Debate de urgência sobre o emprego
Intervenção de Bruno Dias
28 de Maio de 2004

 

Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhor Ministro,

Quem ouve o discurso do Governo fica com a ideia de que os senhores contemplam o país com um espelho à vossa frente. O Senhor Ministro verá alguma coisa, mas não fala concerteza da realidade concreta.

O Governo e a maioria falam de diminuição do desemprego, com esse número de menos 1,9% de desempregados de um mês para outro. E até podemos não discutir o carácter sazonal dessas variações (reconhecido pelo próprio IEFP), quase sempre de emprego incerto e temporário.

Mas experimente afastar esse espelho da sua frente. Porque se o fizer, concluirá que onde agora vê uma diminuição de 1,9 passa a ver um aumento de 9,1! É esse o valor da subida do desemprego, face ao mês correspondente em 2003: 9,1%.

E aqui, a verdade é que o desemprego de longa duração continua a destacar-se, e a alastrar o flagelo de homens e mulheres que ainda não têm idade para a reforma e já não têm idade para começar de novo, na procura de emprego.

Mas também não é menos verdade que é no seio da juventude trabalhadora que este drama assume contornos mais revoltantes.

Não só para os que procuram o primeiro emprego e continuam a encontrar as portas fechadas – mas também para os muitos jovens que são lançados no desemprego, porque vêem destruído o seu posto de trabalho.

Vá ao distrito de Setúbal, Senhor Ministro, vá a Alhos Vedros. Veja comunidades inteiras confrontadas com o desespero e a falta de perspectivas. E diga-lhes o que este Governo tem para lhes dar, a não ser mais precariedade e instabilidade laboral.

É que o problema, Senhor Ministro, não se resolve com a caridade. O problema está no modelo social e económico que os senhores insistem em aprofundar.

O problema está nesta opção de classe que o Governo assume, em criar deliberadamente uma geração sem direitos, acorrentada pela exploração e a precariedade. Sujeita a esta constante e impune prática de violação dos contratos colectivos de trabalho.

Basta perceber a principal causa para o desemprego, destacada pelo próprio IEFP: «fim de trabalho não permanente». Então não se está mesmo a ver, Senhor Ministro?!

Ora aí está o resultado da vossa “flexibilidade” – está nos jovens licenciados que são colocados nas caixas de supermercado. Nos jovens operários que são colocados na rua. Nos jornalistas que trabalham de borla. Nos jovens professores que não são colocados. Nos mais de 14% de aumento de desempregados licenciados.

Costuma-se dizer que «quem semeia ventos, colhe tempestades». O que foi há anos semeado com a privatização da Sorefame foi essa colheita de desemprego para milhares de trabalhadores. A empresa parou de vez esta semana – na mesma semana em que o Governo decide aplicar a mesma receita para as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico.

Senhor Ministro, de tudo o que foi dito e feito, diga-nos se for capaz (a nós e aos jovens trabalhadores das OGMA) se quer mesmo que a História se repita.

E escusa de dizer que os postos de trabalho estão todos assegurados – porque o mesmo já diziam os que privatizaram a Sorefame…