O
PCP considera extremamente grave a decisão ontem anunciada do
reconhecimento pelo Governo português da auto-proclamada
independência da província sérvia do Kosovo.
Decisão tão mais grave quando tomada num momento que
aconselharia uma postura de Portugal direccionada para o
desanuviamento dos sinais de tensão existentes na região
e nas vésperas da discussão e votação na
Assembleia Geral das Nações Unidas de uma resolução
sobre esta matéria.
Sobre
a decisão do governo português de reconhecimento da auto-proclamada
independência da província sérvia do Kosovo
Nota do Secretariado do CC do PCP
O
PCP considera extremamente grave a decisão ontem anunciada do
reconhecimento pelo Governo português da auto-proclamada
independência da província sérvia do Kosovo.
Decisão tão mais grave quando tomada num momento que
aconselharia uma postura de Portugal direccionada para o
desanuviamento dos sinais de tensão existentes na região
e nas vésperas da discussão e votação na
Assembleia Geral das Nações Unidas de uma resolução
sobre esta matéria.
Esta
decisão dá cobertura a um acto ilegal e a um gravíssimo
precedente internacional, viola os mais básicos princípios
do Direito Internacional e os princípios constantes da
Constituição da República Portuguesa relativos
às relações internacionais do Estado português,
nomeadamente os constantes do seu Artigo 7º sobre o respeito
pela soberania dos Estados.
O
governo português fica assim associado a mais um grave passo na
escalada de subversão do direito internacional e na ofensiva
imperialista contra a integridade territorial e a soberania dos
Estados, inserindo-se de forma ainda mais clara no bloco de governos
que sob a batuta dos Estados Unidos e da NATO prosseguem o processo
de desmembramento da Jugoslávia e da criação de
protectorados nos Balcãs que se assumam como fiéis
representantes dos seus interesses económicos, energéticos
e geoestratégicos e que simultaneamente se lançam numa
estratégia de crescente confrontação com a
Rússia de que os recentes acontecimentos no Cáucaso são
a face mais visível.
A
gravidade desta decisão é tanto maior quanto constitui
uma inaceitável e confessa abdicação de
soberania na definição das relações
internacionais de Portugal, justificada com uma vergonhosa
subserviência face aos EUA, à NATO e à União
Europeia e sustentada em argumentos irresponsáveis e
demonstrativos de um profundo desrespeito pelo Direito Internacional
- um edifício legal eminentemente político - a que o
governo português está obrigado por comando
constitucional e enquanto Estado membro da Organização
das Nações Unidas.
Ao
tentar justificar a sua decisão com o risco de isolamento
internacional de Portugal e com a "irreversibilidade" do
processo, o Governo oculta deliberadamente a posição da
esmagadora maioria dos Estados membros das Nações
Unidas de neutralidade ou de não reconhecimento da
auto-proclamada independência da província sérvia
do Kosovo, ignora explicitamente a posição da própria
ONU e faz tábua rasa da discussão que se trava nesta
organização sobre esta matéria. É esta
postura e não outra que isola Portugal da comunidade
internacional.
Reafirmando
a sua frontal oposição a esta decisão o PCP
responsabiliza o Governo português e os demais órgãos
de soberania e forças políticas que deram o seu acordo
a esta decisão pelos esperados reflexos na degradação
das relações de Portugal com a República da
Sérvia e por eventuais desenvolvimentos nos Balcãs,
nomeadamente o da acentuação da instabilidade com
desenvolvimentos imprevisíveis.
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