Inicio
Intervenções e Artigos
Posições Políticas sobre IVG
PCP na AR sobre IVG
Tempos de Antena do PCP
Fotos da Campanha
Apelo do Comité Central do PCP
Questões Legais sobre Referendo
 Folheto IVG -2ª Fase
Folheto em PDF
Depoimentos em video



Início arrow Posições Políticas sobre IVG
"Quem tem medo?"
Bernardino Soares na "Capital"
Quarta, 19 Fevereiro 2003

Mesmo para os mais empedernidos defensores da entrega da gestão de hospitais do Serviço Nacional de Saúde a grupos económicos privados, e desde que mantenham uma dose mínima de seriedade intelectual, será certamente incompreensível que o governo se apreste para avançar com a entrega de dez novos hospitais a privados sem proceder a uma avaliação séria e pública dos resultados da experiência do Hospital Amadora/Sintra.

O Governo foge de uma avaliação transparente como o diabo da cruz, receoso de que um maior esclarecimento sobre esta experiência desvende que a entrega de mais hospitais à gestão privada prejudica o acesso à saúde pelas populações e aumenta os gastos do Estado.

Lembre-se que a matéria foi já alvo de relatórios de entidades oficiais, como a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e a Inspecção-Geral de Finanças, e que para além disso são conhecidas as queixas das populações servidas pelo Hospital em relação ao seu funcionamento.

Basta aliás considerar meia dúzia de questões hoje já conhecidas.

Por exemplo: o contrato foi assinado sem incluir o inventário dos equipamentos (no valor de milhares de contos) que o Estado cedia à Sociedade Gestora; havendo dois concorrentes privados à gestão do hospital, verificou-se que passados poucos meses o vencedor comprou o vencido, sem que o Ministério da Saúde estranhasse o caso; a Sociedade Gestora recebeu 750 mil contos referentes aos meses de Novembro e Dezembro de 1995, apesar de nesses meses o Hospital estar ainda a ser gerido pelo Estado; o Hospital utilizava clínicas de retaguarda sem licença; a Sociedade Gestora beneficiou de um critério de cálculo da anuidade a receber do Estado sem sustentação legal; a Inspecção Geral de Finanças concluiu terem sido pagos em excesso à sociedade gestora 75,6 milhões de euros (15,1 milhões de contos).

Por outro lado, em relação aos cuidados de saúde prestados, verifica-se que o número de reclamações em 2001 foi neste hospital superior em 92% às do Hospital de Santa Maria e em 50% às do Hospital Garcia da Orta. Constata-se que quando comparado com este último (que tem características semelhantes), o Hospital Amadora/Sintra recebeu do Estado, entre 1995 e 2000, mais 14 milhões de contos. Verifica-se que em 2001 existiam cerca de 6000 utentes em lista de espera para cirurgia, enquanto em várias especialidades se desenvolvia actividade de carácter privado.

Entretanto o actual Governo parece não querer retirar nenhuma consequência destes e de outros factos entretanto revelados, e mantém um silêncio comprometido que vai permitindo a continuação do negócio.

Porque é preciso defender o interesse público, tornou-se irrecusável a criação de uma comissão parlamentar de inquérito que analise toda a gestão do hospital Amadora/Sintra, desde a sua entrega ao Grupo Mello, aos desenvolvimentos mais recentes, que decorrem das últimas inspecções oficiais, passando pelo acompanhamento (ou a falta dele) da execução do contrato.

Esperemos que seja possível.

Afinal, quem tem medo da comissão de inquérito?

 

Jornal «Avante!»
«O Militante»
Edições «Avante!»
Comunic, a rádio do PCP na Internet