Há poucos dias, o Governo reconheceu que a crise internacional, afinal, afectava a robustez da nossa economia, quando andou meses a dizer o contrário. Mas o mais importante não é que o tenha reconhecido ao fim destes meses, o mais importante é que o Governo queira agora fazer pagar aos mesmos de sempre os custos da crise.
Até agora era o défice que obrigava a sacrifícios; agora é o défice e a crise que continuam a obrigar a sacrifícios. Quem está a pagar são os quase 2 milhões de portugueses abaixo do limiar da pobreza: pagaram ontem por causa do défice, pagam hoje e vão continuar a pagar por causa do défice e por causa da crise. Esta é que é a verdadeira política do Governo
Moção de censura n.º 3/X, ao XVII Governo Constitucional pelas políticas adoptadas em diversos sectores da vida portuguesa
Intervenção de Honório Novo na AR
Sr. Presidente,
Sr. Primeiro-Ministro,
Há poucos dias, o Governo reconheceu que a crise internacional, afinal, afectava a robustez da nossa economia, quando andou meses a dizer o contrário. Mas o mais importante não é que o tenha reconhecido ao fim destes meses, o mais importante é que o Governo queira agora fazer pagar aos mesmos de sempre os custos da crise.
Até agora era o défice que obrigava a sacrifícios; agora é o défice e a crise que continuam a obrigar a sacrifícios. Quem está a pagar são os quase 2 milhões de portugueses abaixo do limiar da pobreza: pagaram ontem por causa do défice, pagam hoje e vão continuar a pagar por causa do défice e por causa da crise. Esta é que é a verdadeira política do Governo.
Quem está a pagar são os trabalhadores e os pensionistas, que têm os mais baixos salários e pensões da zona euro. Pagaram ontem por causa do défice, pagam hoje por causa do défice e da crise. É isto que o Governo não quer mudar.
Quem não paga, Sr. Primeiro-Ministro, quem não pagou ontem nem vai pagar hoje são os ricos e poderosos, são os gestores que ganham milhões de euros por ano, a banca, as petrolíferas, os grandes grupos económicos com lucros imorais, enquanto o País e a maioria dos portugueses vivem cada vez pior.
Sr. Primeiro-Ministro, ao contrário do que se diz, os ricos e poderosos ganharam por causa do défice e vão continuar a ganhar por causa do défice e por causa da crise, porque o Governo assim quer e assim o permite.
A este propósito, Sr. Primeiro-Ministro, queria colocar-lhe uma questão sobre uma proposta de natureza fiscal que já circula nos Ministérios da Justiça e das Finanças, no Banco de Portugal e na CMVM sobre a criação de trusts em Portugal. Vai ou não o Governo permitir a criação de novos fundos de investimento para que os ricos e poderosos escondam património ganho em novos benefícios fiscais e impeçam a cobrança de dívidas, incluindo as fiscais e as da segurança social? É este o sinal que o Governo dá para os ricos e poderosos poderem pagar ainda menos, com a cobertura e o apoio deste Governo? É este o sinal que os senhores dão para a crise? É este o vosso conceito de justiça social, Sr. Primeiro-Ministro?
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