Programa especial de combate às listas
de espera
(Serviço Nacional de Saúde)
Intervenção do deputado Bernardino Soares
24 de Junho de 1998
Senhor Presidente,
Senhores Deputados:
As listas de espera para atendimento no Serviço Nacional de Saúde são hoje provavelmente
o mais grave problema de acesso à saúde no nosso País.
É um problema que foi sucessivamente ignorado pelos Governos do PSD e que o
PS não alterou significativamente. São por isso aos milhares os cidadãos deste
País que são impedidos de aceder ao tratamento, mesmo quando há capacidade instalada
para isso.
O PCP bate-se desde a primeira hora pela resolução do problema. Tomamos diversas
posições nesta Assembleia e fora dela no sentido da resolução urgente deste
problema. A nossa proposta reivindica, aliás, um plano de emergência para esta
matéria, tal é a gravidade da situação e, presença.
Neste debate é preciso fazer uma pergunta: porque é que há listas de espera
nos nossos serviços de saúde?
E uma das grandes razões para que haja listas de espera é o crónico sub-financiamento
do serviço nacional de saúde. A política de restrição orçamental na área da
saúde foi sempre uma orientação do PSD e é também a do Partido Socialista.
A falta de recursos financeiros paga-se caro; paga-se com a saúde dos portugueses,
que são quem suporta a falta ou a degradação de instalações e de equipamentos.
Esta é uma causa directa da existência de listas de espera, da responsabilidade
do PS e do PSD mesmo que tentem hoje aqui fazer de conta que nada têm a ver
com isso.
Mas as listas de espera que hoje existem resultam igualmente da promiscuidade
entre a prestação pública e a privada de cuidados de saúde, através das convenções.
Resultam de uma política de há muitos anos submetida a interesses instalados.
Não está em causa obviamente a legitimidade de existir iniciativa privada em
saúde. Mas a verdade é que se permitiu, e até incentivou, a baixa de produtividade
do SNS, fazendo de conta que os serviços públicos tinham as suas capacidades
esgotadas. Assim se desviaram para os privados importantes recursos do SNS.
Portanto a solução apresentada pelo PSD para fazer face às listas de espera
existentes encerra em si uma contradição que é a de afirmar que a resolução
do problema passa pelo agravamento de uma das suas causas.
É que a proposta do PSD não está preparada para uma boa gestão dos dinheiros
públicos; antes aponta para uma privatização indirecta dando prioridade à contratualização
com o privado.
Eis a grande diferença entre as propostas do PCP e as do PSD. No PCP, combatemos
as listas de espera através de um justo financiamento do SNS, do aproveitamento
da capacidade instalada, do alargamento do horário de funcionamento das consultas
externas, dos blocos cirúrgicos e dos meios complementares de diagnóstico.
Já o PSD, o que faz é abrir novamente a porta, como sempre fez durante 16 anos
em que deteve a pasta da saúde, às soluções privadas, nem sequer com carácter
de complementaridade e já como primeira solução.
Como se as deficiências do Serviço Nacional de Saúde se resolvessem com o desaproveitamento
das suas capacidades e com a transferência de fundos para o sector privado.
Estamos portanto completamente de acordo com a intenção de combater as listas
de espera.
Mas o verdadeiro e eficaz combate às listas de espera só se fará com a valorização
e a defesa do SNS e com o aproveitamento pleno e prioritário da capacidade instalada.
Este combate não se faz torpedeando o SNS e os seus recursos, nem instituindo
comissões de avaliação que retiram do controlo dos serviços públicos a gestão
dos seus próprios recursos.
Esta é uma matéria que pela sua gravidade e importância não devia ser abordada
com a demagogia populista com que o PSD a apresentou.
Pelo PCP estamos prontos para discutir e intervir na resolução do problema das
listas de espera, mas com bases sérias e de verdadeira defesa do Serviço Nacional
de Saúde e dos seus recursos.