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Emprego e Precariedade - José Ernesto Cartaxo, Comité Central
Sábado, 24 Novembro 2007
José Ernesto Cartaxo

Portugal enfrenta hoje um autêntico flagelo social ao nível do desemprego e da precariedade do emprego.

O desemprego continua a aumentar, atingindo os níveis mais elevados das últimas duas décadas, ultrapassando a média europeia e colocando o nosso país no quinto lugar, com maior taxa de desemprego.

Há emprego qualificado a ser destruído, voltando a crescer o emprego pouco qualificado. Desde que o Governo PS/Sócrates chegou ao poder, perderam-se mais de 167 mil empregos altamente qualificados.

A criação dos prometidos 150 mil postos de trabalho não passa de uma miragem.

A precariedade oficial atinge já 23% dos trabalhadores por conta de outrem, sendo de 54% entre os jovens. Prolifera o falso trabalho independente, com os chamados recibos verdes e o trabalho não declarado. Cresce o recurso ao trabalho temporário, não apenas nos serviços, mas também na indústria e na Administração Pública.

As consequências do desemprego e da precariedade são extremamente nefastas e fazem-se sentir aos vários níveis da sociedade.

Esta situação é o resultado da manutenção de um modelo produtivo que elegeu o custo da mão-de-obra como o seu principal factor competitivo. Um modelo que assenta na forte exploração da mão-de-obra, na precariedade, no emprego pouco qualificado e no ataque aos direitos individuais e colectivos dos trabalhadores

Um modelo que tem responsáveis: um patronato retrógrado e conservador e os sucessivos governos do PS, do PSD e do CDS-PP que, ao longo dos últimos 30 anos, têm praticado políticas de direita submissas ao grande capital.

Embora se afirmem muito preocupados com o desemprego, a realidade é que é nele que se suportam para aumentar a exploração e tentar domesticar os trabalhadores. Não é possível iludir a realidade do desemprego com os planos nacionais de emprego que têm vindo a ser implementados desde 1998.

A Estratégia Europeia para o Emprego teve resultados decepcionantes: a taxa de desemprego em Portugal é hoje mais alta do que em 1998, sendo também mais elevado o desemprego de longa duração e a precariedade; a situação dos jovens no desemprego piorou, bem como a das mulheres e dos trabalhadores com mais de 55 anos; a aprendizagem ao longo da vida continua a abranger poucos trabalhadores e o abandono escolar precoce mantém-se muito elevado.

Este quadro agravou-se a partir do momento em que surgiu a Estratégia de Lisboa, com o seu cortejo de liberalizações e privatizações e o relegar, na prática, para segundo plano o objectivo do pleno emprego. O que se tem assistido é à estagnação económica e à continuação da divergência em relação à média europeia.

Como se isso já não bastasse, querem agora impor-nos a "flexigurança" à portuguesa, ou seja, facilidade de despedir, maior precariedade, desregulação dos horários de trabalho, redução dos salários, aceleração da caducidade da contratação colectiva, dar mais poder ao patronato e limitar a acção dos sindicatos, através das anunciadas alterações legislativas ao Código do Trabalho.

É contra este estado de coisas que os trabalhadores têm vindo justamente a lutar e a aderir às lutas de forma crescente. Como exemplo disso aí estão as grandiosas manifestações de 2006 e 2007 e a greve geral de 30 de Maio último, convocadas pela CGTP-IN e apoiadas activamente pelo nosso partido, onde avultou, entre as várias reivindicações concretas, a exigência de mudança de rumo e de novas políticas.

Novas políticas que tenham o pleno emprego, como objectivo primeiro das políticas económicas e a melhoria da sua qualidade, com a promoção do emprego estável e com direitos, combatendo a precariedade e a instabilidade laborais.

Políticas de valorização do trabalho e dos trabalhadores:

Que assegurem vínculos de trabalho estáveis através do reforço da fiscalização e o combate ao uso abusivo e ilegal dos contratos a termo, do trabalho temporário e do falso trabalho independente com recibos verdes ou prestação de serviços;

Que melhorem significativamente os salários como contributo e condição indispensável para o desenvolvimento económico e uma melhor repartição do rendimento entre o trabalho e o capital;

Que assegurem e reforcem os direitos individuais e colectivos, incluindo os direitos sindicais, de contratação colectiva e de greve, o que passa pela exigência da revogação das normas gravosas do Código de Trabalho;

Que aumentem o grau de efectivação das normas de trabalho, através do reforço da intervenção da IGT e da acção coordenada dos vários serviços inspectivos;

Que tornem a justiça do trabalho mais célere e mais acessível, regularizando situações contratuais ao arrepio da legislação laboral;

Que apliquem os princípios da igualdade de tratamento no emprego e na profissão e combatam todas as formas de discriminação;

Que desenvolvam e efectivem os direitos de informação, de consulta e de participação dos trabalhadores e das suas organizações a todos os níveis.

É necessário, ainda, investir na qualificação da mão-de-obra, sendo prioritário, nomeadamente, a concretização do direito à formação contínua e o desenvolvimento da formação profissional em situações de reestruturação de empresas ou em actividades ou sectores deprimidos.

É por estas políticas alternativas, ao serviço do povo e do país, que temos a obrigação de continuar a lutar.

O êxito da Mega Manifestação do dia 18 de Outubro, que juntou mais de 200 mil trabalhadores, veio dar ânimo e confiança ao prosseguimento e intensificação da luta. Essa luta, nas empresas, nos sectores, nas regiões e a nível nacional, de forma cada vez mais coordenada e convergente, é condição fundamental para romper com as políticas de direita, seguidas até agora, e contribuir para a construção de uma verdadeira alternativa política, que dê suporte a uma nova política, que sirva os trabalhadores e o país.

VIVA A CONFERÊNCIA

VIVA O PCP

A LUTA CONTINUA