Intervenção do Deputado
Carlos Carvalhas

Debate mensal do Primeiro Ministro
com a Assembleia da República

27 de Abril de 2001

Senhor Presidente
Senhores Deputados
Senhor Primeiro Ministro

O Governo está sem fôlego, sem objectivos, anda ao sabor dos lobbys.

O Governo não tem rumo e não enfrenta interesses instalados.

Em vez de ir ao encontro das expectativas das pessoas persegue os temas que fazem parte da agenda mediática ...

Não fique crispado Senhor Primeiro Ministro, pois isto foi afirmado por respeitados dirigentes socialistas. Um Deputado até diz que o Ministro das Finanças é o coveiro da nova maioria. Aliás como sabe, também um seu Ministro ainda há dias, afirmava após cinco anos e meio de Governo PS que o que passava na saúde era uma vergonha!. E outro ex-membro do seu Governo hoje sentado nestas bancadas já vaticinou que se continuar assim, acabam todos no Largo do Rato, ou seja na oposição.

O Governo está de facto desacreditado mas é pela política do compadrio, pela incompetência e não defesa do interesse público e nacional, como o exemplificam os casos da TAP, da GALP e da ponte de Entre Rios, pela política de falsidades como atesta os sucessivos anúncios de obras públicas ou traçados do TGV, por não dar resposta aos problemas da saúde, do ensino e da segurança, por continuar com a fúria privatizadora e com a política de concentração de riqueza.
Por não dar resposta aos problemas da insegurança.
Agora perante os sinais de crise económica e o elevado défice comercial o Governo quer apertar ainda mais o cinto aos trabalhadores e aos reformados, quer passar-lhe a factura da sua nefasta política. É o caso da Admnistração Pública em que o Ministro das Finanças diz que gasta muito para o trabalho que é feito esquecendo-se que o Governo engordou com largos milhares de afilhados socialistas sem concurso e que a despesa também disparou nos institutos do Estado que se multiplicaram!.

Mas não só.

Tal como afirmámos na altura a projecção do Governo da taxa de inflação era uma ficção. O Governo sabia-o, mas apresentou-a deliberadamente para manipular os aumentos dos salários e das pensões e reformas.

O aumento geral de preços e sobretudo o aumento de certos bens e serviços essenciais têm vindo a corroer os salários e as pensões e reformas.

Muitos deles em termos reais já estão negativos.

Com uma inflação que tudo indica se aproximará dos 3,5% o aumento de salários que o Governo apontou como referência foi na prática um congelamento geral dos salários. E isto num País em que as taxas de lucro das actividades intermediárias e especulativas continuam em espiral, como se verificou também no caso da banca em que só três bancos, BCP, BES e BPI lucraram 177 milhões!

O que pensa fazer o Governo para compensar a perda de poder de compra das baixas reformas e dos baixos salários ? É necessária uma reactualização das pensões e reformas mais degradadas e dos vencimentos mais sacrificados. Por isso pergunto-lhe vai mesmo tomar medidas ou vai continuar com a retórica de que o Governo governa com uma grande consciência social, de que a economia portuguesa não pode assentar nos baixos salários etc,etc ou vai mesmo inverter a sua política.?

Ou vai continuar a atirar as culpas para a falta de profissionalismo dos portugueses que tanto no País como no estrangeiro já demonstraram que são tão bons como os melhores quando lhe dão as condições necessárias? Os portugueses não são os culpados por o PIB não convergir com a média europeia, nem pelo défice da balança comercial, nem pela política de acentuação das desigualdades e crescente dependência do estrangeiro.

Os portugueses não estão preocupados se no PS "Roma não paga a traidores", se os servidores de Roma etc., etc., se César deve ter cuidado" ...
Os portugueses querem é respostas concretas aos seus problemas mais prementes.

Disse.