(Extratos)
Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP
no comício de encerramento da campanha eleitoral da CDU
para as Eleições Legislativas de 2005 no Pavilhão Atlântico
Lisboa, 18 de Fevereiro 2005


Camaradas

A campanha que agora está a terminar dá-nos fundadas razões de confiança num resultado que pese e contribua para a mudança a sério pela qual nos batemos.

Confirmada que está, como desde o inicio temos insistido, a esperada e inevitável derrota do PSD e do CDS, em si mesma expressão da derrota das suas políticas, o voto na CDU é não apenas o voto mais certo contra a direita mas o voto mais seguro contra as políticas de direita.

Agora que essa derrota do PSD e CDS está praticamente assegurada e que esse objectivo primeiro está alcançado, é tempo de lembrar que a realização desse objectivo através da realização de eleições antecipadas não caiu do céu aos trambolhões nem foi oferecido tranquilamente numa bandeja.

É tempo de lembrar que se os portugueses vão tomar a palavra neste domingo, em vez de suportarem até 2006 este governo, é porque houve muitos portugueses e portuguesas, especialmente trabalhadores e trabalhadoras, que combateram uma política injusta e de retrocesso e criaram as condições para o isolamento, enfraquecimento e derrota do governo da direita.

É ainda tempo de lembrar que, se é verdade que para a crise dos governos da direita concorreram diversos factores e circunstâncias, para ela contribuiu muito a acção combativa do PCP e da CDU, as únicas forças que colocaram como objectivo político a interrupção da vida deste governo.

Mesmo que seja certo que os maiores benefícios eleitorais desta luta e deste corajoso combate sejam colhidos por outros que não os que mais lutaram, queremos aqui dizer com toda a clareza que estamos orgulhosos de termos cumprido o nosso dever, de termos estado na primeira linha de um combate que, no próximo domingo, culminará com o afastamento do PSD e do CDS do governo.

Mas é tempo também de lembrar que no domingo se pode criar uma oportunidade de ouro para conquistar mais que do que a derrota dos partidos da direita.

Que há uma oportunidade de ouro para os portugueses evitarem que, daqui a uns meses ou um ano, o alivio por se terem visto livres da direita no governo se transforme no desagrado, na frustração e no desencanto por afinal continuarem a sofrer os efeitos e as consequências, em aspectos essenciais, de políticas que tanto descontentamento causaram nos últimos três anos.

Que há uma oportunidade de ouro para dar um aviso sério a todos os planos de continuação de políticas destinadas a pedir mais sacrifícios e restrição de direitos dos trabalhadores e de agressão a direitos sociais — desde logo com a inadmissível intenção de aumentar a idade da reforma que, por muito que José Sócrates desconverse, está inscrita com todas as letras na página 68 do programa eleitoral do PS.

Que há uma oportunidade de ouro para, como é inadiável, favorecer uma corajosa rectificação dos atropelos e dos retrocessos sociais impostos pelos governos de Durão e Santana e avisar solenemente quem venha a governar que o que ontem era péssimo não pode passar a ser óptimo só porque o partido governante é outro.

Que há uma oportunidade de ouro para uma mudança a sério na política nacional, a mudança a sério que é reclamada pela gravidade da situação e dos problemas nacionais, a mudança a sério que é exigida pela intolerável acentuação de injustiças e desigualdades sociais, a mudança a sério que não pode ser garantida pelos que estão prisioneiros dos interesses dos poderosos.

Que essa oportunidade só pode ser garantida pelo reforço de uma força como a CDU que nem por um minuto perde contacto com os dramas, com os sofrimentos e dificuldades sentidos e vividos por grande parte dos portugueses. A única força que se bateu pela ideia de que os problemas de Portugal não se resolvem agravando os problemas da maioria do povo português.

Camaradas
Durante semanas, milhares de activistas da CDU não pouparam esforços para esclarecer e convencer os portugueses e portuguesas da oportunidade de, pelo seu voto, pelo seu apoio à CDU, abrirem caminho a uma viragem na vida política nacional.

Durante semanas procurámos demonstrar que a CDU é o voto útil e coerente para confirmar a derrota da direita.

Útil porque o voto na CDU é um voto que contribui sempre para derrotar os partidos da direita e para os colocar em minoria na Assembleia da República.

Coerente porque o voto na CDU é uma expressão de apoio aos que, com a sua luta, se opuseram à obra de destruição do governo PSD/CDS-PP e a quem nunca baixou os braços e se resignou à ideia de os ver governar até 2006.

Durante semanas, sublinhámos que é muito importante que, para além da merecida derrota do PSD, também o CDS receba nas urnas o devido castigo. Que é importante que Paulo Portas receba o devido castigo pela comprovada fraude das suas promessas de aproximação das reformas ao salário mínimo, das lágrimas de crocodilo que vertia sobre as dificuldades dos agricultores, da gritaria demagógica que fazia sobre o delicado problema da segurança das populações. É preciso que receba o devido castigo eleitoral a falta de vergonha de um líder que ainda agora a propósito dos acontecimentos na Cova da Moura logo veio proclamar que não devia de haver «aproveitamento político» do caso, esquecido que está do tempo em que horas a fio nos seus discursos, nos outdoors ou nos tempos de antena acrescentava medo ao medo e insegurança à insegurança.

Durante semanas procurámos evidenciar, derrotados que estão os partidos da direita, os perigos que resultariam de uma maioria absoluta do PS.
O perigo, para todos quantos aspiram a uma mudança efectiva e a sério do rumo da política nacional, de em nome da maioria absoluta, querem ficar com as mãos livres para prosseguir as mesmas políticas que, ano após ano, têm conduzido ao fracasso dos governos quer do PSD quer do PS.

Como insistentemente questionámos, e não obtivemos resposta, sobre as razões da obsessão dessa maioria absoluta fica e cresce a justa inquietação de que essa maioria não é pedida certamente para fazer uma política diferente ou para aprovar medidas positivas.


Porque, para isso, como insistentemente dissemos, o PS não precisaria dessa maioria, pois os votos dos deputados da CDU contariam e estariam sempre garantidos.

Semana após semana, procurámos esclarecer e demonstrar que domingo o que mais decide e o que mais conta é dar força a uma esquerda a sério.

Que o que mais conta e mais decide é dar mais força a uma esquerda que conta a sério para uma mudança de política, que dirá sempre presente para fazer aprovar medidas em defesa dos direitos de quem trabalha e de mais justiça social.

Que o que mais conta e mais decide é dar mais força a uma esquerda que dá garantias de marcar presença na luta contra todas as medidas e políticas negativas, que não desertará nem se acomodará perante as dificuldades. Uma esquerda combativa e presente para lá dos títulos dos jornais e das frases ditas para os telejornais.

Semana após semana sublinhámos que dar mais força à CDU é dar apoio a quem está ao seu lado para, ali e quando for necessário, erguer a voz contra as injustiças, defender os interesses de quem trabalha, lutar por mais direitos e melhores serviços público.

E para sublinhar que quanto mais força agora for dada à CDU mais força teremos para continuar a seu lado nas lutas que continuaremos a travar por um Portugal melhor.

Camaradas
Em vez de nos refugiarmos em incidentes estéreis, insinuações ou de conversa redonda sob o que alguns tentaram manter por desvendar as chamadas reformas menos populares ou os novos sacrifícios que se preparam de novo para impor, a campanha da CDU procurou trazer para o debate os problemas concretos que afligem os trabalhadores e o povo.


Não nos escondemos atrás de adjectivos para não revelar objectivos. Falámos verdade, levantámos bandeiras fizemos e temos propostas para uma mudança a sério.

Na campanha da CDU marcaram presença a defesa do aparelho produtivo nacional, da nossa agricultura, das pescas da pequenas e médias empresas, sem o qual não se pode falar em combate ao desemprego;
na campanha da CDU esteve presente a elevação das condições de vida de quem trabalha, o aumento dos salários e das reformas, uma mais justa distribuição da riqueza sem as quais não faz sentido a proclamação de metas ou objectivos de combate á pobreza;
na campanha da CDU andaram a par a imperiosa necessidade de crescimento económico e de criação de mais riqueza com o imperativo de ser assegurada uma mais justa repartição da riqueza.

Em vez da busca de polémicas artificiais para sob elas disfarçar coincidências ou semelhanças, procurámos evidenciar as consequências de anos sucessivos de políticas direita, que a razão funda da derrota dos últimos governos não foram as trapalhadas mas sim a sua política anti-social e de direita, que há responsáveis por 28 anos de políticas de direita, que está nas mãos de todos e cada um dos eleitores a possibilidade de com o seu voto contribuírem para uma viragem na vida política nacional.

Camaradas
Semana a semana sentimos uma corrente de apoio e de simpatia em redor da nossa campanha, das nossas propostas, do nosso projecto.

Podemos hoje dizer que sinceramente confiamos — pelas palavras que ouvimos de apoio, pelo reconhecimento que a seriedade posta na nossa intervenção, pelos testemunhos de incentivo — que essa simpatia que rodeou a nossa campanha se traduzirá em mais apoio à CDU, que essa simpatia é também uma expressão de esperança de muitos e muitos portugueses e portuguesas numa força e num projecto que pode pesar a sério para uma mudança na vida política nacional.

A todos os que em nós confiaram nas últimas eleições, queremos aqui deixar que amanhã como ontem saberemos honrar e respeitar os compromissos que viram pela nossa acção na Assembleia e fora dela em defesa dos seus interesses continuarão a depositar na CDU o seu apoio, a não faltar com o seu voto.

Aos muitos que haviam deixado de votar na CDU e no decorrer destes dias nos afirmaram terem encontrado na nossa campanha razões para vencer desânimos, de terem encontrado de novo razões de esperança em dias melhores, aqui lhes dizemos que com o seu voto podem contribuir para abrir caminho a uma vida mais digna.

Aos muitos que nos disseram que agora é com a CDU, que pela primeira vez darão o seu voto á CDU, movidos pela clareza das nossas propostas e pela coerência das nossas atitudes, daqui lhes queremos assegurar que, havendo uma primeira vez para tudo, neste caso essa primeira vez se traduzirá numa opção acertada e útil que encontrará em nós no futuro inteira correspondência. Útil para quem recebe o voto. Mas útil também para quem o dá.

Àqueles muitos, também, que engrossando esta corrente de simpatia e de sincero apoio que dia a dia sentimos, se mostravam hesitantes em traduzi-lo em votos pela ideia tantas vezes ouvida de “vocês não vão lá” daqui lhes dizemos, que sim, “vamos lá”, se cada um não deixar nas mãos de outros o que considera necessário e útil fazer, de que sim , de que com o seu apoio e o seu voto “vamos lá”, elegendo mais deputados, pesando mais na defesa dos interesses, direitos e aspirações de Portugal, dos trabalhadores e do povo.
uma CDU mais forte. Sentimo-lo a cada dia e a cada hora desta campanha. Mas é preciso lutar e trabalhar até ao fim.

O facto de todas as sondagens apresentarem uma clamorosa derrota da direita — o que é bom — e um PS à beira de uma maioria absoluta — o que não seria nada bom — pode levar alguns eleitores a pensar erradamente que os resultados estão feitos e não vale a pena ir votar.

Nada de mais errado. A todos os que nos escutam e a todos os que ainda podemos levar a nossa palavra, queremos dizer, a começar aos que aqui estão neste comício, que o bom resultado da CDU que sentimos possível ainda não está feito e que esse bom resultado só será alcançado se todos aqueles que se identificam com a CDU não faltarem com o seu voto no domingo.

Que esse bom resultado só será alcançado se todos os que confiam na CDU, que apoiam as suas propostas comparecerem massivamente nas assembleias de voto para votarem na CDU, para votarem na esquerda a sério para uma mudança a sério.

Gente como a nossa, não pode ser gente de ficar em casa, não pode ser gente de deixar os outros decidirem por si ou contra si, não pode ser gente que desiste, antes só pode ser gente que leva a luta até ao voto, gente que também nas eleições é coerente com os compromissos de luta que honrosamente têm marcado a sua vida.

A mais certa, segura e grande sondagem é aquela que nós construirmos no domingo, votando na CDU.

Camaradas
Estamos a poucas horas do fim da campanha. Mas temos ainda muito trabalho a fazer, muitos contactos para realizar, muitas conversas para convencer familiares, amigos ou vizinhos indecisos. Façamo-lo com a convicção e a determinação que marcou a nossa campanha. Façamo-lo com a convicção de quem sabe estar á beira de um resultado que pode pesar no futuro imediato, com a confiança de quem sente que a CDU se pode afirmar como a terceira força política nacional, com mais votos, mais expressão eleitoral, mais deputados.

Façamo-lo com a certeza de que por melhor que seja o resultado já ganhámos para além do próprio resultado.

Ganhámos na corrente de simpatia de milhares e milhares de portugueses que nos testemunharam o seu apoio, que viram na CDU uma força séria e preocupada com os seus problemas, que reconhecem o papel insubstituível da CDU para qualquer mudança a sério na vida política nacional.

Ganhámos porque milhares e milhares de trabalhadores, de quadros técnicos e intelectuais, de mulheres, de jovens de reformados, de cidadãos com deficiência, de agentes das forças de segurança, de micro, pequenos e médios empresários preocupados com o seu futuro viram na CDU um dos seus, uma força identificada com os seus interesses, sentindo e vivendo as suas preocupações, partilhando os seus sonhos a uma vida melhor e mais digna.

Ganhámos porque virada a página do dia 20 cá estaremos com mais força e mais apoio para na Assembleia da Republica e fora dela continuarmos onde sempre estivemos e estaremos : na luta por uma política de esquerda, por mais justiça social, por mais direitos, por um Portugal melhor.

Também aqui nesta batalha eleitoral confirmámos que dificuldade não significa impossibilidade. Com uma grande esperança e confiança dizemos: sim é possível!

Viva Portugal, viva a democracia, viva a CDU!