O PCP, a propósito do conflito militar
no Cáucaso e dos perigos para a paz e segurança internacional, considera o fim
das hostilidades elemento essencial para as negociações de paz, que devem ser
desenvolvidas no quadro da ONU à luz dos princípios do direito internacional,
do respeito pela soberania e integridade territorial dos Estados e da não
ingerência nos assuntos internos.
Sobre o conflito militar no Cáucaso
e os perigos para a paz e segurança internacional
Nota do Gabiente de Imprensa do PCP
O PCP lamenta profundamente a perda de
vidas humanas e a destruição provocada pelo conflito militar no Cáucaso. Apela
ao fim das hostilidades, elemento essencial para o início de negociações de paz
entre a Rússia e a Geórgia que, na opinião do PCP, devem ser desenvolvidas no
quadro da ONU à luz dos princípios do direito internacional, do respeito pela
soberania e integridade territorial dos Estados e da não ingerência nos
assuntos internos.
Os desenvolvimentos militares e
diplomáticos dos últimos dias confirmam que este conflito não pode ser
analisado unicamente à luz das questões territoriais e de soberania da Ossétia
do Sul e da Abcásia. Ele é sobretudo uma expressão concreta das actuais
tendências de evolução da situação internacional marcadas por uma nova corrida
aos armamentos, pela crescente militarização das relações internacionais e pela
profusão de situações de tensão e conflito militar protagonizadas pelos membros
da NATO e seus aliados com vista ao domínio geoestratégico de importantes zonas
do globo e ao controlo da exploração e transporte de riquezas naturais como o
gás e o petróleo.
Há muito que o PCP tem vindo a alertar
que o acentuar do carácter ofensivo
global da NATO e o seu alargamento até às fronteiras com a Rússia, a
crescente confrontação dos EUA e da NATO com a Rússia e China, a militarização
da União Europeia, a destruição de tratados fundamentais para o equilibro estratégico
mundial como o Tratado ABM com a instalação do sistema de defesa anti-míssil
norte-americano no leste europeu, as ameaças constantes a Estados soberanos
como o Irão, a manutenção de guerras ilegais e criminosas como no Iraque e
Afeganistão, assim como a injecção de armamento na Geórgia por parte dos EUA e
de Israel, são explosivos factores de instabilidade que de forma mais do que
evidente estão na raíz deste conflito.
Reafirmando a sua posição de princípio
contra violações da soberania e integridade territoriais dos Estados e de
prevalência da diplomacia na resolução dos conflitos, o PCP recorda simultaneamente que foi
a Geórgia - principal aliado dos EUA na região do Cáucaso, onde estão
estacionados importantes contingentes militares norte-americanos, e cujo
território, incluindo a Ossétia do Sul, tem um importante valor estratégico do
ponto de vista do controlo do oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan - que iniciou as
hostilidades militares atacando um território onde se encontravam, sob os
auspícios da OSCE e mandato da Comunidade de Estados Independentes, forças de
estabilização internacionais compostas por militares russos, ossetas e
georgianos. Uma manobra que em caso algum poderia ter sido decidida sem o
conhecimento prévio e o acordo dos EUA e que é elucidativa da política do
actual governo georgiano de subserviência aos EUA e à NATO, de crescente
militarização da região, de conflitualidade com a vizinha Rússia e de
instigação à conflitualidade étnica na região.
Este conflito militar e as declarações políticas
que o envolvem vem demonstrar - e serve de sério aviso - para os perigos que
decorrem da política de sistemático desrespeito do direito internacional e de
instrumentalização da ONU por parte das grandes potências imperialistas
mundiais. Estão demonstrados na prática os efeitos que os precedentes abertos
com a guerra de desmembramento da Jugoslávia e com a instigação e protecção
militar à secessão do Kosovo da Sérvia têm na actual situação internacional.
Perigos para os quais o PCP chamou a atenção em devido tempo e que vêm
confirmar a justeza da exigência do PCP de não reconhecimento pelo Governo
português, em qualquer circunstância, da pseudo-independência do Kosovo.
O PCP alerta para os perigos existentes
do alargamento deste conflito a toda a região da Eurásia e Médio Oriente e para
as consequências que um acentuar do braço de ferro entre NATO e Rússia, ou
qualquer provocação militar no Médio Oriente, podem ter para a segurança
mundial.
Reclama do governo português uma
posição de defesa da paz, da não ingerência e de saída de todas as tropas da
NATO da região do Cáucaso como passo essencial para o desanuviamento. Chama
ainda a atenção para que este conflito não possa vir a servir de pretexto para
acelerar ainda mais a militarização da região do Cáucaso, para a instalação de
forças militares dos EUA e da NATO em território georgiano ou para uma política
de ingerência política e económica e de controlo geoestratégico da região por
parte das principais potências da NATO.
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