Num encontro com jovens anti-imperialistas de todo o Mundo, que se encontram em Portugal a participar no Conselho Geral da Federação Mundial da Juventude Democrática, Jerónimo de Sousa chamou a atenção para o ano que agora se inicia, em que se colocam «grandes perigos e ameaças aos trabalhadores e aos povos do planeta, a exigir participação, intervenção e luta da juventude! Somos daqueles que pensamos que, apesar desses perigos e ameaças, existem possibilidades e potencialidades enormes para resistir e avançar na construção de um mundo melhor».
Saudação de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP
aos participantes na reunião do Conselho Geral da Federação Mundial da Juventude Democrática
Com alegria e
coração aberto vos recebemos na certeza que irão levar por diante os trabalhos
para que foram convocados e simultaneamente tomarem conhecimento da nossa
realidade nacional.
Terão
oportunidade de conhecer, nos dias em que cá estão, que Portugal é um país em
que duas realidades se fundem e contradizem de uma forma muito singular.
Por um lado é
um país onde há cerca de 2 milhões a viver abaixo do limiar de pobreza,
enquanto fortunas formidáveis são amassadas e concentradas num punhado de
grupos económicos e financeiros. Os serviços públicos e as funções sociais do Estado
nas áreas da saúde, segurança social, educação, justiça, energia, comunicações
e correios são reduzidos ou encerrados, sacrificando os interesses das
populações, particularmente do interior do país e visando a sua privatização. O
Governo transforma-se assim num instrumento político nas mãos do poder
económico.
Este é um país
em que o simples acto de ir à escola representa um custo cada vez mais difícil
de suportar para inúmeras famílias portuguesas, em que a educação está cada vez
menos virada para a formação integral do indivíduo e mais direccionada para uma
formação que determina a entrada precoce dos jovens no mercado de trabalho e em
que se pretende que as empresas passem a dirigir as universidades por imposição
e por Lei do próprio Governo.
No mundo do
trabalho, o desemprego entre os jovens é de 18% e a precariedade atinge mais de
metade dos que têm emprego, muitas vezes com contratos de dias ou mesmo horas,
havendo empresas em que a esmagadora maioria da mão-de-obra é precária. Isto
para além das gravíssimas situações de horários de trabalho desregulamentadas,
de trabalho ilegal e de falta de condições de higiene e segurança em que tantos
trabalhadores portugueses trabalham e que tem conduzido a que, de dia para dia,
haja mais jovens portugueses a ter de partir do seu país e ir procurar melhores
condições de vida lá fora.
Devido à
política que os últimos Governos têm tido, mais acentuadamente com o actual
Governo (que eleito à esquerda faz política de direita) os jovens portugueses
são obrigados a ficar até cada vez mais tarde em casa dos pais, pois hoje ter
uma casa própria é praticamente incomportável para a maioria dos jovens
portugueses, dados os seus salários de miséria, a selvática especulação
imobiliária e a quase inexistente habitação social em condições de dignidade.
No entanto, paradoxalmente, há em Portugal mais de 1 milhão de casas
desabitadas.
Por outro
lado, este é um país que, fruto da Revolução de Abril de 1974, tem uma
Constituição das mais avançadas da Europa e mesmo do Mundo. A nossa
Constituição consagra o direito à educação pública, gratuita e de qualidade
para todos, à habitação, à cultura, ao emprego com direitos, à liberdade e
promoção das várias formas de associação, expressão e manifestação, que defende
a paz e o fim dos blocos político-militares como a NATO, o direito dos povos à
libertação e decisão do seu próprio destino colectivo.
O Partido
Socialista e o Partido Social-Democrata insistem em desprezar, subverter e destruir o que foi e é conquista
de Abril consagrada na Lei Fundamental do país, dando um novo passo com a
adopção do novo Tratado da UE, que nós rejeitamos e em relação ao qual exigimos
a realização dum referendo após amplo debate nacional, que o Governo PS
recusou, fugindo aos seus compromissos eleitorais para com o povo português.
Travamos a
nossa luta diária contra a política do Governo PS a partir das questões
concretas de cada sector, de cada local de trabalho, de cada escola, a partir
das aspirações e reivindicações dos trabalhadores das populações e da
juventude. Por isso, foi tão importante o amplo movimento de massas que houve
apenas há uns dias quando milhares de estudantes do Ensino Secundário se
manifestaram nas ruas do nosso país. Por isso é tão importante a luta
generalizada dos estudantes do Ensino Superior contra a privatização das
universidades e o Processo de Bolonha. Por isso foi tão importante o contributo
dos jovens trabalhadores na grandiosa manifestação de 18 de Outubro de 2007,
convocada pela grande central sindical dos trabalhadores portugueses - a
CGTP-IN, onde mais de 200 mil trabalhadores se manifestaram para rejeitar a
política seguida pelo Governo português.
Em Portugal há
uma intensa campanha ideológica e um poderoso ataque às liberdades e garantias
democráticas, aos direitos das organizações juvenis, às associações de estudantes, ao direito de
organização e de manifestação dos jovens portugueses, ofensiva inseparável da
limitação às liberdades e aos direitos dos trabalhadores em centenas de
empresas e locais de trabalho.
O Governo, com
uma Lei dos Partidos e do Financiamento dos Partidos, quer impor-nos um
funcionamento diferente daquele que livremente decidimos ter, quer levantar
obstáculos à nossa Festa do "Avante!", quer que digamos quem são os membros do
nosso partido para que possamos provar que existimos. É para dar resposta a
isso que no próximo dia 1 de Março realizaremos uma grande manifestação em
Lisboa, uma Marcha pela Liberdade e Democracia, uma afirmação do direito à
organização política livre e consciente, uma afirmação de liberdade.
Vivemos hoje
num mundo confrontado com enormes perigos. A violenta ofensiva do imperialismo,
alicerçada quer na brutal exploração dos trabalhadores e na agressão a países
soberanos, quer numa vaga crescente de atentados aos mais elementares direitos
e liberdades acentua enormemente as disparidades e injustiças sociais,
multiplica as ingerências na vida interna dos países soberanos, desencadeia
guerras de agressão, faz ressurgir o racismo e a xenofobia. Perante tal
situação, os jovens vêm os seu futuro ameaçado e são, nos dias que correm, das
principais vitimas da natureza exploradora e agressiva do imperialismo. Perante
tal situação, os jovens vêem o seu futuro ameaçado e são, nos dias que correm,
alvo privilegiado da natureza exploradora e agressiva do imperialismo.
Consideramos
que a agressividade do imperialismo acentua também na nova corrida aos
armamentos e alertamos, em particular, para a instalação na Europa, nas
fronteiras da Rússia, do sistema anti-míssil norte-americano que, contando com
o apoio da U.E. que também aprofunda a sua componente militarista, pode
conduzir a uma espiral de rearmamento de imprevisíveis consequências.
Com tal curso,
o imperialismo impõe aos trabalhadores e aos povos uma nova ordem totalitária
projectando, através duma intensa campanha ideológica , o fim das ideologias e
da luta de classes, promovendo "ódios religiosos e étnicos", criminalizando as
forças de resistência às suas guerras de rapina e à ocupação, assim como todos
que se opõem à exploração e ao seu projecto de domínio mundial. É com grande
preocupação que acompanhamos e somos solidários com a luta do povo e dos jovens
palestinianos contra a agressão israelita e pela constituição do seu estado
independente e soberano, com o povo e os jovens do Iraque que, em breve,
completam cinco anos de resistência à ocupação; do povo e dos jovens do
Afeganistão, do Sahara, do povo e dos jovens dos Balcãs e de inúmeros países de
África que lutam pelos seus direitos e a soberania dos seus países.
Mas, apesar do
quadro internacional encerrar grandes perigos e ser caracterizado por uma
grande instabilidade, não é menos certo que cresce a resistência e a luta dos
trabalhadores e dos povos à ofensiva do imperialismo. Na Palestina, no Iraque,
no Afeganistão, como já referimos mas também em muitos outros cantos do mundo,
desenvolvem-se importantes processos de luta, encerrando reais potencialidades
de transformação revolucionária. Toda a evolução na América Latina, apesar dos
seus traços contraditórios, mostra que mesmo num quadro internacional
desfavorável são possíveis avanços de conteúdo progressista que constituem um
alento para as forças revolucionárias em todo o mundo. A resistência de Cuba
socialista, a revolução Bolivariana na Venezuela e outros processos democráticos
de cariz popular projectam a possibilidade de resistir e de desenvolver
processos com profundas transformações sociais.
É com grande
preocupação que acompanhamos uma imensa actividade de reescrita da história com
diversas tentativas de branqueamento do fascismo e com o desenvolvimento duma
vergonhosa campanha anti-comunista. Pelo nosso lado, continuamos a afirmar os
valores e objectivos que levaram à constituição do PCP, partido patriótico e
internacionalista, enraizado na realidade portuguesa e nos anseios dos
trabalhadores, da juventude e demais camadas laboriosas, partido que se
orgulha da sua história de combate ao fascismo, de luta pela liberdade e a
democracia, um partido com uma vida interna assente nos princípios do
centralismo democrático e que orienta a sua acção na base do
marxismo-leninismo, concepção materialista e dialéctica do mundo que se
enriquece constantemente em permanente ligação com a vida e o mundo.
Forjados
nestes principio, o PCP considera como marco fundamental da sua acção o
desenvolvimento da luta em Portugal que constitui o mais forte elo que nos une
aos camaradas e organizações progressistas de todo o mundo que, no seu país,
desenvolvem a luta pela libertação do seu povo, pois é através da nossa luta
que daremos a conhecer as vitórias das forças progressistas e os crimes do
imperialismo no mundo; e será com a nossa libertação que poderemos
solidarizarmo-nos de forma ainda mais consistente com todos os camaradas que
lutam por esse Mundo fora.
Sabemos da
importância que tem o alargar e fortalecer dos laços entre as forças
democráticas, progressistas e comunistas de todo o mundo e esta é a nossa, do
PCP e da JCP, prioridade no plano internacional.
É para o PCP
um orgulho que, a organização dos jovens comunistas portugueses, a JCP, assuma
a responsabilidade que representa a presidência da FMJD.
O PCP
considera a FMJD, que integra mais de 150 organizações juvenis de mais de 100
países dos cinco continentes, como uma importante força da luta dos jovens de
todo o mundo contra o imperialismo, e o seu papel na condução do Movimento dos
Festivais Mundiais da Juventude e dos Estudantes, determinante para a
preservação da unidade das lutas juvenis no firme combate à exploração, às
injustiças e ao imperialismo.
Os jovens
anti-imperialistas de todo o mundo lutam contra a guerra, por um mundo de paz,
livre de bases militares imperialistas e armas nucleares, pela autodeterminação
dos povos e sua soberania e independência nacionais, reforçando a cooperação e
solidariedade internacionais.
A juventude luta contra a fome, a miséria, a
pobreza, a SIDA, os bloqueios, os embargos, as sanções e contra todas as formas
de discriminação e exploração. Luta por um emprego digno e com direitos, pela
educação pública, gratuita e de qualidade, a saúde, o desporto, a habitação, a
cultura e a tecnologia para todos.
O PCP deseja o
maior êxito ao 17º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes que vocês
apontaram para ser realizado na Bielorússia em 2009, e saúda este que é o maior
evento juvenil anti-imperialista à escala mundial.
No ano que
agora se inicia colocam-se grandes perigos e ameaças aos trabalhadores e aos
povos do planeta, a exigir participação, intervenção e luta da juventude! Somos
daqueles que pensamos que, apesar desses perigos e ameaças, existem
possibilidades e potencialidades enormes para resistir e avançar na construção
de um mundo melhor.
Com confiança,
com aquela esperança que não fica à espera, que se alicerça em ideais, projecto
e luta! Êxitos camaradas!
Unidos
venceremos!
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