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O Comité Central do PCP, reunido hoje, tem
analisado e debatido aspectos fundamentais da situação
política nacional, as tarefas e intervenção do PCP, e
considera como aspectos mais relevantes e significativos na
evolução da situação política nacional nos últimos meses:
- o indiscutível alargamento na sociedade
portuguesa da consciência de que o PS prossegue, e em muitos
domínios agrava, as linhas essenciais da política de direita
antes imposta pelo PSD, frustra claramente as aspirações e
exigências de mudança de política que estiveram na base da sua
vitória eleitoral;
- a ampliação do descontentamento popular
com a política governamental e o significativo desenvolvimento
de um vasto movimento de protesto e de luta dos trabalhadores
e de outros sectores sociais em defesa dos seus interesses e
direitos e que têm sido factores determinantes da sensível
redução da base social de apoio ao Governo, das dificuldades e
conflitos dentro do próprio PS, e da desorientação e profundo
desgaste da imagem e credibilidade do seu Governo;
- a confirmação do PCP como a força de
real oposição à política do Governo e como o mais destacado
protagonista da luta por uma política democrática alternativa,
num quadro político em que são patentes as convergências entre
PS, PSD e PP nas questões mais decisivas no plano social,
económico e político.
Em vez da resposta aos problemas
o Governo recorre à propaganda
É de sublinhar que, a par de um estilo cada
vez mais arrogante e de patentes operações de
desresponsabilização, um dos principais traços
caracterizadores da atitude política do Governo e do PS é o da
propaganda e da publicidade enganosas, precisamente para
tentar iludir a opinião pública e fugir ao debate sério da sua
política e dos respectivos resultados.
Nesta linha de orientação táctica se inserem as regulares encenações de duelos
verbais com o PSD e o PP para esconder a natureza das políticas de direita que
o Governo prossegue, nomeadamente em relação à União Europeia, às privatizações
e aos direitos dos trabalhadores, e os acordos em torno dos orçamentos do Estado
e da revisão constitucional; a tentativa de responsabilizar a Assembleia da
República pela inacção do Governo ou a arrogante e estulta suspensão da concessão
de avales do Estado como represália contra a Assembleia da República, por esta
criticar e desnudar a ilegalidade do aval à UGT; a propaganda sobre o crescimento
económico, escamoteando a sua não sustentabilidade e visando criar a ilusão
de um oásis virtual, em que o crescimento se não reflecte na diminuição do desemprego
e na melhoria das condições de vida dos trabalhadores; a publicidade enganosa
sobre a aplicação das 40 horas e sobre o pretenso aumento do emprego na agricultura,
o persistente recurso à publicidade paga e enganosa para procurar criar uma
envolvente popular favorável à privatização de empresas e desfavorável a greves
e movimentos de luta popular; assim como a propaganda sobre uma hipotética
melhoria das prestações familiares para as camadas sociais de menores rendimentos,
omitindo voluntariamente os valores dessas prestações e catalogando na camada
média/alta da população uma família vivendo com dois salários mínimos. E do
mesmo modo a propaganda sobre a alegada, mas nunca concretizada, vontade e determinação
para avançar com a regionalização.
Resposta do PCP à demagogia do PS
sobre a regionalização
A respeito da regionalização,
considera-se que o comportamento do PS nesta matéria e,
designadamente, as suas sucessivas cedências ao PSD e ao PP,
legitimam a suspeita de que, no pensamento reservado dos
principais dirigentes do PS, a regionalização já foi metida na
gaveta. E que apenas procuram usar a regionalização como
bandeira de conveniência, nomeadamente até às autárquicas,
e encontrar a melhor forma de sacudir para outras forças
políticas as suas próprias responsabilidades pela
inviabilização nesta legislatura desta importante reforma
democrática.
Sobre esta questão entendemos oportuno
reafirmar duas ideias essenciais:
A primeira é a de que as previsíveis
dificuldades de concretização ou o provável congelamento da
regionalização decorrerão essencialmente do propósito do PS,
em aliança com o PSD e o PP, de inscrever na Constituição a
obrigatoriedade de sujeitar a concretização da regionalização
a dois referendos prévios, passíveis aliás de serem
invalidados por uma abstenção superior a 50%.
A segunda é que o único compromisso que, nesta matéria, o PCP assumiu
e assume perante o País, é o da criação e instituição em concreto das regiões
administrativas, pelas formas previstas nas normas constitucionais actualmente
em vigor. A definição de responsabilidades pela previsível inviabilização
da regionalização far-se-á no momento da votação da revisão constitucional e
não em qualquer outro momento ou situação posteriores.
Tarefas do Partido
No quadro das múltiplas tarefas e dos exigentes esforços que a
situação política nacional coloca ao Partido, às suas organizações e militantes,
é de destacar a particular importância, a par da tarefa prioritária
e decisiva da preparação das eleições autárquicas e da dinamização e intensificação
da luta de massas contra a política do Governo, a luta contra uma revisão constitucional
na base do acordo PS-PSD, da campanha contra a Moeda Única e pela realização
de um referendo nacional sobre este gravíssimo passo na integração europeia.
Defender a Constituição
No debate já realizado tem sido sublinhado
também a extraordinária importância de dar, a curto prazo, um novo
e vigoroso impulso à batalha política contra a perigosa
revisão constitucional ensejada pelo vergonhoso acordo celebrado
entre o PS e o PSD.
A vasta indignação e as fortes críticas que
a celebração deste acordo e o seu conteúdo fundamental
suscitaram em sectores democráticos muito diversos, incluindo no
seio do próprio PS, são um claro indicador de que, ao invés de
qualquer atitude resignada ou fatalista face à consumação
daquele acordo, existem pelo contrário condições muito
favoráveis para o desenvolvimento nos próximos meses,
designadamente em Junho e Julho, de um amplo e combativo
movimento de opinião e de luta em defesa da Constituição.
Com a justa convicção de que é imperioso - e é possível - fazer fracassar os
planos do PS e PSD para atentarem contra a democraticidade do sistema eleitoral
para a Assembleia da República e para as autarquias, contra a unidade do Estado,
contra os direitos dos trabalhadores e contra aspectos nucleares da Constituição
económica e social.
Moeda Única não, Referendo sim!
Queremos também reafirmar a nossa oposição a
uma revisão do Tratado de Maastricht que possa acentuar uma
União Europeia federal, comandada por um núcleo reduzido de
grandes países e conforme os interesses do capital
transnacional. Em particular, opomo-nos aos projectos que
pretendem institucionalizar esse núcleo, reduzir o número de
comissários, alterar a ponderação de votos no Conselho e
eliminar a rotatividade da presidência, legalizando a
existência de países de primeira e de segunda na União
Europeia. E será completamente inaceitável que essas
alterações possam, como alguns sugerem, vir a ser aprovadas por
troca com a garantia da nossa presença no primeiro pelotão da
Moeda Única.
Reclamamos uma alargada intervenção e debate sobre as posições que o Governo
tenciona adoptar na Cimeira de Amsterdão, marcada para 16 e 17 de Julho, em
que deverá ser aprovada a revisão do Tratado de Maastricht e o Pacto de Estabilidade,
chamamos a atenção para a importância e significado do Comício Internacional
promovido pelo PCP, a realizar em 24 de Maio, «Pelo emprego com direitos
e por uma Europa de progresso social, paz e cooperação», apelamos
à intensificação da sua campanha em curso contra a Moeda Única e pela realização
de um referendo nacional sobre essa matéria.
Com confiança,
a caminho das eleições autárquicas
Na actual conjuntura política é de salientar
o dinamismo e o clima de confiança com que, no âmbito das
organizações do Partido e das estruturas da CDU, estão a
desenvolver-se positivamente as tarefas de preparação das
eleições autárquicas do final do ano, como se testemunha
pelo avanço na apresentação de candidatos e elaboração de
listas e programas e pela realização em todo o País e com
larga participação, de centenas de actividades e iniciativas
públicas de informação, debate e esclarecimento.
E apelamos a uma activa e empenhada preparação, por parte das organizações
e militantes do Partido, da Jornada Nacional de Esclarecimento que a CDU vai
promover em todo o País, de 26 de Maio a 7 de Junho e que, com uma vasta
participação de eleitos no Poder Local e candidatos, deverá constituir uma marcante
acção de contacto directo com as populações.
Reforçar o PCP
para virar à esquerda
Apesar das consideráveis dificuldades causadas
por uma mediatização da vida política, que tende a valorizar o
que é mais superficial, mais espalhafatoso e efémero, apesar de
discriminações e preconceitos de que o PCP continua a ser alvo,
crescem os sinais na sociedade portuguesa de uma nova corrente
de opinião que não só reconhece o papel indispensável do PCP
e a importância da sua intervenção, mas que se aproxima dos
grandes valores e causas que, de forma absolutamente singular, o
PCP está protagonizando neste período da vida nacional.
O PCP tudo fará para honrar a confiança e
as esperanças do número crescente dos portugueses que
compreendem que é necessária uma viragem à esquerda no
política nacional, e que é um mais amplo e expressivo apoio ao
PCP que melhor pode favorecer essa viragem.
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