o nosso objectivo transformador encetando
a construção duma sociedade nova e avançada, uma
sociedade socialista.
Não é o optimismo histórico que nos anima, que nos
faz dizer que a luta continua!
É porque acreditamos que vivendo e reforçando este Partido,
acreditamos num futuro melhor.
Que viva sim!
Que viva o Partido Comunista Português!