O "Avante!" fez 65 anos. Foi no dia
15 de Fevereiro de 1931
que este jornal se publicou pela primeira vez, já o Partido Comunista
Português, de que passou a ser o órgão central, se encontrava na
clandestinidade, após o golpe reaccionário de 1926, a que se seguiu a
ditadura fascista. Durante dez anos, a saída do jornal foi irregular,
reflectindo as grandes dificuldades impostas pela repressão. A partir
de 1941, porém, o "Avante!" passou a ser editado com regularidade, pelo
menos uma vez por mês. Reorganizado o Partido, o "Avante!" resiste
melhor às investidas da polícia fascista e, apesar dos assaltos às
tipografias, das prisões, torturas e mesmo assassinatos de alguns dos
militantes que participavam na sua feitura - sempre no interior do País
-, a voz do PCP chegou regularmante aos trabalhadores e aos
antifascistas.
A Revolução de Abril, para a qual tanto contribuiu organizando a
resistência, a luta e a unidade, abriu ao "Avante!" as portas da
legalidade. Em 17 de Maio de 1974,
o primeiro "Avante!" em liberdade anuncia a participação dos comunistas
no Governo Provisório. Semanário a partir de então, o "Avante!"
reflectiu nas suas páginas uma outra realidade - a de uma revolução
democrática e nacional em movimento, as lutas com que os trabalhadores
e o povo fizeram as suas conquistas. A realidade mudou desde então. E o
"Avante!" não deixou, como sempre, de a mostrar com verdade. Não apenas
reflectindo a vida mas transportando em si a voz do Partido e ajudando
a transformá-la, levando aos seus leitores o ponto de vista dos
comunistas, os seus ideais de liberdade e de democracia, as
perspectivas do socialismo e do comunismo. Aniversário é momento para
recordar o tempo que passou e nestas páginas o fazemos. Mas tempo
também de olhar o futuro e de o preparar, o que fazemos nas outras
páginas todas.
Anos 30
Em 15 de Fevereiro de 1931 publica-se o primeiro número do
"Avante!", com um apelo "Ao Proletariado de Portugal", "chamando os que
sofrem a incorporarem-se nas fileiras revolucionárias". Nos anos
seguintes, o "Avante!" sai com irregularidade, sofrendo as
consequências da repressão fascista. Mas não deixa de se publicar e,
nos anos 37/38, chegou a sair semanalmente. Na Europa, o facismo
crescia. Implantado em Itália, apoderou-se da Alemanha e em breve
estalava a guerra civil em Espanha. Combater o fascismo e a guerra era
um imperativo para os comunistas. A Segunda Guerra Mundial estava à
porta.
Anos 40
A actividade geral do Partido melhora no início dos anos 40 e a
reorganização do PCP coincide com as grandes lutas de 1942/43. A partir
de Agosto de 1941, o "Avante!" dá início a uma publicação regular, que
não mais abandonaria até aos dias de hoje. O nosso jornal acompanha a
actividade do Partido, dá-lhe voz na divulgação das ideias dos
comunistas, acompanha e noticia as pequenas e grandes lutas de massas
no campo social e político. Durante a Guerra e até à vitória sobre o
nazismo, o "Avante!" é o único jornal que informa livremente sobre o
decorrer do conflito, os crimes nazis e o papel fundamental da União
Soviética na vitória sobre o Eixo.
Anos 50
A repressão recrudesce e abate-se sobre os comunistas. Com as costas
quentes dos seus aliados ocidentais, Salazar, passados os maus momentos
da derrota nazi, vira-se decididamente para a dependência dos EUA.
Muitos destacados dirigentes do Partido estão nas prisões do regime.
Militão Ribeiro é assassinado. Álvaro Cunhal é julgado e transforma a
sua defesa numa acusação à política salazarista. O "Avante!" continua a
divulgar as lutas sociais e políticas, "uma voz que a censura não
amordaça". A batalha contra o fascismo atinge um ponto alto nas
eleições-farsa de 1958, em que a candidatura de Humberto Delgado,
apoiada por toda a oposição, abala o regime.
Anos 60
"Corre o sangue do povo em Angola!" É a década da guerra colonial, e
o "Avante!" dá voz às ideias e sentimentos profundamente
anticolonialistas dos comunistas portugueses. É uma década de lutas
cada vez mais vigorosas que ganham as massas de trabalhadores, de
estudantes, de democratas. Enfrentando a repressão, as multidões saem
às ruas nas grandes cidades, nas fábricas e nos campos registam-se
grandes greves vitoriosas, nas escolas e universidades o movimento
estudantil cresce e consolida-se. As prisões enchem-se de lutadores que
é urgente libertar.
Anos 70
Culminando um longo e heróico período de resistência e de luta
antifascista, a Revolução de Abril chega em 1974. O "Avante!" publica o
seu primeiro número na legalidade. Em 17 de Maio, data também histórica
para o nosso jornal, anuncia-se a participação dos comunistas no
Governo Provisório, e o "Avante!" é disputado nas ruas e nos campos do
País, chegando esse primeiro número a atingir quase meio milhão de
exemplares de tiragem. São os anos gloriosos da Revolução, anos de
conquistas que o "Avante!" acompanha, dando voz aos que nunca a haviam
tido e que se haviam tornado nos protagonistas desse tempo - os
trabalhadores. Anos de festa e luta. E a primeira Festa do "Avante!"
surge em 1976, na FIL, tornando-se, desde logo, na mais importante
manifestação político-cultural do País.
Anos 80
São os anos da contra-revolução e, de novo, da resistência, desta
vez em defesa das conquistas de Abril. Pela mão do PS, a política de
direita instala-se e parte ao ataque frontal dessas conquistas e dos
direitos dos trabalhadores. Objectivos da política de direita - a
destruição da Reforma Agrária e das Nacionalizações, subversão dos
valores e regras centrais de Abril consagrados na Constituição. O
cavaquismo sucede, no Governo, ao PS. E as lutas são muitas.
Anos 90
O comunismo morreu? É certo que os regimes socialistas desabam a
Leste e que a própria União Soviética, após as esperanças da
perestroika, entra em derrocada. Mas certo é também que os valores e
ideais do comunismo não se apagam. Há quem, com coragem, determinação e
firmeza, resista. Porque o capitalismo - e mais uma vez se prova ser
assim num mundo agora unipolar - não soluciona mas agrava os problemas
da sociedade. Porque os partidos comunistas são mais necessários que
nunca. Como em Portugal. O PCP afirma-se como o grande Partido da
Esquerda. E contribui significativamente para o fim do cavaquismo,
afastando a direita do poder. Novas vitórias são possíveis.