Sr. Presidente,
    Srs. Deputados,
    Sr. Primeiro-Ministro,
    Srs. Membros do Governo:
 O essencial das preocupações e posições do PCP 
    quanto à presidência portuguesa foram expressas, neste debate, 
    na pergunta feita pelo meu camarada Agostinho Lopes e na intervenção 
    do meu camarada Honório Novo.
    A intervenção do Governo, como se esperava, pouco adiantou. 
    A presidência portuguesa da União Europeia foi apresentada ao 
    Plenário da Assembleia da República de Portugal depois de ter 
    sido apresentada aos outros países da União Europeia, às 
    instituições europeias e depois das várias conferências 
    de imprensa que a tiveram por objecto. Estava tudo dito, da parte do Governo, 
    quando aqui chegou.
    Os problemas que trouxemos a este debate foram essencialmente dois: primeiro, 
    o de saber qual a relevância que os interesses nacionais e a sua defesa 
    tiveram, e têm, no desenho que o Governo fez da presidência portuguesa; 
    segundo, o de saber se os objectivos traçados para a presidência 
    portuguesa, pelo Governo, configuram ou apontam para a necessária mudança 
    de rumo que, na nossa opinião, deve sofrer o processo de construção 
    europeia. A resposta que o Governo dá às duas questões 
    deixa-nos profundamente desiludidos.
    É preciso ser claro e pôr em evidência aquilo que resulta 
    do discurso governamental.
    Por um lado, não há qualquer questão ou tema dos considerados 
    prioritários pelo Governo que seja directamente ditado pelo interesse 
    nacional. O Governo assume que a escolha de temas e prioridades decorre da 
    lógica e das necessidades de afirmação europeia e nunca 
    da ponderação de interesses nacionais directos.
    Por outro lado, o rumo que o Governo aponta para a presidência portuguesa 
    é de uma mera continuidade de objectivos e o seu aprofundamento na 
    direcção da construção de uma espécie de 
    superpotência europeia vocacionada para as guerras da competição 
    global.
    Sinal claro e triste deste posicionamento do Governo é dado pela ausência 
    da expressão "justiça social", na fraseologia com 
    que enroupa a presidência portuguesa, e no papel apagado e secundário 
    que é atribuído às expressões "desenvolvimento 
    equilibrado" e "coesão económica e social".
A tese com que o Governo justifica as posições que assume para 
    a presidência portuguesa pode resumir-se na ideia de que, para si, a 
    defesa dos interesses portugueses assegurar-se-ia pelo aprofundamento da construção 
    europeia. Mais Europa seria, para o Governo, automaticamente, a resposta para 
    os problemas do País. Não é verdade! É evidente 
    e certo que, se na Europa se acentuassem as tendências nacionalistas 
    das grandes potências, tal traduzir-se-ia num grave prejuízo 
    para países como Portugal, como é evidente e certo que, se essas 
    tendências nacionalistas se convertessem num dirigismo institucional, 
    num directório, tal seria igualmente desastroso para Portugal.
    Mas não basta combater essas tendências e afirmar "mais 
    Europa" para defender os interesses de Portugal, é preciso que 
    se afirmem duas linhas essenciais de política na Europa para que isso 
    suceda. Primeiro, é preciso que a Europa redireccione as suas políticas, 
    erigindo em objectivos essenciais a coesão económica e social 
    e a justiça social.
Não se trata só de mais Europa, trata-se, sim, fundamentalmente, de melhor Europa, de um novo rumo para a Europa, que a torne no que ela não é hoje, ou seja, num coeso espaço social de progresso e paz.
Segundo, é preciso que a Europa assuma a diversidade dos interesses 
    nacionais que a compõem como uma mais-valia e que assuma o respeito 
    dessa diversidade como a via única para o processo de construção 
    europeia.
    É a ausência destas perspectivas políticas como perspectivas 
    determinantes e conformadoras que, na nossa opinião, condena a presidência 
    portuguesa aos olhos dos portugueses.
Portugal perde mais esta oportunidade. Perde-a quando se cinge à gestão da coisa europeia e esquece o interesse nacional, perde-a quando privilegia temas institucionais e subalterniza a coesão, perde-a quando prefere a lógica da supereuropa e subestima os valores humanos da justiça e da dignidade do trabalho.
Da parte do PCP, acompanharemos com atenção o desenvolvimento 
    das iniciativas que marcam a agenda da União Europeia, com a convicção 
    de que só haverá melhor Europa se os interesses dos países 
    que a compõem forem respeitados, designadamente os de Portugal, e quando 
    for uma Europa social, de justiça, progresso e desenvolvimento equilibrado 
    de todos os países que a compõem e, portanto, também 
    de Portugal.
    O que os portugueses e as portuguesas esperam de nós, PCP, é 
    precisamente que sejamos capazes de assumir estes objectivos como os grandes 
    objectivos de Portugal na construção europeia. Este é 
    o mandato que cumpriremos.