Senhor Presidente Senhoras e Senhores Deputados É certo que há dois dias o Governo anunciou – obviamente com grande pompa e circunstância – um concurso para licenciar 1.700 megawatts de energia eólica. Mas é também certo que a aposta nacional nas energias renováveis foi sendo sistematicamente adiada, ano após ano, por responsabilidade política directa dos últimos governos. E por isso o país continua profundamente dependente do petróleo, cuja factura sempre crescente pesa sobretudo sobre os ombros dos portugueses de menores recursos e sobre a frágil e dependente economia nacional. É certo que o Governo anuncia agora um novo concurso de 1.700 megawatts mas é bom que não se esqueça, e se recorde, que em Portugal há menos de 800 megawatts operacionais em energia eólica e que continuam sem concretizar – sem explicações claras e convincentes – mais outros 2.500 magawatts já licenciados. Como é bom que também se recorde a indefinição política quanto a apostas diversas dentro das chamadas energias renováveis, especialmente no sector hidroeléctrico, nas suas mais diversas componentes, cujas capacidades e potencialidades permanecem sem aproveitamento. Hoje, o que apetece mais sublinhar, especialmente no contexto de mais um anúncio governamental, é a indefinição global que permanece quanto ao futuro modelo do sector energético em Portugal e respectivas consequências na estrutura empresarial existente. Não obstante outros anúncios, designadamente do titular da pasta da Economia, que havia prometido decisões para o final do mês de Junho; não obstante algumas fugas de informação que indiciavam decisões para o Conselho de Ministros da passada semana; não obstante todo o conjunto de informações contraditórias e de mais que evidentes manobras de bastidores, a verdade é que permanece sem definição clara o modelo institucional e empresarial do sector energético em Portugal. Enquanto isto há empresas estratégicas que continuam a ser penalizadas por esta indefinição. Como é o caso da Galp, novamente envolvida nos jogos de interesses privados dos grandes grupos que, no passado como certamente agora, aparecem apostados em tomar de assalto o seu controle accionista para mais facilmente colocar a empresa ao serviço das suas estratégias de grupo, mesmo que isso signifique a menorização, quando não o total desprezo, dos interesses essenciais da economia nacional. É bom que hoje se recorde que a venda de uma posição accionista da então Petrogal à ENI foi considerada unanimemente pela Assembleia da República, em conclusões de uma sua Comissão Parlamentar de Inquérito, ratificadas em plenário, como uma operação que tinha afectado o interesse nacional. Sobretudo quando parecem ser de novo esses investidores novamente os escolhidos pelo actual governo, (que em vez de arrepiar caminho e emendar a mão das opções do PSD/CDS, insiste na mesma via privatizadora), para assumirem novas posições de compra esquecendo de todo os resultados de um concurso publico. Sobretudo porque algumas das empresas e dos investidores individuais agora recuperados perderam esse concurso! O que foi no passado recente uma operação que afectou o interesse nacional não pode ser a nenhum título recuperada mesmo que alguns dos protagonistas desempenhem hoje funções igualmente determinantes na definição das orientações políticas do actual governo. É igualmente fundamental recordar hoje que as conclusões do referido inquérito parlamentar definiam como essencial a permanência dos interesses do Estado na GALP e a necessidade de assegurar o funcionamento da empresa assente na mudança e na eficiência das suas duas refinarias, em Sines e em Leça da Palmeira E neste capítulo, há muito por decidir, há muito por concretizar e é urgente uma clarificação das estratégias empresariais e sobretudo dos investimentos fundamentais que a empresa e o Estado terá que fazer para garantir o funcionamento das refinarias, a respectiva rentabilizaçãp e assim responder a todas as dúvidas – mesmo às mais veladas – que o Relatório de Missão formulou quanto à viabilidade futura da unidade de Matosinhos. Quisemos e continuamos a querer ouvir os responsáveis da GALP e o Ministro da Economia sobre este tema. Quisemos e queremos ouvir aquele que foi presidente do Grupo de Missão e é hoje Presidente de Administração da GALP. Quisemos e queremos continuar a discutir o futuro da GALP. Porque ao contrário de outros, (que a história recente provou serem os cavalo de Tróia de interesses privados externos visando a destruição da GALP e a eliminação de mais um concorrente), para quem a GALP só foi e é uma empresa estratégica na medida em que lhes permitiu negociar ordenados principescos, indemnizações milionárias e reformas escandalosas equivalentes a dezenas de anos obtidos no primeiro dia de trabalho, para nós, para o PCP, a GALP é uma peça estratégica essencial na economia nacional que importa defender e preservar na esfera de influência determinante do Estado. Disse. |