Artigo de Ruben de Carvalho no «Diário de Notícias»

«Imprevistos previsíveis?...»

Há meses troquei nestas páginas umas picardias com Luís Delgado, que anunciara na sua coluna que a reeleição de Bush estava garantida, «a não ser que se verificasse algum imprevisto».

Ora o homem lá continua na Casa Branca, para inquietação do mundo, mas, desta feita, com três milhões de votos de vantagem na eleição mais concorrida da História dos EUA. Coisas a requererem cuidada reflexão. Entretanto, Luís Delgado terá de admitir que aconteceu um imprevisto: seguramente não me vai dizer que estava perfeitamente à espera que Ussama Ben Laden viesse tão prestimosamente introduzir-se na campanha, em circunstâncias que o staff de Bush deve ter qualificado com um vibrante just in time... Contudo, até há mais imprevistos deste género na história eleitoral dos EUA.

Em 1981, a opinião pública norte-americana ressentia-se profundamente de um humilhante choque: em Teerão continuavam os reféns do assalto à Embaixada americana pelos seguidores do triunfante ayatollah Khomeini. O Presidente Carter foi acusado pelos republicanos de responsável pela situação, o que foi determinante para a derrota democrata nas presidenciais. Entretanto, é hoje facto adquirido que o Pentágono e a CIA conspiraram com o «inimigo» de Teerão para prolongar a crise, com o explícito fim de favorecerem o candidato republicano, Ronald Reagan. Seguir-se-ia o escândalo Irão-«contras».

Não explica tudo, claro. Mas.

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