Falecimento de Francisco Lucas Pires
   Intervenção do deputado João Amaral
  28 de Maio de 1998
Senhor Presidente,
  Senhores Deputados:
  
  Em nome do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, tomo a palavra 
  para manifestar o nosso grande pesar pelo falecimento de Francisco Lucas Pires, 
  e igualmente endereçar à família enlutada as nossas sentidas condolências. À 
  Direcção do PSD, partido a que pertencia, apresentamos também a expressão do 
  nosso pesar.
  
  Nas intervenções que em nome do PSD e do CDS/PP aqui foram produzidas, ouvimos 
  a evocação das qualidades públicas de Francisco Lucas Pires. As suas qualidades 
  como homem da política, mas também as suas qualidades como cientista do Direito 
  e como Professor Universitário.
  
  Dos muitos amigos que fez ao longo da sua vida ouvimos a evocação das suas qualidades 
  pessoais, em todos os campos em que a vida de um homem se projecta. Permito-me 
  relevar neste momento doloroso as suas qualidades como pai atento e empenhado.
  
  O enorme capital de experiência e dedicação à vida política e à ciência política 
  que acumulou foi ceifado brutalmente, de forma inesperada e injusta, por uma 
  morte que levou consigo as certezas e as esperanças que companheiros e amigos 
  nele tinham.
  
  Sentimos todos a profunda sinceridade que transparece das palavras dos seus 
  amigos e companheiros. E essa é a homenagem maior que pode ser prestada neste 
  momento e que mostra que Francisco Lucas Pires deixa um lugar insubstituível.
  
  Francisco Lucas Pires foi um cidadão do seu tempo, um tempo de controvérsia 
  e luta, que ele assumiu desde muito jovem. Cumpriu o seu dever de cidadão, escolheu 
  o seu campo, e serviu-o com dignidade e competência. Ocupou altos lugares no 
  Estado, no Governo, na Assembleia da República, no Parlamento Europeu, e também 
  altos cargos partidários, e em todas as situações deixou uma marca pessoal inconfundível, 
  uma marca de seriedade e qualidade.
  
  Dizer que muitas coisas nos dividiam é absolutamente inútil e redundante. Lucas 
  Pires foi um cidadão do seu tempo, de corpo inteiro, e por isso mesmo teve companheiros 
  e teve adversários. É assim que deve ser, é por isso também que neste momento 
  a Assembleia da República o homenageia.
  
  Francisco Lucas Pires assumiu a vida política com o sentido de um percurso colectivo, 
  grupal , mas a que ele quis juntar a sua vivência pessoal. Pertence aos que 
  aderem à política por exigência ideológica; aos que nela intervêm para afirmar 
  conteúdos e modelos, aos que não se fixam no que está adquirido e querem questionar 
  o futuro.
  
  Escolheu o seu próprio percurso, um percurso certamente controverso, como deve 
  ser toda a política. Fê-lo com a consciência de que a política, os orgãos de 
  poder, os partidos, os grupos, são feitos e constituídos por homens, por homens 
  livres, que assumem, devem assumir, o encargo de juntarem as suas próprias convicções 
  e forças, a sua própria maneira de estar e pensar, a uma causa comum.
  
  Francisco Lucas Pires viveu o seu último dia numa corrida, entre as exigências 
  da política e da vida universitária. Uma corrida contra o tempo, que nos impusemos 
  todos, uns aos outros.
  
  Este é um momento de reflexão. Sobre o homem, que serviu a vida pública com 
  as suas próprias convicções. Uma reflexão também sobre a política e a forma 
  exigente como é feita.
  
  Mais uma vez, a terminar, o nosso pesar, as nossas condolências, ao PSD, aos 
  amigos de Francisco Lucas Pires, muito especialmente à família enlutada.