Partido Comunista Portugu�s
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Novamente os incêndios florestais
Declaração de Agostinho Lopes, da Comissão
Terça, 03 Julho 2001
Responsabilidades do governo PS Na falta de concretização das necessárias medidas de prevenção

Incêndios florestais de grande dimensão assolam novamente o País, devorando a floresta portuguesa, causando impactos e prejuízos avultados, alguns irrecuperáveis. Bastou que a temperatura subisse, e apesar de um Inverno/Primavera de água (também responsável, é certo, por um desenvolvimento anormal de matos), para que as chamas voltassem, do Minho ao Algarve, do interior ao litoral, a consumir pinheiros, eucaliptos e muitas outras espécies da flora e fauna, levando a desolação a serras e aldeias. Arde a mata de proprietários privados, a floresta de terras baldias, extensas áreas de parques naturais.

A vaga de incêndios que se desencadeou nos últimos dias da semana passada, antecipou e como que "preparou" a operação mediática que o Governo ontem promoveu no Parque de Monserrate/Sintra, para abrir a "Época dos Fogos Florestais". Com a pompa habitual, o ministro da Administração Interna lançou a campanha "Prevenção na Floresta", orçada em 130 mil contos, dita com o propósito de envolver a "sociedade civil".

Mas, a cruel realidade dos fogos do fim de semana por todo o País é uma condenação brutal da política florestal em geral, e da política destinada a combater os fogos florestais em particular, do governo PS.

2. O governo PS tem efectivas responsabilidades pelos atrasos, insuficiências, e mesmo incongruências, na concretização das adequadas e atempadas medidas de prevenção dos fogos florestais.

Em primeiro lugar, o Governo continua a confundir prevenção com detecção e combate aos incêndios. O Governo, mais uma vez clama por Santa Bárbara quando troveja, ou quando ameaça trovejar.

prevenção, mais uma vez o PCP insiste, tem de começar quando o Verão acaba. Durante o Outono, o Inverno e a Primavera. O Governo continua a falar de prevenção quando as chamas iniciam a sua terrível lavra na floresta portuguesa.

Os acessos e caminhos que permitem a chegada célere dos meios de combate aos locais de incêndios, os aceiros e pontos de água, a limpeza das matas e das infra-estruturas já existentes, continuam longe das necessidades que a acção de prevenção exige.

O Ministério da Administração Interna e o Ministério da Agricultura aprovaram, em 21 de Março passado, um Programa Comum no âmbito dos fogos florestais para o ano 2001. É hoje uma evidencia que foi uma decisão tardia, dificultando a concretização das medidas nele referidas, e longe do que era necessário.

Em segundo lugar, o Governo, embrulhado nas suas contradições, nas guerrilhas de capelas entre departamentos e repartições, com responsabilidades na matéria, e fundamentalmente pelas suas opções políticas prioritárias, atrasou-se irremediavelmente na regulamentação e desenvolvimento da Lei de Bases da Floresta, que teve a participação decisiva do PCP. Aprovada na Assembleia da República em 1996, foi publicada a 17 de Agosto desse ano, vão passados quase cinco longos anos.

Regulamentação que obrigava à criação de instrumentos fundamentais para o ordenamento e diversificação da floresta portuguesa. A elaboração de Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF) e de Planos de Gestão Florestal (PGF) (Artigos 5º e 6º da Lei de Bases), deveria ter sido a base de toda uma nova política florestal como instrumentos decisivos para o ordenamento e gestão da floresta. Pois bem, os decretos regulamentadores só foram publicados três anos depois, em Junho de 1999 e, até ao momento, na prática, não passaram do papel e do site na Internet. A constituição das Comissões Mistas de Acompanhamento dos PROF só em Fevereiro passado foi definida em Despachos do ministro da Agricultura.

A definição de um conjunto de "acções com carácter prioritário" (Artigo 21º da Lei de Bases) está, no essencial, por concretizar. O sistema de seguros florestais (Artigo 20º), designadamente um seguro de responsabilidade civil, não existe. A criação do fundo financeiro e de incentivos fiscais com vista a estimular o associativismo das explorações florestais, as acções de emparcelamento e o autofinanciamento (Artigos 18º e 19º), está no ponto zero. O Conselho Consultivo Florestal, que foi constituído à medida dos interesses dos grandes industriais e dos grandes proprietários florestais, não teve nenhuma acção relevante até ao momento. A reestruturação fundiária e das explorações, num País marcado por uma floresta microfundiária (mesmo se 1% das explorações concentram 55% da superfície florestal total), marca passo (Artigo 8º).

Em terceiro lugar, o Governo não dá o exemplo. O incêndio que também neste fim de semana devastou 400/500 hectares de floresta no Parque Natural da Peneda, Soajo, Gerês demonstra que nem naquelas áreas de particular sensibilidade ambiental e paisagística, e onde o Governo tem particular responsabilidade, e uma forte intervenção administrativa - quantas vezes à margem e mesmo em oposição às suas populações - é desenvolvida uma acção florestal exemplar da prevenção, que acautele riscos e impeça a destruição que vai continuando todos os anos, do importante património natural das áreas protegidas.

Bem pode o Governo falar de reforço de meios humanos e materiais, e lançar como propaganda os milhões que são gastos nesta intervenção. Poderia dizer-se, com propriedade, que são mais as vozes que as nozes ("falta de meios operacionais", queixam-se os bombeiros em Braga", "o Exército não tem dinheiro para adquirir as peças necessárias para reparar as viatura utilizadas para esse fim", e "as motas da GNR utilizadas para o mesmo efeito estão avariadas, afastam Exército e GNR da prevenção e combate no Parque Natural Sintra - Cascais", etc., são citações de notícias recentes de jornais).

Nada pode substituir-se a uma efectiva, rigorosa e desenvolvida acção de prevenção, que começa no ordenamento florestal integrado, na participação de agricultores, povos dos baldios e outra população na defesa do que é seu, na disponibilização pelo Estado dos meios financeiros necessários.

Os problemas que afectam dramática e regularmente a floresta portuguesa não podem ser desligados das políticas económicas que, na continuação dos governos do PSD/Cavaco Silva, o PS tem levado à prática. Em particular na ruinosa política agrícola nacional e na inaceitável PAC, mas não só.

É nas dinâmicas económicas em curso, fundadas nas opções neoliberais do Governo, que se radicam os processos de desertificação do mundo rural e de extensas áreas do interior do País. Aí estão os primeiros dados do Censo Geral da População a evidenciar, de forma categórica, a gravidade da situação.

Acresce a ausência de medidas sérias de recuperação do património florestal ardido ano após ano.

Acresce o comportamento de um governo que, na continuidade dos seus antecessores, continua de costas voltadas para os povos dos baldios, detentores de cerca de 10% da área florestal do País. Ou pior, mantendo os traços de toda a anterior política de direita na matéria, continua a julgar-se proprietário de terras baldias. É ver a tentativa de apropriação das casas da floresta, a continuação do congelamento de verbas das vendas de material lenhoso, a criação de estruturas para estas áreas sem ter em conta a opinião dos compartes e respectivos órgãos de gestão, na insuficiência de meios para apoiar os Conselhos Directivos de Baldios na prevenção e combate aos fogos florestais, e o muito mais que foi vivamente denunciado pelos compartes e suas organizações na IV Conferência de Baldios realizada no passado domingo em Vila Real.

O Governo tem há muito um adequado quadro legal e os meios financeiros, inclusive de origem comunitária, para fazer frente a este flagelo.

Nada, a não ser incapacidade, incompetência e incúria, e muito particularmente outras prioridades políticas, poderá explicar a insuficiência de medidas adequadas e atempadas na redução significativa da área florestal ardida.

O PCP tem toda a legitimidade para responsabilizar o Governo pelo muito de mal que se passa nesta matéria, e por não terem sido tomadas medidas de fundo que travassem o flagelo dos fogos florestais.

O Governo prefere a propaganda ao trabalho e às medidas estruturantes, ano após ano.

O PCP exige do Governo medidas sérias e não de mera propaganda. Medidas de combate, seguramente. Mas igual e prioritariamente, medidas de prevenção no âmbito da política florestal nacional e da necessária regulamentação e execução no terreno da Lei de Bases da Política Florestal.

Sem esquecer a indiscutível importância económica e social da floresta, e o seu papel crescente no quadro de uma agricultura em mudança, os dramáticos acontecimentos ocorridos este ano na maior parte das bacias hidrográficas, chamam a atenção para o papel que a cobertura florestal desempenha na regularização dos regimes hidrológicos.

O PCP considera necessária uma maior intervenção governamental na defesa e promoção de uma floresta que responda às necessidades do País, que contribua significativamente para a economia nacional e para o rendimento dos agricultores, que cumpra o seu papel na conservação da natureza e como suporte da vida e da biodiversidade, e que se constitua como elemento preponderante na manutenção e restabelecimento dos equilíbrios ecológicos.