RESOLUÇÃO
do Encontro Nacional do PCP
sobre a acção e organização do partido
nas empresas e locais de trabalho
19 e 20 de Outubro de 2002

“Sim, é possível! Um PCP mais forte. Sempre com os trabalhadores.”


Introdução

A decisão, o debate preparatório e a realização do Encontro Nacional do Partido sobre o reforço da intervenção e organização do Partido junto dos trabalhadores constituem um avanço na concretização de uma linha de orientação estratégica aprovada no XV e XVI Congressos, na Conferência Nacional e reafirmada pelo Comité Central. A necessidade de aprofundar conhecimentos e a importância do reforço da intervenção e organização do PCP decorre do carácter decisivo e papel nuclear de que se reveste para o Partido a sua base militante e orgânica de trabalhadores. Nessa base se alicerça a sua natureza e identidade de classe, a sua estratégia política e política de alianças, a sua influência na sociedade portuguesa e o seu futuro, o seu papel insubstituível no desenvolvimento das organizações dos trabalhadores e na luta de massas. Valorizando o trabalho e a acção do Partido junto de outras classes e camadas sociais e estimulando a sua luta, o Encontro Nacional sublinha que a intervenção e organização partidárias no seio da classe operária e de todos os trabalhadores desempenham um papel nuclear na força política e ideológica do PCP.


I
Recrudescimento da ofensiva capitalista

A luta dos trabalhadores e das suas organizações de classe enfrentam há vários anos no plano nacional e internacional uma poderosa ofensiva do capitalismo, visando uma reestruturação global das condições de exploração da força de trabalho assente na nova correlação de forças favorável ao capital, resultantes do desaparecimento do campo socialista.

A nova organização das relações de trabalho, com traços comuns a todos os países capitalistas, tem como pressuposto a necessidade de cercear e liquidar direitos e conquistas sociais, económicas e políticas dos trabalhadores e desarticular e mesmo liquidar a sua capacidade de resistência organizada.

O desenvolvimento do capitalismo contemporâneo acentuando a sua natureza imperialista com o processo de globalização capitalista e a correlativa criação de mecanismos e órgãos internacionais de regulação dos processos económicos e de divisão internacional do trabalho, ao serviço dos grandes grupos económicos e financeiros mundiais, não só confirmam a natureza exploradora do capitalismo, hoje alargada praticamente a todas as esferas da vida e assumindo aspectos refinados, como confirma o agudizar da luta de classes e o papel determinante da classe operária e dos trabalhadores na resistência à ofensiva mundial do grande capital visando criar um mercado do trabalho mundial tendo como características fundamentais a desregulamentação generalizada das relações laborais, a intensificação da exploração, a liquidação de conquistas históricas dos trabalhadores.

Entretanto, a luta de classe própria, autónoma, dos trabalhadores, não contraria, antes é condição, para atrair outras camadas sociais a um combate comum e dar solidez e rasgar perspectivas transformadoras às frentes sociais da luta.

Do mesmo modo, a experiência histórica demonstra e confirma igualmente a ligação dialéctica entre o nível e a capacidade de luta dos trabalhadores e das frentes sociais e a influência política, ideológica e capacidade organizativa das forças revolucionárias.

Num quadro em que se avolumam as ameaças à garantia dos direitos e conquistas democráticas dos trabalhadores, num quadro em que se agudizam as condições de luta e se tenta destruir e descaracterizar a natureza e a autonomia das organizações de classe dos trabalhadores, a realidade torna incontornável como uma imperiosa necessidade a existência e reforço do partido político da classe operária e de todos os trabalhadores, um partido revolucionário, o Partido Comunista Português.


II
Situação actual, luta e proposta do Partido

Com a formação e entrada em actividade do Governo PSD/CDS-PP acentuou-se uma nova e perigosa escalada da política de direita.

A ofensiva contra a legislação laboral inserida e articulada com o anúncio da escalada de privatizações, de empresas de serviços e competências públicos, contra o Serviço Nacional de Saúde e o Sistema Público de Segurança Social, com o ensaio e preparação da ofensiva ao sistema político e às leis eleitorais, a forma como se secundariza o ensino, a educação e a formação, se desvaloriza a cultura, o trabalho intelectual e a investigação científica e se capitula perante os ditames da União Europeia subordinada aos interesses do grande capital e prossegue uma política externa de total subserviência perante o imperialismo norte-americano, levanta fundadas e graves preocupações quanto ao desenvolvimento do País e ao futuro do regime democrático constitucional nas suas vertentes política, económica, social, cultural e de soberania nacional.

Exacerbando o estado das contas públicas deixadas pelo governo PS, o executivo PSD/CDS-PP o que propõe agora ao país é fazer pagar, em primeiro lugar aos trabalhadores e a outras camadas sociais a factura de uma política que inevitavelmente haveria de conduzir a estes mesmos resultados, deixando praticamente intocáveis interesses, privilégios e lucros do grande capital financeiro; interesses, privilégios e lucros que poderão vir a ser acrescidos pelas privatizações, pela descaracterização, entrega parcial e privatização do sistema de Segurança Social. Está aberto o caminho para que as dificuldades económicas e a possibilidade de uma recessão económica sejam facturadas à maioria da população que menos tem e menos pode e realizada a favor de uma minoria cada vez mais rica.

O Governo do PSD/CDS-PP, após ter dado prioridade ao assalto ao sistema público e universal de Segurança Social e ao Serviço Nacional de Saúde, desencadeou a mais retrógrada e brutal ofensiva contra o edifício jurídico-laboral visando eliminar, restringir ou desregulamentar direitos individuais e colectivos, que tendo como referência histórica a sua conquista e consagração com a vitória da Revolução de Abril e aprovação da Constituição da República de 1976, são também resultado e memória da luta de várias gerações de trabalhadores.

Pela via de um denominado “Código do Trabalho”, reconhecido pelo Governo como “preparado por empresários e advogados”, a que acrescentou avulsa e prioritariamente, as reivindicações das multinacionais e confederações patronais relativas à flexibilização, ao alongamento e banalização da jornada de trabalho, o Governo pretende assim entregar o poder discricionário da sua gestão e organização ao patronato. O que está realmente em causa é um pacote laboral mais grave e estruturante que outros anteriores, porque este articula o ataque aos direitos individuais dos trabalhadores com o condicionamento, a ineficácia e a eliminação de direitos colectivos que constituem instrumentos decisivos na defesa e para a conquista de direitos individuais.

A doutrina ali exposta procura retomar conceitos dos primórdios do capitalismo. O conteúdo e objectivos repressivos e regressivos do Governo do PSD/CDS-PP vertidos no pacote laboral conflituam com os fundamentos do regime democrático-constitucional no seu pilar social, visam alterar a relação de forças nas empresas e locais de trabalho e aumentar a exploração dos trabalhadores.

Ao franquear a porta aos despedimentos sem justa causa e ao impedir a reintegração do trabalhador mesmo contra a decisão favorável dos tribunais; ao alargar e eternizar a precariedade pela via dos contratos a prazo e o período experimental; ao transformar a entidade patronal em juiz em causa própria na gestão e organização do tempo de trabalho; ao promover o tempo parcial e o salário parcial; ao tentar impor a “deslocalização” forçada de trabalhadores tanto no plano funcional como geográfico; ao redefinir, em termos gravosos, o conceito de remuneração e de trabalho nocturno; ao propor a liquidação efectiva do direito de negociação e dos contratos colectivos; ao restringir o direito à greve e o próprio direito à luta reivindicativa aquando da negociação das convenções colectivas; ao mutilar, por um lado, o crédito de horas das Comissões de Trabalhadores e, por outro, ao forçá-las à concorrência com o movimento sindical; ao apagar referências e importantes direitos dos trabalhadores no domínio da protecção da maternidade/paternidade, o Governo PSD/CDS-PP revela estar empenhado num projecto de grande fôlego cuja natureza e objectivos coloca a agudização da luta de classes no primeiro plano da ordem do dia.

Como procurador dos interesses do grande capital o Governo não descura os poderes e os meios que lhe são conferidos a nível de Estado para o colocar ao serviço dos poderosos, desresponsabilizá-lo das suas obrigações sociais e transformá-lo num ariete contra os trabalhadores da Administração Pública.

Contornando e silenciando as questões centrais que hoje se colocam, designadamente a necessidade de modernização, descentralização e democratização da Administração e da Justiça e de um forte investimento na educação e na formação, o Governo escolhe os salários, a segurança no emprego e os direitos dos trabalhadores da Administração Central e Local como alvos preferenciais da sua ofensiva política.

Porém, o Governo do PSD/CDS-PP apresenta todo este projecto de forma mistificatória. Sob a capa da necessidade do aumento da produtividade e de modernização o Governo esconde e secundariza os factores determinantes que podem ser cruciais para o desenvolvimento económico, persistindo no caminho de classe dos interesses do capitalismo, designadamente: uma política de baixos salários, a baixa qualificação e a fraca formação profissional nas empresas, a precariedade que também é uma causa do elevadíssimo grau de sinistralidade e das doenças profissionais e falta de condições de higiene e segurança nos locais de trabalho, a cumplicidade com a falta de efectivação dos direitos, as deficiências organizacionais e de gestão das empresas, a manutenção de processos produtivos ultrapassados que não favorecem a inovação tecnológica, a orientação especulativa de muitos investimentos em detrimento das actividades produtivas.

Num quadro em que a ofensiva é mais forte e os perigos mais visíveis não pode ser subestimado o facto de se estar perante um processo que se prolonga e desenvolve há mais de uma década. Como também não pode ser ignorada nem desvalorizada a luta do Partido, do movimento sindical e dos trabalhadores que, neste período, susteve, desarticulou e, nalguns casos, derrotou alguns dos objectivos das políticas de direita de sucessivos governos.

É adquirida e extremamente valiosa a tese que a luta de massas potencia e influencia a acção e a iniciativa institucionais e que estas animam, alertam e potenciam a luta de massas, numa relação dialéctica que é necessário manter, melhorar e desenvolver. Mais uma vez será a luta de massas, onde tem um lugar central a luta dos trabalhadores, o factor determinante para dar resposta a esta ofensiva social e laboral de grande envergadura.

Com fundadas expectativas de que os trabalhadores, as comissões de trabalhadores, o movimento sindical unitário saberão estar ao nível da ofensiva com que são confrontados, promovendo o esclarecimento, a mobilização e a unidade na acção e na luta, o PCP, pela sua natureza e projecto, pela força e capacidade de intervenção que recebe da sua ligação à classe operária e a todos os trabalhadores, desempenha um importante e insubstituível papel nesta decisiva batalha.

O Encontro Nacional do PCP dirige-se a todo o Partido, aos militantes, às células de empresa, aos sectores profissionais, às comissões concelhias e de freguesia, aos eleitos do PCP nas instituições, para que assumam este combate como uma batalha decisiva que para além de ser uma grande causa social é também uma grande causa democrática.

O Encontro Nacional do PCP manifesta ao movimento sindical, ao movimento das Comissões de Trabalhadores e a todos os trabalhadores portugueses a sua determinada convicção e total disponibilidade de acção e intervenção para travar e vencer os perigos que decorrem do projecto e dos objectivos deste Governo, inteiramente identificado com os interesses do grande capital.

O Encontro Nacional do PCP alerta, convoca e toma uma opção solidária com todos os jovens trabalhadores e mulheres trabalhadoras que foram escolhidos como alvos preferenciais pelo Governo do PSD/CDS-PP desta ofensiva legislativa, onde se procura extorquir-lhes todo um legado de direitos e conquistas geracionais e instituir as desigualdades na família, no trabalho e na vida social.

O Encontro Nacional do PCP apela para a necessidade de desenvolvimento de uma forte acção em defesa do sistema público de segurança social que contrarie os objectivos estratégicos do Governo de proceder à progressiva destruição da universalidade do direito à protecção social de todos os portugueses.

O PCP, afirmando o seu projecto próprio, manifesta o seu empenho no desenvolvimento de uma vasta acção, que, detendo e conduzindo à derrota esta ofensiva, impeça este retrocesso histórico do direito do trabalho e alicerce as condições para uma política de esquerda que integre a valorização do trabalho e dos trabalhadores como objectivo central e principal suporte de um projecto de desenvolvimento do País.

Neste quadro de resistência e luta reafirma-se, na linha do Programa e projecto do Partido, a necessidade de desenvolver a acção, intervenção, iniciativa e proposta do PCP, em defesa:
· do direito ao trabalho, ao salário, à segurança e estabilidade no emprego;
· da segurança social pública, universal e solidária;
· da redução do horário de trabalho sem perda de direitos e do salário;
· da dignificação do trabalho e da profissão;
· da efectivação dos direitos nas empresas e locais de trabalho, dando combate às discriminações e à repressão;
· das condições de trabalho, saúde, higiene e segurança nos locais de trabalho, denunciando e combatendo a sinistralidade do trabalho e classificando novas doenças profissionais emergentes;
· da concretização do direito à igualdade das novas gerações de trabalhadores, designadamente no acesso ao emprego, nos salários e em função da maternidade e paternidade;
· da solidariedade de classe entre todos os trabalhadores, designadamente a compreensão dos interesses comuns com os imigrantes, a solidariedade geracional e entre os trabalhadores e outras camadas sociais desfavorecidas;
· da luta contra a concentração da riqueza produzida e a crescente desigualdade na sua distribuição;
· da promoção do investimento produtivo e inovador e do desenvolvimento das empresas e serviços públicos ao encontro da satisfação das necessidades da população e da valorização social do trabalho.


III
Realidade social, consciência e natureza de classe

A realidade social, cuja análise é fundamental para o conhecimento das condições em que actuamos e para o aumento da eficácia da acção partidária, têm sido objecto das mais diversas manipulações procurando veicular preconceitos e falsas conclusões ao serviço dos objectivos do capital, para desarmar política e ideologicamente a luta dos trabalhadores e a acção dos comunistas.

A realidade social portuguesa tem conhecido alterações significativas nas últimas décadas, num processo de modificações que tendo este ou aquele momento mais significativo é um processo permanente.

Na repartição dos sectores há uma clara diminuição do sector primário com uma redução muito grande do assalariamento agrícola e do campesinato. O emprego no sector secundário cresce (representava 1,5 milhões de trabalhadores em 1991 e representa 1,7 milhões em 2001) embora com diferenciações internas com a subida do emprego no sector da construção e obras públicas e descida na indústrias extractiva e transformadora. O emprego no sector de serviços que era já maioritário em 1970, aumentou significativamente e em 2001 representava 53% do emprego total, reflectindo realidades muito diferenciadas em que se destacam: a Administração Pública, representando em 1999 mais de 700 000 trabalhadores assalariados (um quinto do total); o comércio, onde o emprego atinge (incluindo actividades de reparação) 720 000 pessoas (face a 600 000 no início da década de 90), com uma tendência para a concentração económica através da constituição de grandes superfícies; as actividades ligadas à restauração e ao turismo que têm crescido, envolvendo 250 000 trabalhadores em 2001 e o sector financeiro com menos de 90 000 trabalhadores e que tem sido sujeito a grandes reestruturações. Na avaliação destes sectores há que ter em consideração a existência de muitas empresas “prestadoras de serviços” cuja mão-de-obra pertence de facto, em vários casos, ao sector secundário (designadamente as alugadoras de mão de obra). Um outro elemento a levar em conta é que os trabalhadores de serviços que não exercem funções de direcção ou enquadramento que se podem integrar na classe operária ou cujo estatuto e condições de trabalho se aproximam dos desta classe, têm um peso determinante no sector terciário.

Os assalariados (ou trabalhadores por conta de outrém) constituem a principal categoria na estrutura social portuguesa, sendo mais de 3,6 milhões. Os assalariados representam 73% do total do emprego e viram o seu peso reforçado nos últimos anos (era 71% em 1998). Há no entanto mudanças na composição dos trabalhadores assalariados: maior peso dos trabalhadores de serviços, aumento do número de trabalhadores na indústria (incluindo a construção civil) mas menor que nos serviços, forte redução dos trabalhadores agrícolas; um maior nível de habilitações dos jovens que ingressam no trabalho, mas com desajustamentos crescentes entre as habilitações e o nível de qualificação e a natureza das profissões exercidas; um forte aumento da presença da mulher no trabalho (a taxa de actividade feminina passou de 34% em 1974 para os 45,6% de hoje); a transformação de Portugal em país de imigração (o número de estrangeiros com residência legalizada passou, entre 1970 e 2002, de 23 mil para 346 mil), tendência que se acentua nos últimos anos com a vinda de trabalhadores do Leste da Europa.

Há ainda a salientar, entre outros aspectos, que no plano da organização da produção e mesmo dos serviços se revela uma tendência para a fragmentação, para a externalização da produção e serviços e para a diferenciação de actividades estratégicas e outras actividades das empresas, o que conduz a alterações importantes, nomeadamente à diminuição do número de trabalhadores por empresa. Mas, não acabaram as grandes concentrações de trabalhadores na indústria e nos serviços que, não sendo predominantes, como aliás nunca o foram, continuam a ter uma enorme importância como pólos principais de organização e irradiação de intervenção e influência.

A organização e intervenção política junto dos trabalhadores e nas empresas e locais de trabalho defrontam novas dificuldades.

As profundas alterações da economia e o desenvolvimento do capitalismo e dos meios de produção resultantes das novas tecnologias, da mudança dos processos produtivos e deslocalização de empresas a nível nacional, europeu e mundial, a reconversão e reestruturação de sectores e de empresas e as consequentes alterações quantitativas e qualitativas na composição da classe operária e da massa de assalariados, a fragmentação e mobilidade profissionais, os despedimentos em massa e o afastamento compulsivo de milhares de trabalhadores com vínculo contratual efectivo, a precariedade, a mobilidade profissional, o crescente número de trabalhadores imigrantes que são sujeitos a uma feroz exploração, surgem como a primeira causa objectiva. A base social do movimento operário torna-se assim mais frágil, instável e movediça, com reduções drásticas em alguns sectores que têm sido esteios fortemente combativos e de grande consciência de classe.

Para além das alterações no aparelho produtivo e nas relações de trabalho, outros factores contribuem também para dificultar a construção de uma consciência de classe autónoma dos trabalhadores e da classe operária: a evolução e as características de que se revestem os processos de concentração urbana, nos quais se diluem a memória, o próprio imaginário colectivo e os modos de viver dos sectores populares e operários; a evolução dos padrões de consumo; o endividamento cujos encargos condicionam a participação e a luta; uma escolarização mais longa dos jovens, e, portanto, a sua entrada mais tardia no mercado de trabalho; uma cultura mediática de massas desprovida de referências à realidade social e de raíz popular; a fortíssima pressão da ideologia dominante visando a desconstrução dos valores do trabalho, da identidade e da solidariedade combativa dos trabalhadores e da classe operária.

Uma segunda causa directa das dificuldades com que se defronta a organização e intervenção política do Partido junto dos trabalhadores e nas empresas e locais de trabalho é a repressão directa ou sofisticada do grande patronato, facilitada pelos vínculos precários, que conta sempre com a cobertura dos governos e das instituições com poderes de fiscalização e de intervenção que estão sob o seu domínio.

Através da desregulamentação das leis laborais e da contratação colectiva, promovendo a individualização das relações de trabalho, nomeadamente dos salários, flexibilizando, prolongando e banalizando a jornada de trabalho, criando mecanismos de concorrência entre os trabalhadores, intensificando processos do seu envolvimento político e ideológico enquanto se pressiona e ameaça os militantes políticos e sindicais mais conscientes e combativos, o capital, em cada empresa e local de trabalho, procura neutralizar a força política organizada dos trabalhadores.

Na aurora do novo milénio, como consequência da revolução tecnológica, dos novos processos produtivos e da reestruturação capitalista, vivemos num tempo de profundas recomposições, com inevitáveis reflexos nos mais diversos estratos sociais e essas alterações objectivas da situação económica e social afectam a consciência de classe e agudizam a luta ideológica.

Ao objectivo de abolição de uma sociedade de classes contrapõem alguns, empregando todos os recursos de difusão que possuem (escola, comunicação social, etc.), as teses de colapso da luta de classes face à globalização capitalista, do fim das ideologias e da classe operária e a descrença numa melhor e mais justa organização da sociedade.

Mas, se atentarmos nos indicadores socioprofissionais portugueses das estatísticas oficiais de referência, caso INE (valores mais rigorosos serão possíveis a partir do conhecimento dos dados do Censo 2001), a realidade é bem diversa, mesmo tendo em conta a destruição do tecido produtivo nacional, o número de falências e a deslocalização de empresas.

Tomando em consideração a evolução do emprego por profissão entre 1992 e 2001, observamos que é notória a subida quantitativa e percentual na população activa do conjunto das categorias profissionais: operários, artífices e trabalhadores similares, operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem e trabalhadores não qualificados.

Se agruparmos estas categorias, constatamos uma expressão quantitativa contrária a ideias feitas sobre o seu desaparecimento ou significativa redução. A aferição do seu peso por profissão, enquanto trabalhadores por conta de outrém, leva à conclusão que em percentagem representam 43,8% dos trabalhadores assalariados. Mesmo numa visão restrita, a classe operária, fundamentalmente considerada como o conjunto dos trabalhadores assalariados em que é dominante o trabalho directamente produtivo, exercendo a sua actividade nas esferas económicas de produção material, mantém uma grande importância até no plano quantitativo. Mas as classes sociais não são categorias estatísticas. O peso e o significado daqueles trabalhadores devem ser avaliados pela sua intervenção na luta social e pelo seu decisivo papel na produção de riqueza do País.

Não obstante e apesar de todas as dificuldades e alterações objectivas e subjectivas, da sua complexidade e da velocidade a que se desenrolam, as questões centrais, problemas e objectivos do grande capital aí estão na ordem do dia, no plano nacional e mundial, visando sempre o agravamento da exploração.

A internacionalização das forças produtivas; a ocorrência de vastos excedentes de mão-de-obra criados pela aplicação capitalista das inovações tecnológicas em alguns sectores e pela especulação bolsista; a nova concentração do poder financeiro, a financeirização da economia; a transferência de capitais para países com mão-de-obra mais barata; os fluxos de capital em busca dos paraísos fiscais; as deslocalizações de empresas; a sistemática destruição de postos de trabalho para pressionar os trabalhadores à cedência e à concessão; a recuperação das formas mais arcaicas de exploração do trabalho humano, apontadas como exemplos de modernidade; a construção meticulosa de uma geração de trabalhadores jovens sem direitos, colocam redobradas exigências no desenvolvimento e ampliação das acções de massas, dão mais valor à luta como elemento fundamental que associado à experiência e ao confronto com a realidade da exploração capitalista pode contribuir para o desenvolvimento da consciência de classe e colocam com nova actualidade e validade o papel e natureza do PCP.

O PCP não é apenas mais um Partido. Surgiu como uma necessidade histórica de uma classe, é resistente e construtor, tendo como traço fundamental a sua natureza e identidade, um Partido da classe operária e de todos os trabalhadores. Esta característica distintiva do Partido tem consequências em todos os aspectos da sua intervenção, na sua actividade e organização.

O PCP, muitas vezes entendido tão só como tal, não é apenas o Partido que defende os interesses dos trabalhadores, uma entidade ou organização a quem se recorre em situações difíceis, mas o Partido dos trabalhadores que defende os seus interesses em toda a sua actividade, que tem como preocupação e pedra angular da sua razão de ser o seu esclarecimento, unidade, organização e luta, um Partido enraizado no seu seio e assumido como a sua genuína forma de organização política.

A classe operária e os trabalhadores na época em que vivemos continuam a precisar de um partido político capaz de assegurar uma intervenção autónoma, não lutando apenas contra a repartição da riqueza no quadro da sociedade capitalista, mas fazendo-o com vista à supressão da própria exploração capitalista.


IV
O Partido, a acção própria e as organizações unitárias

O reforço da organização e intervenção do Partido é actualmente das tarefas mais difíceis e complexas, mas simultaneamente mais realizadoras. Criar as condições e tomar iniciativa e medidas a nível de empresas e de locais de trabalho para reforçar a influência e a organização do Partido junto da classe operária e dos trabalhadores é um elemento chave para resistir às dificuldades, irradiar influência, promover a renovação de forças.

Num quadro em que se agudiza a luta de classes e a ofensiva ideológica, apesar dos tremendos obstáculos que se colocam à acção, intervenção e organização do Partido, a empresa e os locais de trabalho, são o local estratégico para que o Partido seja mais forte e influente.

A função ideológica na conversão da consciência social em consciência política tem sempre como ponto de partida, a ligação dos problemas concretos e quotidianos que os trabalhadores sentem e sofrem, face às decisões políticas e à sua identificação com as decisões e interesses do patronato.

O conteúdo da acção partidária e a iniciativa própria das células, muitas vezes “delegada” no movimento sindical e nas comissões de trabalhadores, onde são predominantes e determinantes os militantes comunistas, exigem uma concepção de organização que não é “para ter ou para estar”, mas antes para agir e intervir, para dinamizar a luta dos trabalhadores, fazendo política e assim combater a ideia, de que a política só pode ser feita por uma elite de escolhidos e eleitos nas instituições.

As células e organismos, agindo e tomando posição em conformidade com a linha geral do Partido, são actualmente confrontadas com dificuldades para integrar no trabalho e estabelecer laços de solidariedade e combate entre os trabalhadores com contratos estáveis, os trabalhadores jovens, os trabalhadores precarizados, os trabalhadores de empresas sub-contratadas que ali prestam serviço. No quadro das linhas de orientação geral do Partido, a organização do Partido nas empresas deve ter uma clara compreensão do critério de classe das intervenções dos comunistas como práticas de integração política e sindical, dando tratamento específico e por vezes direccionado, dando combate ao “dualismo” existente nas empresas e criar condições para a convergência e unidade dos trabalhadores, sejam precários sejam efectivos, sejam imigrantes.

A actividade dos comunistas nas empresas e locais de trabalho não se limita à que é desenvolvida pelas células e organismos do Partido. Os comunistas são os grandes dinamizadores das formas unitárias de organização, designadamente dos sindicatos e comissões de trabalhadores. Em resultado de factores objectivos anteriormente referidos a que se seguiu o enfraquecimento e destruição das organizações de base, a acção dos comunistas, dirigentes sindicais de empresa e membros de comissões de trabalhadores é, no momento actual, em muitos casos, a principal ligação directa com os trabalhadores.

Por decisão própria e voluntária dos trabalhadores, os comunistas desempenham um insubstituível e importantíssimo papel na força, influência e actividade do movimento, das CTs, na representação dos trabalhadores nas Comissões de Higiene, Segurança e Saúde, dos Sindicatos, Uniões, Federações e da CGTP-IN.

Os membros do Partido que participam em organizações e movimentos de massas devem actuar, segundo as orientações do Partido, na defesa dos interesses dos associados e das massas, respeitando, defendendo e observando a autonomia, o carácter unitário e a vida democrática das organizações e movimentos, não podendo no entanto ser confundidos organizações e organismos unitários com organizações e organismos partidários.

A actividade dos membros do Partido nas estruturas sindicais e nas comissões de trabalhadores não é substitutiva da organização partidária nas empresas e locais de trabalho, organização cujo reforço necessita da sua contribuição militante.

Cabendo à célula ou organismo do Partido a responsabilidade da acção e da intervenção política na empresa ou locais de trabalho, os comunistas que integram as organizações unitárias não podem dissociar do trabalho unitário a sua condição de comunistas, o grau mais elevado da sua consciência política, a sua responsabilidade militante para com o seu Partido e com o projecto mais avançado que aquele que comporta uma organização social.

Num quadro de grande pressão ideológica, de acusação de “partidarização dos sindicatos” ou “hegemonização partidária” os defensores do capitalismo o que pretendem é a redução, se não mesmo o afastamento, da influência dos comunistas no movimento sindical.

O que pretendem não é o reforço do movimento sindical e da CGTP-IN mas o seu enfraquecimento bem como do PCP e a capacidade de organização e luta dos trabalhadores.

As dificuldades, obstáculos, novos problemas, que o movimento sindical defronta não resultam da sua natureza e identidade de classe, da sua corajosa luta em defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores, do grau de influência dos comunistas. São resultantes das causas e efeitos da ofensiva capitalista, por políticas de direita dos sucessivos governos.

É no quadro de um duro combate ideológico, de resistência às pressões diversificadas sobre os quadros membros de Comissões de Trabalhadores e dirigentes sindicais, que as listas unitárias mantêm fortes posições nas CTs, que o movimento sindical unitário aumenta o número de sindicalizados, de eleitos para delegados sindicais, do grau de intervenção e luta nas empresas e sectores e do reforço do prestígio e influência da CGTP-IN.

Tal facto, sem subestimar a inestimável contribuição de trabalhadores e dirigentes sindicais de diversas confissões, diferentes opções político-partidárias ou sem Partido, deve-se em grande medida ao esforço, dedicação e contribuição de milhares de comunistas que concretizando as orientações do projecto sindical do PCP se expressa no grande colectivo do movimento sindical unitário consubstanciado na CGTP-IN.


V
“Sim, é possível! Um PCP mais forte”

Na Conferência Nacional do Partido, realizada em Novembro de 1994, sob o lema “Renovar e reforçar a organização e intervenção do Partido no seio dos trabalhadores”, nos XV e XVI Congressos, em Encontros nacionais, regionais e sectoriais, em várias Resoluções do Comité Central e, mais recentemente na Conferência Nacional do Partido realizada em 22 de Junho, é feita a análise e a caracterização da situação e da sua evolução, são apontadas orientações e medidas que, sem voluntarismos nem conformismos, se sustentam numa ideia forte: na acção geral do Partido e no trabalho para o seu maior enraizamento na classe operária e nos trabalhadores, dificuldade não significa impossibilidade.

O XVI Congresso foi particularmente claro a destacar a importância deste trabalho. Na sua Resolução Política inscreveu o propósito de:
“Lançar uma vasta acção para alterar o reduzido nível da organização partidária nas empresas e locais de trabalho e reforçar a organização e intervenção do Partido junto da classe operária e dos trabalhadores em geral.
Uma acção que envolve o prosseguimento e desenvolvimento de campanhas nacionais, regionais e sectoriais e outras formas de contacto com os trabalhadores (associando medidas organizativas, acção reivindicativa, propaganda e intervenção política), mas que tem como objectivo central construir e reforçar a organização e intervenção partidárias nas empresas e locais de trabalho (criar novas células e fortalecer as existentes, assegurar a presença do Partido nem que seja apenas com um militante.”

O Comité Central na sua reunião de 20 e 21 de Abril de 2001 apontou objectivos precisos para esta acção. Na Resolução “Reforçar a organização e intervenção no seio da classe operária e dos trabalhadores”, então aprovada, refere:
“O XVI Congresso definiu como prioridade e objectivo nacional a existência de trabalho organizado do Partido, nas empresas e locais de trabalho com mais de mil trabalhadores e/ou de importância estratégia, a par de outros objectivos sectoriais e regionais de enraízamento do Partido.
Isto significa assumir que, independentemente da dinâmica existente em cada uma destas unidades, é objectivo da organização regional respectiva e do Partido em geral assegurar a existência de trabalho organizado nessas empresas, locais de trabalho (designadamente locais de trabalho da Administração Pública Central como hospitais e universidades e das câmaras municipais) ou zonas industriais constituídas por unidades empresariais de diversa dimensão.
Isto significa que o Partido assume o objectivo no quadro das suas organizações de ter uma estrutura de organizações de base de maior ou menor dimensão em todas as empresas, locais de trabalho ou zonas industriais referidas, que garantam aí o trabalho organizado do Partido.
Trata-se de uma estrutura de organizações de base para o trabalho com os respectivos trabalhadores e para o trabalho geral do Partido e não de uma frente de trabalho.
O reforço efectivo da organização do Partido exige a adopção de medidas urgentes, um verdadeiro plano de trabalho em cada região que com o acompanhamento, apoio e estímulo das estruturas centrais do Partido, defina prioridades e sobretudo formas e meios para a sua concretização.”

Esta é uma das linhas de trabalho mais importantes da acção do Partido. Defrontando uma situação que colocou múltiplas exigências à intervenção partidária, decorrentes da realização de duas eleições nacionais e da intensificação da campanha contra o Partido, há passos importantes dados na concretização das orientações aprovadas, com desigualdades, mas há sobretudo um grande caminho ainda a percorrer no fortalecimento da organização e intervenção do Partido nas empresas e locais de trabalho.

Avançou-se agindo de acordo com uma concepção integrada, ligando o fortalecimento da organização, ao reforço da intervenção, da iniciativa política e da acção de massas.

O PCP organizou, apoiou e dinamizou a luta de massas, avançou com campanhas próprias de informação e esclarecimento aos trabalhadores, articulando o movimento social de luta com uma pronta, valiosa e diversificada intervenção nas várias instituições onde participam eleitos comunistas, designadamente na Assembleia da República, no Parlamento Europeu, nas Assembleias Legislativas Regionais e nas Autarquias Locais.

Foi desenvolvida a campanha 100 000 assinaturas por melhores salários e qualidade de vida, em que foram recolhidas mais de 191 000 assinaturas, o maior abaixo-assinado de sempre, que contribuiu para denunciar os baixos salários e as baixas pensões de reforma que lhe estão associadas como um grande problema nacional, factor de injustiça social e de condicionamento do desenvolvimento do País.

As lutas dos trabalhadores, se no plano unitário e sindical tiveram sempre a generosa e combativa participação e empenho de muitos milhares de membros do Partido dirigentes sindicais, delegados sindicais e membros de comissões de trabalhadores, tiveram um suporte político e legislativo por iniciativa dos eleitos do PCP na Assembleia da República e no Parlamento Europeu que permitiram, em várias situações, importantes vitórias políticas e recuos da política de direita, como foram exemplo a melhoria do regime dos contratos a prazo, a iniciativa na denúncia da sinistralidade no trabalho, as propostas de desagravamento fiscal sobre os rendimentos do trabalho.

No plano da organização procedeu-se ao levantamento das empresas e locais de trabalho com mais de 1 000 trabalhadores e/ou de importância estratégica e no seguimento desse levantamento fixou-se o conjunto de empresas e locais de trabalho prioritários para a intervenção do Partido (381, dos quais 211 com membros do Partido). Avançou-se na criação de comissões, organismos de coordenação ou de direcção para este trabalho. Definiram-se responsáveis pela coordenação nacional do Sector automóvel e das indústrias eléctricas e electrónicas, do Sector da construção, mármores e madeiras e do Sector da portaria e vigilância. O recrutamento, concretizando a campanha decidida de 2000 novos militantes, que terminou em Maio de 2002, foi bem sucedido. Aderiram ao Partido nesse período cerca de 2 400 novos membros, mais de 40% dos quais com menos de 30 anos. Recrutaram-se membros do Partido que abrangem um universo de mais de 700 empresas e locais de trabalho. Deram-se passos para aprofundar o conhecimento da realidade social, das suas alterações e das empresas e locais de trabalho.

As medidas de quadros, de responsabilização directa por empresas e locais de trabalho prioritários, de envolvimento de todo o Partido nesta grande direcção do trabalho partidário, do conteúdo e nível de intervenção, dos meios permanentes de propaganda, tendo conhecido desenvolvimentos positivos necessitam contudo de uma atenção redobrada.

No seguimento das orientações aprovadas e integrando o movimento geral de reforço partidário “Sim, é possível! Um PCP mais forte”, apontam-se as seguintes linhas de orientação e medidas para o reforço da acção e organização do PCP nas empresas e locais de trabalho:

1 – A acção do Partido deve dirigir-se a todos os trabalhadores e isso exige formas de intervenção e organização muito diferenciadas, tendo em consideração a valiosa experiência partidária. Isso implica considerar e desenvolver a experiência da organização e agregação de membros do Partido por sectores profissionais, de empresas ou de zonas industriais (uma grande parte dos trabalhadores portugueses laboram em empresas e locais de trabalho com menos de 100 trabalhadores em que o número de membros do Partido por empresa torna em geral difícil a organização da célula apenas na base de uma empresa ou local de trabalho). Estes sectores que constituem elementos indispensáveis ao funcionamento colectivo, à participação dos militantes e à sua agregação, não devem limitar-se a ser um espaço de encontro dos comunistas, sendo indispensável que prossiga sempre o objectivo de estimular e assegurar a intervenção partidária junto dos trabalhadores respectivos, nas empresas e locais de trabalho.

2 – O trabalho do Partido é dirigido a todos os trabalhadores, no entanto, há empresas, locais de trabalho e zonas industriais que pela sua dimensão e/ou importância justificam medidas especiais. A existência de uma definição clara das empresas e locais de trabalho prioritários em cada região é de grande importância para se poder avançar, o que exige a actualização do levantamento das empresas e locais de trabalho com mais de 1 000 trabalhadores e/ou de importância estratégica, bem como zonas industriais e outras concentrações de trabalhadores. Prioridades que devem abranger também as unidades existentes em cada distrito de empresas nacionais (caso dos CTT, da EDP, da Petrogal, dos bancos, das grandes superfícies comerciais, etc.) e locais de trabalho da Administração Pública Central e Local (caso do Ensino, Saúde, Segurança Social e Autarquias).

3 – A concretização de medidas de direcção e quadros é fundamental para fazer progredir este trabalho. Nesse sentido, é necessário:

- a definição de um núcleo de quadros, designadamente funcionários do Partido, em alguns casos com a concretização de uma linha central de apoio, que deverão ter em exclusivo tarefas ligadas ao acompanhamento e desenvolvimento do trabalho do Partido nas empresas e locais de trabalho;
- o destacamento de um quadro do Partido que tenha como responsabilidade principal, em muitos casos exclusiva, o trabalho de cada empresa e local de trabalho prioritário, com condições para acompanhar esse trabalho (tenha ou não tenha essa empresa neste momento membros do Partido conhecidos), bem como, de acordo com a realidade concreta de cada distrito a responsabilização de camaradas pelo acompanhamento dos sectores que têm coordenação no plano nacional e por outros que a realidade regional justifique;
- a criação em cada Direcção de Organização Regional onde ainda não exista de uma comissão, organismo de coordenação ou de direcção, que não se dilua no acompanhamento do trabalho sindical e tenha a responsabilidade de acompanhar e dirigir a concretização de medidas do plano de acção regional estabelecido.

4 – Além de medidas específicas, a consideração deste objectivo exige que seja assumido como uma preocupação de todo o Partido, a começar pelas organizações concelhias e de freguesia, o que implica, entre outros aspectos:

- a atenção dos organismos dirigentes das ORs e das Comissões Concelhias à organização, aos problemas e à luta dos trabalhadores e à tomada de posição sobre essas situações e sua divulgação junto dos trabalhadores;
- o levantamento e actualização dos locais de trabalho dos membros do Partido e da sua disponibilidade para dar uma colaboração na sua empresa independentemente do sitio onde estão organizados, devendo aproveitar-se para este efeito a acção de esclarecimento geral da situação dos membros do Partido apontada pela recente Conferência Nacional do Partido;
- o levantamento de nomes de trabalhadores ainda não membros do Partido, nomeadamente jovens e mulheres, que estejam disponíveis para este trabalho (familiares, amigos, conhecidos).
- o trabalho conjunto com a JCP e o levantamento de contactos que tem para a acção e organização das empresas e locais de trabalho.

5 – O recrutamento de novos militantes e a sua integração é uma questão decisiva para o inicio do trabalho partidário em muitas empresas e locais de trabalho, para a criação de novas células e para o rejuvenescimento da organização em vários sectores e empresas, e constitui um elemento vital para assegurar o futuro da organização partidária e o reforço da sua intervenção. No âmbito da campanha de 2 000 novos militantes integrada no movimento geral de reforço partidário “Sim, é possível! Um PCP mais forte” a alcançar até à Festa do «Avante!» do próximo ano, é necessário proceder ao levantamento geral de nomes de trabalhadores, em particular jovens, a contactar para a adesão ao Partido. Papel particularmente importante têm os militantes do Partido que são dirigentes, activistas sindicais ou membros de CTs, no levantamento de trabalhadores dirigentes sindicais, membros de CTs, de Comissões Sindicais, de Comissões de Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho que se destacam e nos contactos para a sua adesão ao Partido.

6 – O trabalho de enraizamento do Partido nos trabalhadores beneficiará dos levantamentos que permitirão localizar membros do Partido que não são conhecidos, no entanto o objectivo de assegurar trabalho organizado no universo das empresas considerado, pelo facto de não haver militantes em muitas delas, vai exigir o prosseguimento de contactos à porta das empresas e, particularmente, um trabalho partidário com trabalhadores que não são membros do Partido (ou que ainda o não são mas podem vir a sê-lo). Mesmo em locais em que já há membros do Partido é preciso ver a forma de alargar a intervenção e a influência partidária com iniciativas e trabalho que envolvam trabalhadores não membros do Partido. Isso além da compreensão que é necessário vincar que o Partido se dirige a todos os trabalhadores de uma dada empresa ou local de trabalho e que a célula ou os membros do Partido aí existentes são o instrumento essencial desse trabalho junto de todos os trabalhadores.

7 – A intervenção do Partido, o conteúdo da acção concreta é o elemento essencial de aferição da organização e do trabalho que estamos a realizar. A organização é fundamental, mas tem que estar sempre ligada à intervenção. O plano de trabalho que se propõe levar à prática é um plano de intervenção política que articule o trabalho de reforço da organização, com a elevação da consciência de classe, da organização, da luta dos trabalhadores pela defesa dos seus interesses e da sua participação nas batalhas políticas gerais. O conteúdo da acção do Partido, o contacto com trabalhadores que ainda não são militantes ou com um membro do Partido isolado numa empresa, a necessária iniciativa de cada membro do Partido, a acção de uma célula mais ou menos numerosa, têm que estar impregnados desta concepção de trabalho.

É preciso ter no centro das atenções o conhecimento da realidade em cada empresa ou local de trabalho (forte componente feminina, de jovens e de imigrantes) e das aspirações dos trabalhadores, formular as reivindicações e as acções a desenvolver para a sua satisfação. É preciso tomar as medidas adequadas para fortalecer a organização do Partido e a unidade dos trabalhadores, associando o trabalho de organização à iniciativa política do Partido. É necessário conhecer e acompanhar a situação económica e financeira das empresas, alertar para os problemas existentes, contribuir para a definição de soluções, articulando este trabalho com a iniciativa do Partido nas instituições (AR, PE, Assembleias Legislativas Regionais e Autarquias Locais). É necessário promover a emissão regular de informação aos trabalhadores sobre a realidade com que estes se confrontam, as posições políticas, a actividade geral do Partido e a afirmação dos ideais e projecto do PCP.

8 – Neste sentido, é indispensável um esforço continuado de difusão da imprensa do Partido — «Avante!» e «O Militante» —, instrumento imprescindível no trabalho organizativo de esclarecimento e de mobilização dos militantes e dos trabalhadores.

9 – O desenvolvimento deste trabalho implica o prosseguimento das acções nacionais do Partido e ao mesmo tempo o reforço dos meios para uma acção de propaganda permanente e no apoio ás organizações prioritárias com menos possibilidades.

10 – O êxito da linha de reforço da acção e organização do Partido nas empresas e locais de trabalho, exige um acompanhamento central do Partido que passa pela consolidação e dinamização da coordenação de sectores e empresas no plano nacional, pela realização de reuniões com os responsáveis pelo trabalho do Partido em empresas e locais de trabalho e membros de secretariados de célula ou de organismos sectoriais, profissionais ou de empresa e pelo estabelecimento de iniciativas de apoio ao seu trabalho.


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O reforço da influência do Partido junto da classe operária e dos trabalhadores, da sua acção e organização nas empresas e locais de trabalho, questão essencial para o fortalecimento da organização, unidade e luta dos trabalhadores, para o fortalecimento geral do Partido e para a intensificação da luta contra a exploração capitalista, por uma nova sociedade, é um grande objectivo que se coloca. Com a participação e empenho dos militantes e das organizações partidárias, sempre com os trabalhadores, intensificando a intervenção e a iniciativa, promovendo a adesão de novos membros, numa acção convicta, determinada e persistente é possível um PCP mais forte nas empresas e locais de trabalho.