Intervenção de Ana Cruz, 2.º Encontro Nacional do PCP sobre Cultura

Museus e Arqueologia

Boa tarde  

Camaradas, Amigos e Amigas  

A minha intervenção não espelha uma temática na área da Cultura, mas um conjunto de  preocupações que se têm refletido e salientado nos Encontros que temos realizado no Concelho  de Sesimbra.  

- Umas das grandes preocupações/lamentações prende-se com o facto de os artistas não  poderem viver exclusivamente do seu trabalho musical/cultural pela instabilidade e  precariedade do setor, obrigando-os a ter uma outra atividade regular e exercer a de artista em  regime “part-time”, desmotivando e desvalorizando todo o processo criativo;  

- O IVA taxado a 23% nos instrumentos musicais transformando-os em artigos de luxo quando  os mesmos são ferramentas de trabalho, não só é limitativo para os profissionais como muitas  vezes impossibilita o estudo da música em crianças, pela falta de capacidade financeira dos pais  para a aquisição de instrumentos;  

- Falar de bandas Filarmónicas no nosso país, faz parte do património identitário, contudo o  desinvestimento neste setor, o envelhecimento dos músicos e a falta de motivação dos jovens  na integração das mesmas é um problema de futuro, que poderá levar à extinção de algumas  dessas bandas.  

Já no que concerne aos Museus e Arqueologia deveremos:  

- Exigir que o Ministério da Cultura reabilite a Rede Portuguesa de Museus, para que esta possa  fiscalizar o correto funcionamento dos Museus Portugueses e promover as carreiras dos seus  profissionais;  

- Pugnar pela regulamentação da carreira de arqueólogo e respetiva tabela salarial, acabando  com a exploração dos jovens licenciados, explorados pelo grande capital, em muitos casos, com  salários iguais ou inferiores ao salário mínimo.  

Como já foi referido hoje a falta de investimento e estratégia da educação/cultura… nós  questionamos como poderia ser diferente, quando os sucessivos governos CDS/PSD e PS, nas  revisões Curriculares e em alguns casos nas Autonomias Curriculares das escolas reduzem  drasticamente a componente das Expressões, fechando as nossas crianças em sala de aula, em  muitos casos das 8h00 às 19h00, sem espaço para o desenvolvimento da criatividade e no  constante controlo das atividades pelos adultos, a brincadeira faz parte deste desenvolvimento  criativo e às nossas crianças esse processo é vedado e limitado.  

Aqui hoje também já se falou do preço elevado dos bilhetes para os espetáculos, mas permitam  me concordar discordando… o preço dos bilhetes deve cada vez mais valorizar e dignificar o  trabalho dos seus agentes, não são os preços dos bilhetes que estão errados, o que está errado  é o meu salário, é o salário da maior parte de nós, que é baixo, que continua baixo, que mal  permite o pagamento da água, da luz, da habitação e do supermercado, o nosso salário é que é 

baixo, o nosso salário é que nos impossibilita o acesso à Cultura, o nosso salário é que não chega  para pagar as contas, quanto mais ir a um espetáculo, o meu salário é que não permite que as  minhas 3 filhas possam estudar música, onde teria de pagar uma mensalidade e um instrumento  para cada uma delas. Não é o trabalho dos artistas que deve ser desvalorizado no preço dos  bilhetes, são os salários de todos os nós que deveriam ser suficientes para as despesas e para o  acesso à Cultura.  

E por fim referir que não basta só exigir o 1% para a Cultura, importa cada um de nós esclarecer  o outro, que quando o Orçamento de Estado define os valores para a Cultura, é feito em  consciência, não é necessário ser-se muito conhecedor para se concluir que quem governa não  quer que o povo tenha acesso à Cultura, e um povo sem Cultura, sem acesso à Cultura é um  povo empobrecido, formatado e muito mais fácil de manobrar.  

Viva o Partido Comunista Português!