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O dr. Ferro Rodrigues devia ter visto o anúncio da baleia. Diga-se de passagem que o dito anúncio é um excelente exemplo dos dramas da publicidade. Toda a gente viu, toda a gente fala, é genial a ideia, invulgar e estimulantemente generosa a mensagem, magnífica a realização - mas qual é mesmo o servidor de telemóvel publicitado?... Seja como for, o dr. Ferro Rodrigues devia ter percebido que, quando se tem a felicidade individual de ter uma coisa boa e nova (como uma vitória eleitoral...), em nenhuma circunstância se deve valorizar a componente própria do facto. As coisas são tanto maiores e melhores quanto mais são de muita gente. Ora, se é permitida a comparação, o dr. Ferro Rodrigues teve um telemóvel novo, teve um importante papel em salvar a baleia - e disparatadamente veio dizer que agora e de vez quem telefonava era ele. Com isto, deslocou a questão da colectiva salvação do cetáceo para a pessoal posse do telemóvel. Como se não fora suficiente, após se perfilarem mais uns clientes do telemóvel, veio rectificar que não, que o importante é o previsível afogamento do País encalhado na praia - não quem tem o telemóvel e o que dele faz. O erro do anúncio é que a salvação da baleia se torna mais importante que o telemóvel. O erro do dr. Ferro Rodrigues é que tornou o telemóvel mais importante que salvar a baleia. |