Intervenção de Dercy Oliveira, do Partido Ecologista «Os Verdes»
no Comício da CDU em Coimbra
Coimbra, 10 de Fevereiro de 2005

Boa noite a todos e a todas:

Gostaria em primeiro lugar de vos cumprimentar por não se terem acomodado e deixado ficar em casa, e por estarem aqui a apoiar a CDU e a contribuir para uma mudança política em Portugal.

Gostaria, hoje e aqui, de deixar ficar algumas ideias que nos façam reflectir sobre a importância destas eleições e da necessidade da participação de todos, não só no dia 20 de Fevereiro, mas também em todo este período de campanha eleitoral.

Importa pois recordar que foi mais ou menos à 3 anos, que o Eng.º António Guterres se demitia de Primeiro Ministro, no dia 16 de Dezembro de 2001. Na altura, o Governo PS saiu com um rótulo de incompetência e de uma gestão desastrosa do dinheiro público.
Na altura, foi o próprio que afirmou que saía para evitar o “pântano político”.
Mas ao que parece o tempo é milagroso e ao que parece já muitos esqueceram desse tempo que na memória já parece longínquo.
É quase como acreditar que daqui a 3 anos teremos um súbdito do actual Primeiro Ministro e todos os Portugueses irão esquecer da ruinosa e actual governação do PSD.
Importa pois lembrar que o Eng.º José Sócrates não foi um Ministro qualquer no Governo PS, foi Ministro Adjunto do Primeiro Ministro durante 4 anos e só depois Ministro do Ambiente e como tal, não podemos falar de estilos de governação diferentes, de pessoas diferentes, porque grande parte daquela que foi a governação do PS passou pelas mãos do Eng.º José Sócrates.

Hoje, fala-se que o país necessita de um choque tecnológico, na anterior campanha disse-se que o país necessitava de um choque fiscal, na outra anterior, onde foi eleito o Eng.º Guterres, a aposta era na educação que iria resolver tudo (...) promessas e mais promessas.

O que é de facto concreto e que importa analisar é a actual situação do país e o que a motiva.
Hoje apontam-se inúmeras causas para a situação económica do país, mas esquecem-se daquela que, provavelmente, é a principal, e que é, a destruição nas últimas duas décadas de todo o nosso tecido produtivo.

Os PS e o PSD, que se têm alternado na Governação, não se podem queixar de falta de dinheiro para levar a avante as suas políticas, basta somar todo o dinheiro que os Portugueses pagam de impostos e que não é pouco, todo o dinheiro que tem entrado desde 1986 em fundos da União Europeia e mais todo o dinheiro resultante de toda a venda de património público, para vermos, que o que falta não é dinheiro, mas sim, competência, coerência na gestão do dinheiro público e outras prioridades para o investimento.

A este respeito importa lembrar, que nos 6 anos de António Guterres se conseguiu privatizar mais, que nos 10 de Cavaco e Silva o que, diga-se de passagem, não é tarefa fácil.

Mas com tanto dinheiro que entrou como é que se construiu tão pouco para o futuro e se deixou destruir tanto e principalmente ao nível do tecido produtivo...

Agricultura – em 1982 importávamos 25% daquilo que consumíamos, hoje, importamos 75%;

Pescas – Deixamos desaparecer parte da nossa frota pesqueira em vez de a reforçarmos, numa actividade que faz parte da nossa história e cultura;

Floresta – Um dos nossos maiores recursos que continua a não ser valorizado, bastando olhar para as matas públicas e para as áreas protegidas para podermos constatar que a prioridade nunca passou por aqui;

Indústria – Investiu-se tanto nos têxteis e nem mesmo nesta área parece termos futuro;

Ambiente – Investiu-se em ETARs que hoje estão paradas ou funcionam mal (...) estamos com pior ambiente;

Território – Estimulou-se a concentração de pessoas e de investimento numa pequena faixa do litoral, promovendo-se um crescimento desiquilibrado do território;

Etc etc etc ...


Encontramo-nos num dos últimos Quadros Comunitários de Apoio e é caso para perguntar, como é que será, quando deixar de entrar dinheiro de Bruxelas? Quando deixar de haver património do Estado para vender? Quando já não tivermos agricultura, nem pescas, nem indústria?
Se calhar estaremos todos a trabalhar, nos campos de golfe, nas coutadas de caça, nas grandes superfícies, nos bancos, na construção civil, nas seguradoras.

É pois importante que paremos para reflectir e que façamos reflectir os outros que já estão cansados da política. É importante que as decisões governativas que têm pertencido só a alguns não se transformem em culpas de todos.

É importante chamar a atenção das pessoas, que durante um ano houve dinheiro para manter os nossos militares envolvidos numa guerra sem sentido, para adquirir helicópteros e submarinos, mas no final como o défice tinha sido ultrapassado teve-se de ir buscar o dinheiro ao Fundo de Pensões da Caixa Geral de Depósitos.
Podemos dizer que trocamos os delírios do Dr. Paulo Portas pelas reformas dos trabalhadores da Caixa Geral.

Uma palavra ainda para o Bloco de Esquerda e para a campanha que quer fazer querer que tem tantas possibilidades de eleger um deputado por Coimbra como a CDU.
Tal não é com toda a certeza ingénuo e só para se perceber como este cenário que nos querem vender não é verdadeiro, basta analisar a diferença de eleitos autárquicos em Coimbra:

A CDU tem cinco eleitos na Ass. Municipal o bloco não tem nenhum;
A CDU tem 4 Presidentes de Junta o bloco não tem nenhum;
A CDU tem 1 Vereador, o bloco não tem nenhum;
A CDU se tivesse a mesma votação que teve para as Assembleias Municipais em 2001 elegeria o Mário Nogueira o Bloco ficaria muito longe.

Dizer ainda que considero no mínimo estranho que no Programa Eleitoral do BE apenas dediquem um parágrafo às florestas (pag. 47) e um outro parágrafo à Agricultura (pag. 51) o que é manifestamente pouco num documento com 110 páginas.

Termino, dizendo que, provavelmente o Alexandre o Grande vencerá o Gladiador e que provavelmente será essa a música que ouviremos na noite do dia 20 de fevereiro.
Mas como não é só sobre música que se decide nestas eleições e é importante a relação de forças que daí resultará na Assembleia da República.
Dizer que a política para o país será uma se o PS tiver maioria absoluta, será provavelmente diferente para a Madeira ou para Ponte de Lima se o PS tiver apenas de negociar com um ou dois deputados e será verdadeiramente diferente se tiver que encontrar entendimentos à esquerda tal como aconteceu na Câmara de Lisboa.

É para este último cenário que temos de trabalhar e para isso, todos temos que dar o nosso melhor contributo durante estes próximos 8 dias, porque deles resultará uma política para 4 anos.

Mudar é preciso,

Viva a CDU!