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A ofensiva ideológica do capitalismo - José Casanova, Comissão Política do PCP
Sábado, 24 Novembro 2007

 

José Casanova

Sempre, ao longo da História – desde o esclavagismo até aos tempos actuais - os exploradores procuraram justificar a exploração. E sempre tiveram ao seu serviço um exército de ideólogos e propagandistas pagos para produzir e propagar como verdade universal essa justificação.
A fórmula «a ordem natural das coisas» - que tem sido o suporte ideológico essencial de todos os modos de produção baseados na exploração do homem pelo homem - é a fórmula básica de todo o edifício da ideologia da exploração. Com esta fórmula querem eles dizer – e, especialmente, convencer – por um lado que, por força de uma qualquer poderosa, inevitável e imutável lei suprema, sempre houve e haverá ricos e pobres, sempre houve e haverá exploradores e explorados; por outro lado que, assim sendo, nada justifica e de nada vale lutar por alternativas a este estado de coisas.


Depois, acrescentam à tese os condimentos que a tornam pronta a ser servida à imensa maioria dos habitantes do planeta – os explorados - de modo a que a exploração fique justificada e a sua perene inevitabilidade assegurada.


Naturalmente, esta fórmula é convenientemente adaptada e assume as características adequadas a cada momento, a cada conjuntura, a cada situação.
Veja-se como, aqui no nosso País, ao longo dos últimos trinta e um anos, os ideólogos do capitalismo têm vindo a «justificar» a política de direita praticada por sucessivos governos do PS e do PSD – e como, para cada caso concreto, eles produzem a respectiva justificação.
Assim, a destruição das grandes conquistas da revolução de Abril; o regresso do poder do grande capital e da submissão absoluta do poder político ao poder económico; a acentuação da exploração dos trabalhadores, complementada por crescentes limitações e violações dos seus direitos; a ofensiva generalizada contra o conteúdo democrático do regime; a submissão total aos interesses do imperialismo norte-americano e da sua sucursal na Europa que é a União Europeia; a venda ao desbarato da independência e da soberania nacional; o agravamento das condições de vida da maioria dos portugueses e o aumento constante dos lucros dos grandes grupos económicos e financeiros – tudo isto é, para os ideólogos da classe dominante… «a ordem natural das coisas» - neste caso explicada e traduzida em palavras como «inevitabilidade», «progresso», «crescimento», «desenvolvimento», «modernidade»…


Contra os que não desistem de lhes fazer frente, de lutar por um outro rumo e uma nova política para o País, eles decretam a caducidade da luta, a sua inutilidade, por vezes, até, o seu carácter subversivo. Enfim, decretam o fim da luta de classes, fingindo não saber que a luta de classes é um elemento integrante da política de classe do governo e que existirá enquanto a sociedade estiver dividida em classes. E tão bem o sabem que tudo fazem no sentido de dividir e enfraquecer a força organizada dos trabalhadores, de fragilizar as suas estruturas representativas de classe – e definindo políticas laborais que transformam num acto de heroísmo para centenas de milhares de trabalhadores, o facto de, cumprindo um direito consagrado no Constituição, lutarem pela defesa dos seus interesses e direitos.
Todas essas patranhas, vistosamente embaladas, fazem caminho através de uma massiva difusão por parte da comunicação social dominante: a privada, que é propriedade do grande capital; e a pública, que o Estado põe ao serviço dos interesses desse mesmo grande capital. É assim que a repetição exaustiva e profusamente difundida da ideologia dos exploradores – visível nos critérios editoriais, nos noticiários e notícias, na generalidade dos artigos de opinião, nas séries televisivas, inclusive nos anúncios publicitários – transforma em opinião pública a opinião mil vezes publicada do capital.
Na situação actual, os ideólogos da exploração têm como tarefa principal a de procurar convencer os povos de que a ofensiva global do capitalismo é invencível e irreversível, que o capitalismo é o fim da história, o estádio supremo do desenvolvimento, do progresso, do bem-estar e da felicidade universais. E que, assim sendo, não há qualquer alternativa ao capitalismo triunfante e benemérito: o comunismo morreu, morreram os ideais e as ideologias – e, dizem eles, lutar por uma alternativa ao capitalismo não passa de uma utopia.


Com isto pretendem esconder que o capitalismo está roído por contradições insolúveis e, não apenas não quer nem é capaz de resolver nenhum dos grandes problemas da humanidade, como cria todos os dias novos e mais graves problemas, ao mesmo tempo que, também todos os dias, acentua a sua natureza exploradora, opressora, repressiva e agressiva. Com isto «o capitalismo ilude-se a si próprio e cria assim a sua própria utopia».
A apresentação do capitalismo como sistema final, único e irreversível, constitui um dos maiores embustes do tempo que vivemos.
Nós sabemos, e eles também, que o comunismo é a alternativa histórica ao capitalismo e a mais válida esperança da humanidade.
Nós sabemos, e eles também, que com a Revolução de Outubro – de que este ano comemoramos o 90º aniversário – nasceu o primeiro dia do futuro que constitui o sonho comum da humanidade.
Nós sabemos, e eles também, que a luta continua até à construção desse futuro.
Nós sabemos, e eles também, que venceremos.

Viva o comunismo
Viva o PCP