Partido Comunista Portugu�s
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"Desafios do alargamento"
Ilda Figueiredo no "Semanário"
Sexta, 11 Abril 2003
11 de Abril de 2003

Dois acontecimentos importantes merecem especial atenção dos portugueses, tendo em conta as repercussões que terão para o nosso país. Trata-se do alargamento da União Europeia a dez novos membros, cujo tratado de adesão será assinado no próximo dia 16 de Abril, e da divulgação das previsões económicas da Primavera, para 2003 e 2004, com as respectivas recomendações da Comissão.

Não temos objecções de princípio ao alargamento, no pressuposto do respeito integral pela soberania e vontade dos povos dos países candidatos. Mas não podemos aceitar que se ponham em causa os direitos e interesses de Portugal, pelo que sublinhamos dois aspectos negativos das negociações que o Conselho realizou: o tratamento discriminatório dos países candidatos, designadamente nas áreas financeira e agrícola, e as consequências negativas que o alargamento poderá ter para Portugal.

Este é o primeiro alargamento da União Europeia em que não há uma verdadeira revisão das perspectivas financeiras. Embora seja positivo que, após a pressão do Parlamento Europeu, o Conselho tenha aceite um reforço de cerca de 500 milhões de euros, esta verba é claramente insuficiente para caminhar no sentido da coesão económico-social.

Por outro lado, perspectiva-se, a médio prazo, a redução dos fundos estruturais e das ajudas agrícolas para Portugal, num cenário em que todos os estudos conhecidos afirmam que seremos o país que mais perde (e a Alemanha o que mais ganha), tendo em conta a nossa perificidade e a concorrência acrescida com países de mais baixos salários e trabalho mais qualificado, a que as recentes deslocalizações de multinacionais na têxtil, vestuário, calçado e material eléctrico não são alheias.

É lamentável que se faça um alargamento em condições que não asseguram a concretização da coesão económica e social, pelo que insistimos na revisão das perspectivas financeiras e na necessidade de assegurar, desde já, que após 2006 se continuará a dispor de fundos estruturais e de coesão, pelo menos nos actuais montantes. O que é particularmente importante dado sermos o único Estado-membro em recessão técnica e aquele que tem maior taxa de pobreza e o maior crescimento do desemprego. Igualmente insistimos num programa específico de compensação para o nosso tecido produtivo, que minimize os impactos sócio-económicos do alargamento, a exemplo do que ocorreu com os programas de apoio à Grécia aquando da entrada de Portugal e Espanha na CEE.

O nosso voto de abstenção na generalidade e de voto favorável no caso especial de Chipre, cuja luta apoiamos contra a ocupação ilegal e inadmissível de uma parte do seu território pela Turquia, foi ainda mais reforçado com as preocupações que se avolumam face às previsões e recomendações da Comissão Europeia.

As declarações dos Comissários Solbes-Mira e Anna Diamantopoulou sobre as orientações de política económica e social para a União Europeia para os próximos anos, com a insistência no cumprimento dos critérios do Pacto de Estabilidade e uma maior redução da despesa pública, confirmaram anteriores posições do Conselho, como os próprios fizeram questão de sublinhar, reafirmando que os governos dos Estados-membros assumem compromissos que, depois, nos seus países, não são capazes de pôr em prática. O que não deixa de ser uma crítica, seja a quem decide critérios de convergência que não cumpre (casos da Alemanha, França, e Itália que representam mais de 70% da economia da zona euro), seja a quem persiste em manter tais critérios apesar de já saber as suas graves consequências para o país, como Portugal, onde se prevê que o crescimento do PIB seja apenas metade da média da União Europeia.

São igualmente preocupantes as recomendações que dão cobertura e incentivam a política de direita do governo PSD/PP e vão contribuir para agravar a situação económica e social, ao pedir uma aceleração das "reformas estruturais, nomeadamente ao nível da administração pública, educação, saúde e segurança social" e ainda, moderação salarial. Caminho este que atenta contra os direitos sociais, o serviço público e põe em causa o poder de compra dos trabalhadores. É mais do mesmo.

Á questão sobre a necessidade de revisão do Pacto de Estabilidade para apostar decisivamente no investimento público, e assim criar emprego e diminuir a pobreza e a exclusão social, o Comissário Solbes insistiu no cumprimento do Pacto de Estabilidade com as actuais características. O que é inadmissível.

Uma outra política e outro modelo de desenvolvimento é possível e necessário, o que passa também por uma profunda alteração das orientações neoliberais.