Eduardo Marques, Membro do Sector da Saúde da ORL do PCP
A situação sanitária do nosso país, após
a ditadura, caracterizava-se em Abril de 1974 por indicadores de saúde
típicos de países subdesenvolvidos tais como elevadíssimo
índice de mortalidade infantil, 53/1000, e baixa esperança
média de vida, 68 anos.
A política de saúde Salazarista, definida em 1963 pela
Lei 2120 – Estatuto da Saúde e Assistência –
caracterizava-se pela não intervenção do Estado.
Só o atestado de pobreza dava direito a cuidados de saúde
gratuitos.
Em 1971, o DL 413/71, criou 1300 postos dos Serviços Médico-Sociais
(Caixas), criou as carreiras médicas e esboçou o direito
à saúde.
Finalmente, depois da revolução de Abril, a Lei 56/79 criou
o SNS, com uma rede pública de prestação de cuidados
de saúde completos, gratuitos, abrangendo todos os cidadãos
e com financiamento pelo OE.
Na sua génese e na sua defesa intransigente esteve sempre, na
1ª linha, o PCP.
Passados 25 anos de actividade do SNS, que paradoxalmente cresceu e se
estruturou apesar de sistematicamente atacado e desacreditado, a taxa
de mortalidade infantil baixou para 5/1000, a esperança média
de vida cresceu para 76,2 anos e a OMS classifica o seu desempenho em
12º lugar a nível mundial, à frente dos EUA e da Grã-Bretanha.
Apesar destes resultados, e sem escamotear as inúmeras ineficiências
cuja correcção desde sempre reclamámos, teve agora
inicio a sua destruição pela fúria privatizadora
do Governo PSD/PP, iniciada pelo Governo do PS/Correia de Campos.
Foram 34 Hospitais Públicos transformados em 31 Sociedades Anónimas
e mais 25 foram já anunciadas. Nestes hospitais pratica-se já
uma selecção de doentes com recusa das patologias de tratamento
mais oneroso, havendo alguns por exemplo, “que já trataram
todos os doentes com cancro”, porque deixaram de os admitir. Mas
mesmo assim encontram-se numa situação económica
desastrosa que terá como consequência a sua privatização.
10 Hospitais vão ser construídos em regime de parceria
público-privado, o que significa ficarem sob gestão privada
entregue a grupos económicos.
Contrariamente à propaganda do Governo, estas privatizações
estão a criar uma situação económica insustentável
para o OE e, a curto prazo, também aqui será aplicado o
princípio do utilizador pagador.
Nos hospitais ainda públicos a gestão é incompetente
e ruinosa.
Nos cuidados primários são muitos milhares de cidadãos
sem médico de família, é frequente a luta das populações
contra o encerramento de extensões de saúde e a inacessibilidade
ás consultas empurra cada vez mais doentes para as superlotadas
urgências hospitalares.
A diminuição das comparticipações nos medicamentos
e o aumento das taxas moderadoras em 2003, vieram agravar ainda mais os
encargos directos dos cidadãos com a saúde, já os
mais elevados da Europa.
Esta sistemática e crescente desresponsabilização
do Estado pela saúde conduz-nos aos conceitos da década
de 60. É a “modernidade” da política da direita
contra os portugueses e alimentando os grandes grupos económicos.
O PCP defende o SNS prestador de cuidados de saúde completos e
integrados, acessíveis em tempo útil a todos os cidadãos,
nomeadamente aos cuidados continuados.
Para concretização deste objectivo o PCP defende um conjunto
de medidas políticas concretas:
- Nova gestão dos Serviços de Saúde, em regime publico,
democrática e participada pelo Poder Local no âmbito dos
Sistemas Locais de Saúde e com novas regras, técnicas e
de competência, para selecção dos órgãos
de gestão;
- O financiamento suficiente dos serviços de saúde, estimulando
o total aproveitamento da capacidade instalada;
- A completa separação entre o sector público e privado,
indispensável ao aumento da eficiência dos recursos públicos,
da sua qualidade e à sua acessibilidade;
- A racionalização dos gastos públicos com medicamentos
e a diminuição da despesa dos cidadãos, com dispensa
gratuita dos medicamentos nos estabelecimentos do SNS. Promoção
da utilização dos genéricos devidamente certificados;
- Adopção de um plano de admissões com fixação
de regras no Ensino Superior Público de acordo com as necessidades
do Pais e fim da actual política criminosa de restrição
nas admissões ás Escolas de Medicina e Enfermagem;
- A estabilidade de emprego e as carreiras nos Serviços de Saúde,
essenciais à qualidade dos serviços prestados e o consequente
fim dos contratos a termo certo e a abolição da legislação
para contratação individual;
- A anulação das medidas já adoptadas e contarias
ao direito à saúde, nomeadamente as taxas moderadoras, a
política de parcerias público-privadas, com anulação
dos concursos já efectuados, e o regresso dos Hospitais SA ao sector
público.
O PCP apoia todas as lutas e organização das populações
e dos trabalhadores de saúde na defesa desta política. Também
na AR temos apresentado propostas de Lei, algumas delas chumbadas pelo
PS. Continuamos na primeira linha de defesa do SNS, e, apesar de muitas
vezes partidariamente isolados porque não pactuamos com os grupos
económicos, não temos dúvida de que a nossa política
é justa e corresponde ao interesse dos portugueses.
Viva o 17º Congresso!
Viva o PCP!