A esquerda tem de ser firme
Speech - Gudrun Schyman - Presidente do Partido da
Esquerda da Suécia
Agradeço-vos profundamente o convite que me foi dirigido para participar neste
Comício e presenciar esta importante acção contra o desemprego crescente. Este
é um Comício de grande importância, e não apenas porque aqui se reúne a Esquerda
Europeia. Trata-se de um Comício importante porque demonstra publicamente que
existe uma luta colectiva contra o desemprego em toda a Europa. Podemos evidenciar
que os cidadãos Suecos e os cidadãos Portugueses enfrentam um problema comum
– e podemos também evidenciar publicamente que existe uma vontade colectiva
de mudança. Este movimento de Esquerda reúne-se aqui, não apenas para demonstrar
que há problemas comuns, mas também para demonstrar que os Partidos de esquerda
têm soluções comuns.
A ideologia hoje dominante afirma que há que manter os
salários baixos, que há que reduzir os direitos sociais. Afirma
que as empresas devem reforçar a sua influência e que os
sindicatos têm de ser enfraquecidos. Essa ideologia chama-se
neoliberalismo. Isto significa que cada pessoa tem que estar
entregue apenas a si mesma, e a mais ninguém, e que o Estado
não deve interferir nas suas vidas, nem na tomada de decisões
de natureza económica. Os custos sociais desta política estão
à vista no desemprego em massa, na miséria, na
toxicodependência e na criminalidade. Devemos prosseguir no
combate a esta ideologia. A esquerda tem de ser firme e
determinada na sua crítica, mas também criativa na
apresentação de alternativas.
Uma das questões mais importantes hoje é a UEM – a
União Económica e Monetária. Devemos deixar claro que a UEM
não é uma mera questão económica. É uma questão política.
É uma questão de democracia : quem vai decidir e sobre quê vai
decidir! Queremos ter o poder de mudar algumas das políticas
económicas através de eleições e da acção política, ou
pelo contrário queremos entregar todo o poder de decisão a um
Banco Central em Frankfort? Banco Central que será uma
instituição completamente fechada aos cidadãos, sem qualquer
controlo democrático e em cujos Estatutos figurarão as mais
brutais políticas capitalistas. Políticas geradoras de
desemprego. Camaradas, o desemprego em massa é o melhor amigo do
patronato!
O meu Partido diz NÃO à UEM! Queremos que sejam os povos a
decidir do seu futuro e a escolher os seus dirigentes políticos.
E defendemos que os povos devem decidir em referendo se querem ou
não aderir a esta União Económica e Monetária. Mas o
referendo tem de ser antecedido por uma campanha justa. E digo
justa, porque na Suécia perdemos um referendo por ligeira
margem, só 52% disseram sim à União Europeia . Mas agora as
sondagens revelam que 60% dos suecos se opõem à União
Europeia. Na Suécia, a campanha não foi séria, o movimento
pró-Europeu tinha muito mais recursos à sua disposição, teve
o apoio de toda a comunicação social e também usou de falsos
argumentos.
Hoje, a Suécia é o país da Europa mais crítico em
relação da União Europeia. E as mulheres são as mais
críticas! Muitas pessoas foram prejudicadas nas suas vidas pela
adesão à União Europeia e pelo desemprego criado pelas suas
políticas e os critérios de convergência da UEM. As mais
prejudicadas foram as mulheres. Os ataques e cortes no sector
público e no sistema de segurança social representaram duros
golpes, e para as mulheres esses golpes foram duplamente
sentidos.
Na Suécia, o sector público é o maior empregador de
mulheres. Cortes no sector público significam não só que as
mulheres perdem o seu emprego, mas também que perdem a
possibilidade de conjugar um emprego com a vida familiar, pois é
no sector público que existem creches e centros de apoio onde
deixar as crianças e as pessoas idosas. Isto não quer dizer que
na Suécia as mulheres não tenham de trabalhar a dobrar. Essa é
a realidade, na Suécia como em todo o mundo. Às mulheres do
Mundo cabem 75% das horas de trabalho, mas apenas 10% dos
rendimentos e 1% da propriedade. Todos nós, homens e mulheres,
devemos lutar, dentro e fora dos nossos Partidos, mudar isto.
Disse que os Partidos de esquerda têm de apresentar
alternativas às actuais políticas. Uma alternativa é a
redução do horário de trabalho. Na Suécia lutamos para
reduzir o horário de trabalho normal para seis horas diárias.
Temos de acabar com as horas extraordinárias – hoje as
pessoas trabalham muito mais do que 8 horas diárias, e muitas
dessas horas não são pagas, porque as pessoas têm medo de
perder os seus empregos. Temos de encontrar novas formas de criar
o pleno emprego. São precisos empregos no sector público e
empregos para a defesa do ambiente. A procura de soluções
ecologicamente sustentáveis para a produção e o consumo
também cria empregos. Há que exigir das grandes empresas, em
particular das multinacionais, que assumam as suas
responsabilidade financeiras e sociais para com os seus
trabalhadores. Criar um imposto mundial sobre a especulação.
Camaradas, temos de lutar contra o brutal sistema capitalista
que é dominado pela procura míope do poder e do lucro! O nosso
objectivo é o de alcançar o pleno emprego e uma sociedade
sustentável que garanta a todos uma vida digna.
Camaradas, temos de lutar em conjunto!
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