Há coincidências temporais que, sendo em si próprias desprovidas de significado, acabam a sugerir reflexões inquietantes. Sucede que, exactamente quando se concluiu o projecto de Constituição Europeia, a presidência da União irá ser exercida por um cavalheiro chamado Silvio Berlusconi. A personagem em questão não apenas está envolvida em múltiplas falcatruas e trapalhadas judiciais como, com total desvergonha, fez aprovar legislação que a coloca fora da alçada dos tribunais.

Que o eleitorado italiano tenha feito de semelhante figura primeiro-ministro é um problema italiano. Mas, a verdade é que, italiano ou não, o homem vai protagonizar a presidência italiana da UE.

Sucede que, como se sabe, o eleitorado português elegeu para presidir à nossa República o dr. Sampaio. Para além da diferença de funções, entre Sampaio e Berlusconi há um abismo político, cultural, ético e quero acreditar que os portugueses, incluindo os das mais variadas tendência, jamais elegeriam para seu presidente alguém com o perfil de Berlusconi. A questão é saber se, indo a tal Constituição Europeia pelo caminho que se prepara, dentro de alguns anos não veremos ultrapassado o Presidente português que escolhermos por um cavalheiro, sem dúvida europeu, mas eventualmente um mariola.